Ponto de encontro

Mercado Novo desponta na área de gastronomia e cultura
O Mercado Novo, localizado no centro da cidade, serve como vitrine para novas propostas gastronômicas | Foto: Bruno Timóteo

Alguns espaços urbanos passam por mudanças significativas, renovando-se e atraindo um público cada vez mais diversificado. É o caso do Mercado Novo, situado no centro de Belo Horizonte. Inaugurado em 1963, através de novas lojas tem divulgado a gastronomia e a cultura locais, além de manter seu comércio tradicional. O processo de sua revitalização começou em 2018, mas teve que ser interrompido por causa da pandemia. Desde o início de 2021, no entanto, o movimento vem sendo retomado.

Entregue à cidade nos anos 60, sem estar totalmente acabado, já que a construtora responsável faliu, deixando o prédio sem telhado, o Mercado passou a funcionar com um comércio de uniformes, instrumentos musicais e gráficas. A partir de 2010, o terceiro andar foi modificado, passando a chamar-se Mercado das Borboletas, abrigando festas noturnas e eventos culturais para o público jovem e alternativo.
Um estudo realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas acompanhou essa trajetória. A mestre em Ciências Sociais Luiza Lafetá, que escolheu o tema para sua dissertação, destaca que a gastronomia propiciou um novo público, tendo bares e restaurantes priorizado a comida mineira e belo-horizontina.

Luiza comenta que os estabelecimentos gastronômicos, por ocuparem espaços menores, promovem uma interação entre comerciantes e clientes, elevando a experiência de “comer em mercado”. De acordo com a cientista social, o Mercado possibilita que a pessoa compre um produto em uma loja, pegue um acompanhamento em outra e interaja com os outros frequentadores.

Gabriel Filho é superintendente do condomínio do Mercado Novo há 15 anos e relata que a revitalização do local começou em 2017. Ele diz que, desde sempre, o objetivo era ocupar todo o prédio e não repetir os mercados já existentes. Após serem realizadas reformas na estrutura, a ocupação por lojistas criativos veio naturalmente, com o atrativo de aluguéis baratos. O processo de renovação foi atrasado um pouco pela pandemia, mas com a volta às atividades presenciais, o prédio vem sendo muito frequentado.

Frequentadores diversificados

O Mercado se tornou uma referência na cidade para grupos com características diversificadas. Fernanda Gatto, uma jovem de 22 anos que estava com seus amigos de outra cidade apresentando o local e suas opções, conta que o ambiente chama sua atenção tanto pelas opções de compras como de restaurantes. Para Fernanda, o diferencial do prédio é seu ambiente aconchegante, o resgate da cultura familiar e a “energia mais casa de mãe”.

O prédio com seus cobogós, tijolos furados que permitem maior circulação de ar, também é um chamariz de turistas de outras partes do país, que ficam sabendo do Mercado pelo clássico boca a boca. Numa tarde do mês de agosto, Mayk dos Santos estava apreciando as bebidas e comidas junto a seus amigos do interior de Minas Gerais. O grupo ficou encantado com a diversidade de produtos do local: “Você pode vir tomar uma cerveja ou uma cachaça, ou pode comprar coisas ou comidas, tem um pouco de tudo”, relata Mayk.

Já a paulista Tereza Grimaldi veio passar o final de semana e estava visitando o Mercado por indicação de uma amiga. O que mais a atraiu foi a peculiaridade do lugar, onde se reúnem gastronomia, pequenas lojas de design e a feira de hortifrutigranjeiros situada no andar térreo.

O prédio serve como vitrine para novas propostas gastronômicas. O restaurante Bejí é dedicado à fusão entre a comida vegana e o sushi, que normalmente não se misturam. A representante do restaurante, Ana Clara Oliveira, comenta que alguns clientes dizem que nunca comeram em restaurantes veganos e se sentem curiosos ao ver as peças de sushi. Para ela, a oportunidade de manter o comércio voltado ao veganismo é uma oportunidade que lhe traz benefícios financeiros e pessoais. “Não achava opções gostosas e bem elaboradas para esse público”, diz ela.

Por causa das gráficas existentes, o público já frequentava o Mercado há mais tempo. O publicitário Edgar Santos afirma que o processo de renovação foi um atrativo. Para ele, “o Mercado Novo é um grande ponto de encontro”.

Um desses pontos é o restaurante Cozinha Tupis, que iniciou as atividades em 2018, sendo um dos primeiros estabelecimentos a abrir após a revitalização. O gerente Nicolás Bollini conta como foi a decisão de inaugurar o restaurante: “Chegamos à conclusão de que o único lugar ou o lugar mais provável onde a gente encontraria a raiz de uma cozinha belo-horizontina seria no centro, porque é onde tudo acontece. Então, a gente estudou alguns mercados e acabou encontrando esse aqui, com esse andar que estava abandonado na época, tinha só 4% de ocupação”.

Para além da gastronomia

O professor da PUC Minas e coordenador do Curso de Jornalismo na Unidade São Gabriel, Getúlio Neuremberg, trabalhou no Mercado Novo em sua adolescência, ajudando na loja do tio para conseguir sua independência financeira mais cedo. A loja ficava no térreo e possuía duas vitrines, uma de frente para a rua e outra dentro do mercado.

O professor observa que o Mercado Novo passou por várias mudanças ao longo dos anos e percebe-se que, hoje, se tornou um ponto turístico gourmet, ganhando o título que antes pertencia, em certas proporções, ao Mercado Central. Porém, algumas coisas ainda não mudaram; alguns lojistas ainda estão com seus comércios no local e, infelizmente, alguns problemas, como lojas inacabadas, persistem até hoje, sendo percebido até pelos lojistas atuais.

A comerciante Dalila Victor comenta que a revitalização do Mercado trouxe benefícios para ela e outros comerciantes do primeiro andar, pois pode atrair novos clientes. Entretanto, ela lamenta que o processo de renovação tenha beneficiado mais os andares de cima, pois eles trariam o maior movimento e, consequentemente, maior retorno financeiro. A comerciante acredita que maior atenção é dada aos andares de maior atividade. Ela gostaria que seu andar recebesse cuidado com mais frequência.

O superintendente do condomínio, Gabriel Filho, alega: “Não fazemos nada de diferente para quem está há muito tempo no prédio ou para quem chega agora”. Segundo ele, há uma falta de cuidado por parte dos responsáveis pelas lojas do primeiro andar. Gabriel complementa que a curadoria acontece para todos os condôminos, tentando orientar a todos da mesma forma.

SAIBA MAIS

A PUC Minas mantém um grupo de estudos multidisciplinar para investigação e aplicação de abordagens, métodos e técnicas de análise de dados para tomada de decisão na área esportiva. O Sport Analytics (Span) é uma parceria entre o Instituto de Ciências Exatas e Informática, Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais e Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade. O grupo Span conta com os professores doutores Daniel Marangon Duffles Teixeira, da área de Gestão do Esporte e da Performance Esportiva, Ricardo Cesar Alves, da área de Gestão Estratégica em Organizações Esportivas, e Wladmir Cardoso Brandão, que atua na área de Computação e Inteligência Artificial, além de alunos dos Institutos participantes. O grupo aceita contribuições de interessados, que podem procurar pelos cursos vinculados aos institutos e que dialogam com o tema.


*Os alunos foram orientados pela professora Ana Maria Rodrigues de Oliveira, editora do Marco, jornal laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes.