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Comportamento Desempenho notável

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Samuel, que tem talento especial para desenhos, está no projeto há cinco anos

Projeto de extensão voltado para crianças e adolescentes com altas habilidades e superdotação é realizado na PUC Minas desde 2007

Ter uma criança ou um adolescente superdotado em casa não é exatamente uma raridade. No Brasil, seriam mais de 10 milhões de superdotados se considerarmos a estimativa de 5% da população, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Voltado para crianças e adolescentes com altas habilidades e superdotação, o projeto de extensão Enriquecimento da aprendizagem para desenvolvimento de habilidades é realizado desde 2007 na PUC Minas. “O objetivo do projeto é possibilitar o enriquecimento curricular por meio da verticalização do conhecimento na modalidade de tutorias”, explica a professora Karina Fideles, coordenadora do projeto. Neste ano, a meta é o aumento do número de crianças e adolescentes de escolas públicas, assim como o desenvolvimento das potencialidades e das relações inter e intrapessoais dos participantes do projeto nos mais diversos campos de conhecimento.

Pessoas superdotadas ou com altas habilidades são aquelas que possuem um desempenho notável e acima da média em aspectos diversos. Podem aprender fácil e rapidamente alguma coisa, são originais e imaginativos, apresentam rapidez do pensamento, compreensão e memória elevadas, possuem habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento, possuem capacidade de liderança, sociabilidade expressiva, aptidões artísticas, habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras. “São diversos tipos de inteligência. Isso significa que uma pessoa com elevado potencial para as artes não necessariamente terá essa mesma aptidão para a matemática. Elas podem ser isoladas ou combinadas”, explica a professora Karina. “Além disso, a alta habilidade se dá na interseção da capacidade acima da média, do envolvimento com a tarefa e da criatividade. Somando-se a isso é preciso considerar o contexto familiar, escolar e social”.

As atividades do projeto de extensão com as crianças e adolescentes acontecem na PUC Minas Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, às segundas-feiras, em dois turnos: manhã e tarde. Os extensionsistas dos cursos de Ciências Biológicas, Educação Física, Engenharia Química, Física, Fisioterapia, Matemática, Psicologia e Pedagogia acompanham as 35 crianças e adolescentes, de cinco a 15 anos, que são divididos em grupos de acordo com o interesse e a idade. Para Vinícius Monteiro Brito Almeida, aluno do Curso de Engenharia Mecânica com linha de formação em Mecatrônica, participar do projeto é uma maneira de enriquecer a própria formação. “Muitas vezes, na Engenharia, temos uma formação muito técnica, deixando um pouco de lado a humana. E acompanhar os meninos e meninas no projeto contribui para essa formação social e humanística”, explica.

Para participar do projeto é preciso que seja interesse da própria criança e adolescente e não uma exigência dos pais ou responsáveis. Além disso, é preciso cumprir as normas dos espaços acadêmicos – como laboratórios, salas de aula, Museu de Ciências Naturais, Complexo Esportivo – e estar bem adaptado em suas escolas de origem. As atividades realizadas no projeto são gratuitas.

Diagnóstico não é fácil

Ser superdotado ou possuir altas habilidades não é sinônimo de sucesso. Muitas vezes, por não serem devidamente diagnosticadas, as pessoas que têm esse perfil não são estimuladas e bem orientadas. Isso pode gerar um grande desinteresse pelo conteúdo das escolas regulares, fazendo com que apresentem baixo rendimento escolar, comportamentos inadequados, decepção e frustração por não se sentirem atendidos e nem compreendidos. “Algumas crianças chegam ao projeto muito tímidas e entristecidas, e conseguimos perceber a evolução delas. Elas se encontram, sentem-se parte de um grupo que tem as mesmas características e interesses”, explica Vinícius.

Muitas vezes, o diagnóstico é confundido com hiperatividade, distúrbios comportamentais ou déficit de concentração. Foi o que aconteceu com Samuel, 11 anos, no projeto há cinco anos, como conta sua mãe, Sandra Regina Santos. “Tivemos o diagnóstico de dislexia, mas a partir das pesquisas que fiz, percebi que não era o caso dele. Até que o núcleo de inclusão da Prefeitura de Belo Horizonte me indicou o projeto de extensão da PUC Minas”, explica. “O Samuel ama a Universidade. Ele se encontrou ali, porque percebeu que há outras crianças como ele, com os mesmos interesses”, comemora. Além disso, o que desperta o interesse de Samuel são os desafios do projeto, que estimulam o aprendizado das crianças e adolescentes.

Esse público é parte da população com direitos nas necessidades educacionais especiais de acordo com a legislação brasileira. No entanto, segundo a professora Karina, o sistema educacional de ensino não consegue atendê-los em suas especificidades. “Não porque eles não querem, mas porque há outras prioridades, como o atendimento às crianças com deficiência”, explica.

Interface com a pesquisa e o ensino

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Danielle Amorim: pesquisa apontou impacto positivo do projeto entre alunos de Ciências Biológicas

O Enriquecimento da aprendizagem para desenvolvimento de habilidades foi tema da pesquisa de Danielle Ornelas Amorim, mestre em Educação pela PUC Minas, que estudou o projeto de extensão como uma oportunidade de formação de professores de ciências e de biologia pelo viés da prática. Danielle afirma que o projeto de extensão teve um impacto positivo entre os alunos do bacharelado em Ciências Biológicas. “Antes de participarem, os alunos não tinham interesse pela docência e, depois do contato com o projeto, pensam em ser professores, deixando de lado também uma visão simplista sobre a profissão”, justifica.

A pesquisa também mostrou que os alunos entrevistados não tinham conhecimento sobre altas habilidades ou alguma experiência com a inclusão, até atuarem no projeto. “Participar das atividades, para os graduandos, mudou a visão de mundo deles. Além de conhecerem o universo das altas habilidades, passaram a perceber a inclusão como educação para todos”, explica.

Além da pesquisa, o projeto de extensão também tem interface com o ensino. O projeto é campo de estágio do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG). “Fechamos essa parceria, porque somos o único projeto em Belo Horizonte a trabalhar com esse público neste modelo de enriquecimento curricular”, explica a professora Karina.

Tipos de Inteligências Múltiplas

Uma pessoa com altas habilidades /superdotação apresenta notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados:

  • Inteligência linguística
    habilidade com a linguagem, capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas.
  • Inteligência musical
    facilidade para a música, para perceber sons, timbres e tons.
  • Inteligência lógico-matemática
    facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para fazer e provar práticas de seu raciocínio e hipóteses.
  • Inteligência espacial
    entendimento dos espaços, habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais, atenção a detalhes visuais, vê o mundo em 3D.
  • Inteligência corporal-cinestésica
    habilidade corporal, controle físico, demonstra uma grande capacidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
  • Inteligência interpessoal
    habilidade para lidar com outras pessoas, sensíveis às necessidades e sentimentos de outros, capacidade de liderança.
  • Inteligência intrapessoal
    capacidade de entendimento pessoal, entender o que sente e o que deseja.

Fonte: Howard Gardner. Estruturas da Mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Editora Artes Médicas, 1994

Texto
Bruna Santos Vida
Fotos
Raphael Calixto
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