Por trás dos holofotes

Alunos do Curso de Psicologia do Campus Lourdes realizam oficinas com músicos da Academia Jovem Orquestra Ouro Preto
Márcio e Alisson acreditam que um ambiente seguro e acolhedor pode fortalecer laços de cooperação e melhorar a comunicação dentro do grupo | Foto: Guilherme Simões
Márcio e Alisson acreditam que um ambiente seguro e acolhedor pode fortalecer laços de cooperação e melhorar a comunicação dentro do grupo | Foto: Guilherme Simões

Palco, holofotes, aplausos. Para quem está na plateia, a vida do músico pode parecer apenas glamour. Mas, por trás de um musicista, há várias questões complexas, como a autocobrança excessiva, a ansiedade gerada pelo perfeccionismo, o mercado de trabalho restrito e com alto nível de exigência. Para trabalhar essas dificuldades e promover a integração entre os membros da Academia Jovem Orquestra Ouro Preto, o Curso de Psicologia da PUC Minas Lourdes realiza o estágio de oficinas psicossociais com os jovens. “O contexto do estágio é a profissionalização desses jovens músicos, altamente talentosos, que passaram por uma seleção rigorosa para estarem ali”, explica a orientadora do estágio, Profa. Dra. Maria dos Anjos Lara e Lanna, a Zanja. “São encontros semanais, que chamamos de oficinas de intervenção psicossocial. Não é terapia, não é um trabalho voltado para a história individual ou para a subjetividade, mas para experiências compartilhadas, que são trabalhadas no grupo”, explica.

A partir das questões apresentadas pelos integrantes da Academia Jovem ou identificadas pelos estagiários, são realizadas as dinâmicas em grupo. “O objetivo principal é provocar um movimento no grupo que se relacione de forma pertinente às demandas por eles apresentadas. As atividades geralmente são desenvolvidas para se relacionar com estas demandas de uma forma abstrata, latente, alusiva, para provocar a reflexão e permitir que cada um extraia significados de forma única, de acordo com sua própria subjetividade”, explica Maurício Troian, aluno do 8º período de Psicologia do Campus Lourdes, que optou pelo estágio pelo interesse na área da Psicologia aplicada a grupos, além de possuir formação em música e ter atuado como músico. “As oficinas proporcionam um fortalecimento do senso de coesão e identidade grupal. Posso dizer que, na minha percepção, trabalhamos com processos de fortalecimento da subjetividade, não apenas no âmbito individual, mas, sobretudo, de sua subjetividade enquanto grupo”, detalha Maurício.

A professora Zanja e o estudante Maurício Troian desenvolvem oficinas de intervenção psicossocial com os membros da Academia Jovem Orquestra Ouro Preto | Foto: Nathália Farnetti

O violinista Alisson Mariano destaca como resultado das oficinas a integração dos novos músicos bolsistas. “Os encontros são importantes para a gente, principalmente, para os alunos novatos. Na chegada, (os músicos) podem ficar acuados, sem ainda ter uma relação com os outros membros da equipe. Esse trabalho ajuda na integração”, relata. Para além da integração, as oficinas trabalham as questões apresentadas pelos jovens. “O objetivo é levar aos músicos meios de trabalhar a ansiedade gerada pelas demandas de atividades musicais, por exemplo, o medo da performance de palco”, explica o assistente da Coordenação Pedagógica e auxiliar para os ensaios de naipe dos violinos, Márcio Valladão. A autocobrança pode afetar a performance. “Nós, que fazemos parte do mundo da música, podemos trazer essa questão da ansiedade, pelo medo de errar, pela cobrança de sair tudo perfeito. Poder ter um espaço para compartilhar essas questões é muito bom”, explica Alisson.

Na avaliação de Maurício, é justamente a criação de um ambiente seguro e acolhedor que possibilita aos jovens músicos se expressarem livremente, fortalecendo laços de cooperação e melhorando a comunicação dentro do grupo. “Observei um desenvolvimento nas habilidades de interação dos participantes, evidenciadas pelo aumento da autoconfiança e pela disposição em participar ativamente das atividades propostas”, explica Maurício.

Flauta doce e formação cidadã integral

O processo educativo do projeto Sonoro Despertar é mediado pelas aulas de flauta doce | Foto: Raphael Calixto

Também no mundo da música e baseado em uma abordagem psicossocial, o projeto de extensão do Curso de Psicologia do Campus São Gabriel desenvolve oficinas socioeducativas com os integrantes do Projeto Sonoro Despertar: orquestra de flautas e coral. O objetivo é contribuir para a formação integral de crianças e adolescentes. “Nessas oficinas, fazemos diversas atividades, muitas delas de forma lúdica, voltadas para a formação cidadã das crianças e adolescentes, para conscientização do contexto – tanto das relações com a família, amigos e escola, quanto do cuidado com o planeta, a questão ecológica –”, explica a coordenadora do projeto, professora Zanja.

As atividades do projeto, criado em 2000 pelo Padre Jésus Guergué Lafraya, acontecem em Belo Horizonte na Paróquia São Marcos, dirigida pela Congregação dos Padres Escolápios. Todo o processo educativo é mediado pelas aulas de flauta doce, mas com foco na formação integral dos participantes. A partir de 2013, começaram a ser oferecidas atividades psicossociais para crianças, adolescentes e familiares. Depois das aulas de flauta, eles participam das oficinas realizadas pelos extensionistas do Curso de Psicologia da PUC Minas dos campi São Gabriel, Lourdes e Coração Eucarístico.

“A interação de Música, Psicologia e Educação proporciona um espaço de diálogo social que ajuda a fomentar o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes, favorecendo a vida deles como um todo, independentemente das dificuldades sociais e falta de recursos que enfrentam. A música e as oficinas são os veículos que facilitam esta educação integral”, comemora Celeste Alda, regente do Sonoro Despertar. “Pode-se dizer que a ação das oficinas é um complemento eficaz ao trabalho que o Sonoro Despertar persegue por meio da música: ‘despertar’ a consciência de cada participante para que aprenda a ser protagonista de sua própria vida, inserido de forma criativa dentro da sociedade atual”, finaliza.