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Extensão Acordes que transformam

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Projetos têm a música como ferramenta
de inserção cultural e social

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“A cada dia que passa eu vejo como a música tem o poder de transformar. Transformou-me e eu acho maravilhoso contribuir para a formação de outras crianças também”

Pâmela Ramos

Existem músicas que emocionam. Outras divertem. Algumas canções nos fazem refletir ou apenas relaxar. Mas um fato é certo: ninguém é indiferente a uma boa melodia. O que poucos imaginam é que a música pode ser muito mais que entretenimento. Além de ser uma forma de cultivar a saúde física e mental, pode ser um instrumento de transformação social. Em sintonia com esse conceito, três projetos de extensão da PUC Minas, que envolvem crianças, adolescentes e idosos, têm a música como fio condutor.

Para a professora Ana Cristina Pegoraro, do Curso de Psicologia do campus Betim, a música, aliada a outras atividades multidisciplinares, tem funções terapêuticas e promove a melhoria da qualidade de vida. “A música une aspectos psicológicos e fisiológicos ao aliviar tensões, estresses e dores”, explica.

Violinos, violas e flautas, entre outros instrumentos musicais, são os recursos utilizados pela Orquestra Jovem das Gerais para oferecer às crianças e adolescentes carentes do município de Contagem e outras cidades do entorno uma nova perspectiva de vida. O principal objetivo da ONG não é formar músicos profissionais, mas utilizar o aprendizado musical para trabalhar valores como disciplina, respeito, autoestima, sociabilidade e cidadania, além de apresentar a esses jovens vertentes culturais que muitos deles não tinham o hábito de consumir, ou nem mesmo conheciam: a música erudita e a música popular brasileira.

Atualmente, cerca de 130 crianças participam das oficinas de instrumentos de cordas – violino, viola, violoncelo e contrabaixo; sopro – flauta transversal, fagote, oboé e clarinete; e percussão; além de aulas de teoria e percepção musical. A intenção do projeto é mitigar casos de indisciplina e evasão escolar, e promover o resgate da autoestima desses jovens, muitas vezes inseridos em um contexto social vulnerável. Segundo dados da coordenação da ONG, verificaram-se taxas de melhoria de 70% no desempenho escolar dos educandos da instituição e de 80% nas relações sociais e familiares. Além disso, o envolvimento dos beneficiários com violência e marginalidade apresentou decréscimo de 90% desde que começaram a participar das atividades.

Entretanto, foi detectada a necessidade de se acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos participantes. Assim surgiu a parceria com o Curso de Serviço Social da PUC Minas Contagem, por meio do projeto de extensão Orquestra Jovem: a inclusão social por meio da música. O trabalho dos extensionistas, sob a coordenação das professoras Débora Maria David da Luz e Denise Pimenta Nacle, se constitui em construir um diagnóstico dos beneficiários e seu histórico familiar, orientá-los e encaminhá-los às políticas sociais adequadas.

Reforçando o senso de coletividade, a fundadora e coordenadora pedagógica Rosiane Reis acredita que o trabalho com a Universidade rende bons frutos. “É somando esforços que a gente consegue promover a transformação. Temos muita esperança que essa parceria possa orientar as crianças e estruturar as famílias”, vislumbra.

Tamanha dedicação e disciplina renderam resultados. A Orquestra Jovem já se apresentou em dez festivais nacionais e realizou 13 turnês internacionais, em diversos países europeus e nos Estados Unidos. Para Gabriel Henrique, produtor cultural da ONG, a possibilidade de viajar, conhecer lugares novos e se apresentar em praças e teatros tem impacto na autoestima dos jovens e amplia seus horizontes. “Todas essas oportunidades fazem com que eles relativizem as limitações e passem a acreditar que são capazes de ir muito longe, apesar das adversidades”, opina.

Ainda que a ideia inicial não seja necessariamente formar músicos, muitos deles enveredam-se por esse caminho. Somente este ano, sete jovens foram aprovados no vestibular de música. É o caso de Pâmela Ramos, de 19 anos, que encontrou no projeto a possibilidade de viabilizar o seu sonho: ser musicista. Ela frequenta a Orquestra há oito anos, mas hoje está do outro lado: é professora nas aulas práticas e descobriu outra paixão além da música, a de ensinar. “A cada dia que passa eu vejo como a música tem o poder de transformar. Transformou-me e eu acho maravilhoso contribuir para a formação de outras crianças também”, afirma.

Para Renato Almeida, fundador da ONG, a ideia é que os jovens que passem pela instituição se tornem multiplicadores, assim como Pâmela. “Independentemente de eles seguirem na música ou não, é importante que tenham esse olhar de responsabilidade social e cidadania”, afirma o coordenador geral do projeto.

Caminho para a socialização

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O Sonoro Despertar oferece, com o apoio da Universidade, atividades psicossociais para as crianças e adolescentes do projeto

Difundir a cultura através da música para crianças e adolescentes, contribuindo para sua educação também é um dos objetivos do Sonoro Despertar, projeto sociocultural criado em 2000 pelo padre Jésus Guergué Lafraya. As atividades são realizadas em Belo Horizonte, na Paróquia São Marcos, dirigida pela congregação dos Padres Escolápios. Todo o processo educativo é mediado pelas aulas de flauta doce, mas com foco na formação integral dos participantes.

Para apoiar e fortalecer as atividades do projeto, desde 2013, em parceria com a PUC Minas, por meio da extensão, o Sonoro Despertar passou a oferecer atividades psicossociais para as crianças, adolescentes e seus familiares. Depois das aulas de flauta, eles participam das oficinas realizadas pelos extensionistas do Curso de Psicologia da Universidade. “Nosso foco é potencializar o que é trabalhado pela equipe do projeto por meio da formação musical. Sabemos que a música é um caminho para a socialização, uma forma de despertar a sensibilidade, a criatividade e a capacidade de se trabalhar em grupo, respeitando as diferenças entre as pessoas”, explica a professora Márcia Mansur Saadallah, coordenadora pela PUC Minas do Sonoro Despertar.

Daniel Magalhães Mol Silva, de 18 anos, é um dos 140 participantes do projeto. Ele iniciou as atividades há nove anos, seguindo a trilha dos seus dois irmãos mais velhos, que já participavam das aulas. Para Daniel, as oficinas psicossociais são muito valiosas, pois, nem sempre, as crianças e os jovens têm espaço para conversarem sobre determinados assuntos como drogas, amizades, relações familiares, emprego, temas tratados naquele ambiente. O aluno do 9º período de Psicologia da PUC Minas São Gabriel e extensionista no projeto há três anos, Lucas Almeida, explica que “as oficinas não são apenas um processo terapêutico, de desabafo e conversa, mas de fortalecimento de vínculos comunitários”.

Além de despertar aptidões artísticas, a equipe do projeto pretende transmitir valores socioculturais, estimular o crescimento pessoal equilibrado e educar as pessoas para a convivência comunitária e social. “Não elaboramos apenas uma sinfonia, mas articulamos elementos educativos que são construtores de um novo tecido social”, afirma a regente e coordenadora pedagógica do Sonoro Despertar, Celeste Alda Machado.

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O estudante de Medicina Arthur Felipe da Silva, regente do coral, afirma que os idosos são receptivos e proativos

Idosos aliam música ao
bem-estar físico e mental

Não é de hoje que se diz que quem canta seus males espanta. Pensando nisso, o projeto de extensão PUC Mais Idade, do campus Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, criou, em 2014, o Coral PUC Mais Idade. A demanda surgiu dos próprios participantes do projeto, que buscavam uma nova atividade, como conta a professora Tatiana Barral, do Curso de Fisioterapia e que coordena as atividades do projeto: “O PUC Mais Idade visa inserir o idoso nas atividades da Universidade, trazendo-o para o campus, a fim de inseri-lo num espaço teoricamente destinado aos mais jovens. Várias atividades já são realizadas de acordo com as necessidades dos idosos, e o coral veio para somar”.

Uma vez por semana, durante duas horas, acompanhados do músico e estudante de Medicina, Arthur Felipe da Silva, de 19 anos, o grupo de 12 idosos se reúne no campus para ensaiar composições dos mais variados estilos. “Eles são muito receptivos e proativos e criam vínculos muito rapidamente, o que facilita a experiência”, aponta Arthur, que desde criança toca guitarra.

De acordo com dados do último Censo do IBGE, realizado em 2010, com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, em 2060, a população de homens e mulheres com mais de 65 anos chegará a 58,4 milhões de pessoas, o que representa 26,7% da população brasileira. Uma das atividades que contribui para esse aumento é a participação, cada vez mais expressiva, dessa população em atividades livres, como dança, canto e cursos, deixando de lado a visão de que idosos são inativos e apáticos. “A maioria das pessoas que não gosta de música não percebe o quanto ela faz bem. Passei a sentir que a música me deixa mais relaxado e mais bem disposto”, conta, satisfeito, José dos Santos Sabino, aposentado de 65 anos e que participa de várias atividades do projeto.

“Além de fazer bem para a mente, a música faz bem para o corpo, uma vez que são trabalhadas a postura, respiração, entre outros aspectos físicos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos participantes”, afirma a professora Tatiana. Desde o início das atividades do coral, o grupo já se apresentou em shoppings, escolas, teatros e eventos da Instituição.

Texto
Bruna Santos, Lívia Arcanjo e Rafaela Angeli
Fotos
1Marcos Figueiredo
2Arquivo Orquestra Jovem das Gerais
Por meio da música, a Orquestra Jovem das Gerais oferece uma nova perspectiva de vida às crianças carentes de Contagem
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