Corredor de biodiversidade

Projeto que propõe rua com integração entre humanos e natureza é classificado em segundo lugar em concurso internacional
A equipe teve apenas 48 horas para a elaboração do projeto | Foto: Raphael Calixto
A equipe teve apenas 48 horas para a elaboração do projeto | Foto: Raphael Calixto

“Um projeto de uma rua que instigue a vida na cidade totalmente integrada ao meio ambiente, envolvendo a convivência de humanos, vegetações e outros animais”. Assim a aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo Sílvia Pinheiro Ramos define o projeto Edible Montreal: a biodiversity corridor at Avenue de l’Église (Montreal comestível: um corredor de biodiversidade na Avenue de l’Église), desenvolvido por alunos e professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da Unidade Praça da Liberdade e de Ciências Biológicas do Campus Coração Eucarístico. O projeto foi classificado em segundo lugar no concurso internacional Street Design Challenge – Biophilic Edition, organizado pela Unesco.

Os projetos participantes deveriam propor o remodelamento de uma rua, por meio de conceitos biofílicos de design, integrando o ser humano à natureza, junto do espaço cotidiano e urbano. O intuito é gerar conexões e experiências que possibilitem integrar soluções de espaços saudáveis à cidade, viabilizando um modo de viver mais consciente. Nesta visão, a conexão estabelecida seria uma forma de reduzir problemas de saúde e promover a melhoria na vida e no bem-estar de modo geral.

Cada equipe participante recebeu um desafio. A equipe da PUC Minas criou uma proposta de requalificação de uma rua localizada no Canadá, a Avenue de l’Église, na cidade de Montreal. A proposta apresentada pelo grupo deveria solucionar questões ambientais emergentes como a crise climática, levando em consideração o contexto do local, sua formação social, territorial, econômica, dentre outras. Para o Prof. Dr. Diogo Ribeiro Carvalho, líder do grupo de pesquisa e extensão Design e Fabricação Digital e coordenador do projeto, um dos desafios para a equipe foi entender as nuances do ecossistema sociocultural e urbano de Montreal. Dessa forma, a equipe abordou tecnologias e estratégias ecossistêmicas com o intuito de construir um projeto que pudesse contribuir para o aumento da consciência com relação à interdependência entre seres vivos e meio ambiente, buscando formas mais saudáveis, solidárias e sensíveis de habitar o mundo. Outro desafio da equipe, foi traduzir conceitos em propostas espaciais e de modos de vida para o contexto estrangeiro. “Isso exigiu um sofisticado trabalho colaborativo e criativo, além do alinhamento de discursos e conhecimentos específicos de cada campo disciplinar. A sinergia, entusiasmo e determinação da equipe tornaram possível a premiação na segunda colocação geral”, conta o professor.

Edible Montreal

O projeto apresentado, buscou soluções que seguissem conceitos do design biofílico aplicados à região escolhida. De acordo com a aluna Sílvia, a equipe apostou em soluções para potencializar as condições já existentes no local, como os canais de água que cortam a rua, a tipologia das edificações, as variações climáticas, os planos de expansão das áreas verdes e áreas adjacentes, além de algumas das atividades que já acontecem. “No projeto, a água foi percebida como um componente primordial, por se tratar de um elemento referente à vida, sendo utilizada como um convite à vivência na rua em diversas épocas do ano, tanto no intenso verão, quanto no inverno congelante”, explica Silvia. Um canal seria aberto de uma ponta à outra da via. Em áreas onde a rua podia se expandir para as laterais, foram propostas zonas verdes para permanência e contemplação de todo ecossistema imaginado. Dessa forma, o intuito é que espécies da fauna e flora da região coexistam com a vida urbana.

No projeto, os lotes e áreas vazias seriam anexados ao espaço comum proporcionando atividades complementares como hortas coletivas e espaços de aprendizado, áreas de permanência com lagos, que no inverno se transformam em pequenos ringues de patinação. O foco do grupo foi disponibilizar espaços de convívio com potencial de educar as pessoas quanto às questões ambientais, propondo soluções de redução da poluição, como por exemplo, a criação de estações para carregamento de carros por meio de células fotovoltaicas. Aproveitando o potencial da baixa altimetria das edificações da rua, a equipe propôs uma extensa passarela com zonas de jardins que forneceriam alimentos à comunidade local, o que justificaria o nome do projeto Edible Montreal, que significa “Montreal comestível”. Foram também incentivados jardins polinizadores e cultivo de plantas medicinais. Além disso, durante o inverno, a passarela funcionaria como uma estufa, viabilizando o armazenamento do gás carbônico durante todo o dia, além de se tornar um solário durante as horas de sol.

O Prof. Dr. Henrique Paprocki, do Departamento de Ciências Biológicas e Coordenador do Museu de Ciências Naturais PUC Minas, acrescenta que outro grande desafio do projeto foi a limitação de tempo. “Tivemos apenas 48 horas para a elaboração do projeto. Os alunos trabalharam duro sem dormir. Outro desafio interessante foi a cidade sorteada que, por ser de clima muito frio, tivemos de estudar os hábitos, as estações e a natureza local para adequar o projeto à realidade”, explica. Para Henrique, co-orientador da equipe, é necessário o projeto de educação ambiental para que as pessoas percebam a sensação de bem-estar do convívio com a natureza. Esta necessidade ficou ainda maior com a urbanização de grande parte da população humana. Os ecossistemas urbanos desenhados para nosso bem-estar e para contribuir com o funcionamento dos ecossistemas e manutenção dos serviços ambientais são fundamentais”, explica.

Participaram do concurso 19 universidades e oito países, tendo um formato de maratona de 48 horas de projeto. O Prof. Diogo Carvalho entende que é por meio de oportunidades desafiadoras como essas que ideias inovadoras podem se tornar visíveis e novas mentes podem se apresentar ao mundo.

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