Construções sustentáveis

Como a Arquitetura pode contribuir para a redução da crise climática?
Flávia Marinho, aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo | Foto: Nathália Farnetti

A crise climática já é uma realidade que espreita atrás da porta e não tem como fugir. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 3,6 bilhões de pessoas são atingidas pelo colapso ambiental. A mitigação de danos tem sido discutida em diversas áreas do conhecimento como Economia, Saúde e Educação, e no campo da Arquitetura não é diferente.

Segundo a ArchDaily, plataforma de Arquitetura do mundo, 36% de toda a energia global é utilizada para a construção e manutenção de edifícios e 8% do total de emissões de gases do efeito estufa resulta da produção do cimento. Foi a partir dessas informações que a aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo Flávia Marinho começou a estudar o cenário da construção civil e escreveu o artigo Crise climática mundial: como os edifícios que não adotam estratégias de sustentabilidade contribuem para esse obstáculo vigente. O artigo recebeu menção honrosa no 31° Seminário de Iniciação Científica, Tecnologia e Inovação, realizado pela Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação.

Por mais que a implementação de medidas ambientais nas construções seja essencial ao combate da crise climática e ainda proporcione mais conforto, surpreendentemente as estratégias sustentáveis não são aplicadas na maioria das edificações existentes. A Profa. Dra. Anna Christina Miana, orientadora da pesquisa e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo, aponta que existe a mentalidade que tais técnicas encarecem o projeto, sua execução e uso. “Porém, adequar uma construção ao clima local é uma estratégia sustentável, que inclui projetar a edificação para obter a melhor insolação, ventilação natural, iluminação natural e outras estratégias passivas, que não precisam de energia e não aumentam, necessariamente, o custo”, afirma. “Pelo contrário, projetos de edificações que levam em consideração as variáveis ambientais podem consumir menos recursos, como energia, água e materiais em todas as etapas, desde a concepção, construção e utilização. Como consequência, ocorre a redução de custos, tanto para empresas quanto para usuários, redução de impactos no planeta e da emissão de gases de efeito estufa, além do aumento do conforto ambiental e qualidade de vida”.

De acordo com o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), as pessoas passam cerca de 90% do seu dia dentro de edificações por motivos diversos como estudo, trabalho, moradia, entre outros. Por isso, o conforto ambiental está diretamente relacionado à qualidade de vida. A professora Anna Christina apontou que o termo conforto térmico, no campo da Arquitetura e Urbanismo, abrange as condições térmicas, acústicas, luminosas e energéticas e os fenômenos físicos a elas associados como um dos condicionantes da forma e da organização do espaço. “O conforto ambiental também melhora o bem-estar físico e emocional, a criatividade e a produtividade dos indivíduos”, explicou Flávia.

O estudo do local onde o prédio será construído e as estratégias bioclimáticas foram abordadas ao longo da pesquisa. De acordo com a discente, no Brasil, as medidas que mais devem ser utilizadas para garantir um baixo consumo de energia e o conforto ambiental são sombreamento e ventilação natural. “Mas também existem medidas tecnológicas como o uso de aparelho e lâmpadas eficientes, captação e reutilização de água, uso de materiais com baixa emissão de carbono, entre outras”, conta.

Um terceiro ponto positivo das estratégias ambientais é a participação direta para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU. A orientadora aponta que o ODS 13 (ação contra a mudança global do clima), abordado na pesquisa, está relacionado principalmente com a emissão de gás carbônico na atmosfera, que, entre outros fatores, é decorrente do consumo de energia das cidades. “Sabemos que a construção e utilização das edificações são responsáveis por grande parcela do consumo de energia do mundo, e que parte dos sistemas que mais consomem energia elétrica estão também relacionada com o acesso aos recursos naturais. Sendo assim, a adoção de estratégias bioclimáticas, desde sua concepção, execução e até o uso da edificação, é fundamental para minimizar o consumo de energia, além da produção de modelos de cidades mais eficientes energeticamente”, enfatiza.

Profa. Dra. Anna Christina Miana, orientadora da pesquisa e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo | Foto: Guilherme Simões

Impactos ambientais e sociais

Ao final da pesquisa, Flávia concluiu que o maior objetivo das estratégias sustentáveis na Arquitetura é reduzir as emissões de carbono tanto na construção quanto no uso das edificações, de modo que minimize o colapso ambiental e o consumo de recursos naturais.

“A crise climática afeta o cotidiano da sociedade. Impacta o meio ambiente, aumentando o nível do mar e desequilibrando fauna e flora, por exemplo, gerando temperaturas extremas, secas ou tempestades intensas, refletindo na produção de alimentos e energia, além do bem-estar da população”, enfatiza Flávia. “A mudança climática desestabiliza as sociedades”.

O que são os ODSs?

São 17 os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, firmados na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015, que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados pelas pessoas no mundo.

ODS nas construções sustentáveis:

ODS 7 – Energia limpa e acessível: Garantir o acesso a fontes de energia confiável, sustentáveis e modernas para todos.
ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis: Tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.
ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis.
ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima: Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos