Conhecendo os parasitas

Alunas desenvolvem jogo para auxiliar no conhecimento sobre doenças parasitológicas
Maria Clara Coelho Coutinho e Thalita Goecking Ruas, estudantes no Curso de Medicina da PUC Minas Betim, criaram o jogo Perfil Parasitológico | Foto: Raphael Calixto
Maria Clara Coelho Coutinho e Thalita Goecking Ruas, estudantes no Curso de Medicina da PUC Minas Betim, criaram o jogo Perfil Parasitológico | Foto: Raphael Calixto

Cartas coloridas que contêm, cada uma, dicas sobre determinado assunto: ganha quem primeiro descobrir do que se trata. Lembrou-se de um conhecido jogo de tabuleiro, não é? Mas, na verdade, estamos falando do Perfil Parasitológico, jogo desenvolvido por duas alunas do 11º período do Curso de Medicina da PUC Minas Betim, sob supervisão da professora Janaína Alvarenga, como parte de um projeto de iniciação científica.

De acordo com a professora, a ideia para criação do jogo surgiu a partir da necessidade apresentada por uma escola de Betim localizada em área endêmica para esquistossomose na cidade. “Nós precisávamos trabalhar com as crianças as principais medidas para evitar a contaminação pelo Schistosoma mansoni, então decidimos fazer de forma lúdica, para fugir do ensino tradicional”, conta a professora Janaína.

O projeto integra as pesquisas financiadas pelo Programa de Bolsa de Iniciação Científica da PUC Minas, o Probic, e contou com a participação das alunas Maria Clara Coelho Coutinho e Thalita Goecking Ruas, ambas estudantes no Curso de Medicina da PUC Minas Betim. Juntas, as alunas criaram e desenvolveram o projeto de pesquisa, que pretendia analisar o uso de jogos didáticos como ferramenta de ensino de doenças parasitárias.

“Os alunos demonstram muito interesse quando a didática foge da aula convencional, daquilo a que eles já estão acostumados. Eles participam e interagem de uma forma muito positiva, o que nos permite concluir que o jogo pode ser visto como uma excelente estratégia de ensino e aprendizagem”, analisa a professora.

Durante os meses de fevereiro de 2019 a março de 2020, o projeto foi aplicado a 10 turmas do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Frei Edgard Groot, localizada no bairro Citrolândia, em Betim. Ao todo, 253 alunos com idade entre nove e 10 anos participaram da pesquisa, que aconteceu entre os meses de março de 2019 a março de 2020.

Como o jogo funciona

Inspirado no conhecido jogo Perfil, o Perfil Parasitológico dispunha de 36 cartas contendo 10 dicas cada uma | Foto: Raphael Calixto

O projeto foi dividido em três etapas: em um primeiro momento, as alunas visitaram as turmas participantes e aplicaram um pré-teste com questões relacionadas a doenças parasitárias aos alunos participantes, a fim de mensurar o nível de conhecimento dos alunos naquele assunto. Com os resultados em mãos, elas então ministraram uma aula com a temática das doenças parasitárias aos participantes, a fim de garantir a nivelação do conhecimento de todos os envolvidos.

Na segunda etapa do projeto, as turmas foram divididas em pequenas equipes e o jogo foi aplicado. Inspirado no conhecido jogo Perfil, o Perfil Parasitológico dispunha de 36 cartas contendo 10 dicas cada uma. As cartas foram divididas por cor, sendo que cada cor representava um tema relacionado a doenças parasitárias: as cartas laranjas eram sobre os helmintos, as amarelas sobre os protozoários, as verdes sobre as formas de contaminação e as azuis sobre formas de prevenção. O objetivo do jogo é a equipe chegar até o final do tabuleiro e acertar o maior número de cartas possível.

“As crianças foram muito participativas, mais do que imaginamos. Elas gostaram muito, porque o jogo era colorido e dinâmico, com várias figuras, então chamava a atenção delas”, comenta a estudante de Medicina Maria Clara Coutinho.

“E como era uma competição, eles estavam prestando muita atenção em tudo o que dizíamos. Eles queriam ganhar, mas isso também instigou o aprendizado das crianças sobre o tema, e acabou gerando uma competitividade saudável: eles aprendem sem nem perceber”, conta a estudante Thalita Goecking.

Segundo a professora Rosa Corrêa, do Curso de Psicologia da PUC Minas Betim, o aprendizado por meio de jogos e atividades lúdicas permite uma troca de experiências, além de potencializar a função transformadora do saber.

“Para que a função de transformação aconteça é preciso modificar as relações de poder no espaço escolar e permitir que a criatividade possa fluir. A brincadeira e os jogos no contexto escolar podem potencializar esta função. Quando inserimos atividades lúdicas possibilitamos o brincar”, ela relata. “Além disso, quando jogamos estamos nos expressando, vivemos novas experiências e mantemos contato com o outro”, completa.

Além de fortalecer o processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno dentro do ambiente escolar, as atividades lúdicas permitem um maior envolvimento da criança: “Podemos dizer que este tipo de atividade no ensino pode tornar mais prazeroso e interessante o tempo que os alunos estão na escola, porque é uma atividade que faz parte do mundo das crianças e dos adolescentes”, explica a professora Rosa Corrêa.

E, de fato, a tática surtiu efeito. Durante a terceira e última etapa do projeto, as alunas retornaram à escola para aplicar um segundo teste, dessa vez para analisar os resultados da inciativa. Foi geral: todas as turmas apresentaram melhoras significativas no aprendizado e conhecimentos acerca de parasitoses.

“No primeiro questionário, por exemplo, nós tivemos resultados com zero acertos, e no segundo, ninguém zerou. Todos os questionários tiveram melhoras, nenhum deles apresentou uma queda”, conta Thalita Goecking.

Para a professora Giselle Souza Lamounier Campos, pedagoga da Escola Municipal Frei Edgard Groot que acompanhou a aplicação do projeto em duas turmas participantes, o resultado da ação foi muito positivo. De acordo com a professora, por conta da abordagem dinâmica da construção do conhecimento, foi possível perceber um interesse maior nos alunos, que puderam tirar suas dúvidas e, assim, assimilar com mais facilidade as doenças causadas por protozoários.

“O projeto foi muito bem executado, houve interação, aprendizagem e troca de experiências com os alunos, que ficaram eufóricos e curiosos. O jogo é uma proposta de atividade lúdica válida e positiva à apropriação do conhecimento, à criatividade e à socialização”, afirma a professora Giselle.

De acordo com a professora Janaína Alvarenga, orientadora do projeto, a ideia é que, em um futuro próximo, o Perfil Parasitológico seja também aplicado para outras escolas do município: “O projeto está apenas começando. Esse foi um piloto para ver como seria a adesão dos alunos e, como constatamos que o retorno foi positivo e que eles gostaram, a nossa ideia é ampliar”, conta.

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