Ícone do passado

Projeto conserva a memória arquitetônica por meio da digitalização de arquivos do Museu Abílio Barreto
A professora Gabriela Machado e Álvaro Sales estão à frente da parceria entre a Universidade e o Museu Abílio Barreto | Foto:  Nathália Farnetti
A professora Gabriela Machado e Álvaro Sales estão à frente da parceria entre a Universidade e o Museu Abílio Barreto | Foto: Nathália Farnetti

O Museu Abílio Barreto, no bairro Cidade Jardim, é um dos ícones da cidade de Belo Horizonte. O casarão secular foi construído em 1883 por Cândido Lúcio da Silveira, dono da Fazenda do Leitão, seguindo o modelo típico das edificações do período colonial. Em 1894, o imóvel foi desapropriado pela Comissão Nacional Construtora da Nova Capital (CNCC) em função do processo de construção da capital mineira. Desde o início da década de 40, a casa passou por diversos processos de restauração e adaptação para servir como sede do museu.

A comissão foi chefiada pelo engenheiro Aarão Reis, que possuía uma equipe de arquitetos, engenheiros e urbanistas. O projeto da nova capital do Estado foi realizado entre 1894 e 1897, ano da inauguração.

Formado por cerca de 28 mil documentos, o acervo do museu é composto por livros, periódicos, catálogos, fitas de vídeo, dissertações e recortes de jornais, tendo como principal temática a história de Minas Gerais e do Brasil. Possui arquivos datáveis de 1894 até os dias atuais. Os arquivos e documentos da história e memória de Belo Horizonte fazem parte do acervo do Museu Abílio Barreto.

Na PUC Minas Lourdes, alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo, orientados pela Profa. Dra. Gabriela Pires Machado, arquiteta e docente do Curso de Especialização em Gestão e Conservação do Patrimônio Cultural, realizaram em 2023, por meio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), projeto de digitalização do acervo documental da CNCC.

Além de fomentar a relação com a comunidade e deixar a história da cidade digitalizada, a iniciativa também tem um impacto positivo na formação dos alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo. A aluna Maria Tereza Viana participou da Extensão durante dois semestres e, a partir da experiência, descobriu o interesse pela área de museologia e historiografia. “Tive contato com esse universo que me proporcionou conhecimentos que não se limitam apenas ao curso, pois agregaram cuidado e carinho pelo patrimônio. Vi homens bigodudos que tinham nome de avenida sendo gente como a gente. Me sinto mais conectada com a história de BH e, de certo modo, isso reflete nas minhas concepções de projetos e intervenções urbanísticas”, pontuou a estudante.

“Me sinto mais conectada com a história de BH e, de certo modo, isso reflete nas minhas concepções projetuais e intervenções urbanísticas”, Maria Tereza Viana | Foto: Nathália Farnetti

Digitalização de arquivos

De acordo com a professora Gabriela, a última digitalização dos arquivos, realizada em meados dos anos 2000, está no Museu Abílio Barreto. Foi a partir da necessidade de tornar os documentos acessíveis para a população que surgiu o programa. “O acervo do Abílio Barreto possui importância histórica e é muito pesquisado, com documentos de mais de 100 anos. É um trabalho de Extensão que fomenta a relação com a sociedade a longo prazo. O projeto também nasceu da necessidade de capacitar estudantes para entender como um documento vai para exposições e livros, além de preparar os discentes para atividades do setor público, fomentando o conhecimento sobre a historiografia de Belo Horizonte”, afirma Gabriela, coordenadora do projeto de extensão.

Segundo Álvaro Moreira Sales, gestor do acervo fotográfico do museu há sete anos, o processo foi dividido em duas etapas. A primeira consistiu na identificação e análise do acervo, seguido da digitalização desse material. Na segunda etapa, a identificação, a análise e a digitalização foram realizadas nos documentos e publicações. A partir da digitalização do acervo da CNCC, a consulta e a pesquisa foram facilitadas, pois não é mais necessária a retirada dos documentos da reserva técnica e o manuseio. Dessa forma, a comunidade pode acessar o acervo diretamente dos computadores da biblioteca do museu e os documentos não precisam ser retirados da reserva, o que contribui para sua preservação. Para Álvaro, a parceria com o projeto de extensão contribui positivamente para a sociedade e para a história de Belo Horizonte. “Ter uma instituição acadêmica como a PUC Minas atuando em conjunto com o Museu auxilia na preservação da memória e do patrimônio cultural da cidade, que é uma das funções deste espaço”, disse o gestor.

História viva

Os museus no Brasil surgiram no século XVII e estão diretamente associados ao ato de colecionar artigos. De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do Ministério da Cultura, atualmente existem 3.025 instituições mapeadas no país. O levantamento também aponta que, dos museus brasileiros, 67,5% são dedicados à história; 53,4%, às artes visuais; e 48,2%, à imagem e som. Em Minas Gerais, parte da história do Estado é preservada em mais de 400 museus, sendo a maioria concentrada na Região Central, onde está localizada a capital mineira.

A parceria entre a PUC Minas e o Museu Abílio Barreto rendeu frutos. O museu recebeu uma nova doação de arquivos do arquiteto e Urbanista Raffaello Berti, que participou do projeto arquitetônico do Centro Universitário Izabella Hendrix, atual sede da PUC Minas Lourdes. Um novo projeto foi estruturado para a digitalização dos arquivos doados. O processo, previsto para começar em 2025, permitirá a preservação dos projetos de Berti. Além da participação no Centro Universitário, Raffaello Berti também é o responsável pelo Palácio Cristo Rei, localizado na Praça da Liberdade.