Arquidiocese centenária

Forte atuação na área social e na educação, além da evangelização, são traços marcantes da Instituição em Belo Horizonte, que completa 100 anos
Ilustração: Alexandre Coelho

Ocasiões comemorativas, como agora a do centenário de criação da Arquidiocese de Belo Horizonte, à qual a PUC Minas é vinculada, mais do que festejos, devem ser momentos de reflexão, de análise, de compreensão do presente como instrumento de melhor formação e inserção no futuro. Afinal, trata-se de um dos maiores arcebispados do mundo, seja pelos seus potenciais seis milhões de fiéis, seja pelas mais de suas 300 paróquias, disseminadas por 28 cidades. São freguesias que vêm do período colonial, como as sediadas em Sabará, Caeté, Nova Lima, Raposos e Rio Acima. São aquelas, no outro extremo, comunidades relativamente novas, caso das que foram e vêm sendo criadas em Confins, Ribeirão das Neves e Ibirité. Ao longo dos 100 anos, essa abrangente missionação operou-se sob apenas quatro titulares – Dom Antônio dos Santos Cabral, Dom João Resende Costa, Dom Serafim Fernandes de Araújo e Dom Walmor Oliveira de Azevedo -, o que evidencia a longevidade de cada episcopado.

Como surgiu a Arquidiocese? Em finais dos anos 1920, Minas Gerais estava dividida em 10 circunscrições eclesiásticas, tendo a de Mariana como casa mater, posto que ereta em 1745. Soava estranho que a capital do Estado não sediasse nenhuma delas, permanecendo sob a jurisdição da arquidiocese marianense, cujo prelado, Dom Silvério Gomes Pimenta, julgava mais adequado o estabelecimento em Belo Horizonte de um bispo coadjutor ou de um auxiliar. O empenho de autoridades públicas do Estado e a vontade e articulações da Nunciatura Apostólica fizeram com que fosse nomeada comissão para análise da matéria, do que resultou a Constituição Apostólica Pastoralis sollicitudo, de 11 de fevereiro de 1921, instituindo a nova diocese e atribuindo-lhe 64 freguesias. Três anos depois, em fevereiro de 1924, ocorreu a elevação a arquidiocese, tendo por sufragâneos os bispados de Aterrado (Luz), Pouso Alegre, Guaxupé e Uberaba.

No momento de sua instalação, a Diocese já pode contar com o trabalho missionário e evangelizador não apenas do clero secular, mas, sobretudo, de religiosos europeus, como os redentoristas holandeses, os claretianos espanhóis, os franciscanos holandeses e os verbitas alemães, e as Irmãs da Piedade, as dominicanas francesas e as Servas do Espírito Santo.

O Concílio de Trento (1545-1563), no entanto, definira que os bispados devessem ter casas formadoras de seus quadros. Assim, em março de 1923, Dom Cabral anunciou a fundação do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, com prédio próprio inaugurado sete anos depois, onde, desde julho de 1969, se fixou o principal Campus da atual PUC Minas.

O primeiro arcebispo cuidou também de impulsionar a educação e o ensino. Nessa vertente é que surgiu, em maio de 1936, o Instituto de Cultura Católica, embrião da Sociedade Mineira de Cultura e das Faculdades Católicas de Minas Gerais, estatuídas em abril de 1948, com estímulo e apoio do mineiro Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, à época cardeal-arcebispo de São Paulo. A partir dessas faculdades é que, em dezembro de 1958, emergiu a Universidade Católica de Minas Gerais (UCM, distinguida como Pontifícia em 1983.

Com efeito, houve idêntico cuidado da Arquidiocese com outros níveis de escolaridade. Concretamente, desde a educação infantil, no âmbito do Colégio Santa Maria Minas, herdeiro do Colégio Arquidiocesano e do Sistema Arquidiocesano de Ensino, hoje com 13 unidades sediadas em Belo Horizonte, Nova Lima, Betim e Contagem. Anote-se, a propósito, que a denominação originária da rede é devida às irmãs dominicanas francesas estabelecidas em Belo Horizonte no ano de 1903.

Na comunicação social, mencione-se a criação, pela Arquidiocese, em abril de 1923, do periódico O Horizonte, que, em fevereiro de 1935 e até 1972, cedeu espaço para O Diário, o mais importante veículo da imprensa católica mineira e referência nacional. Em tempos recentes, o Jornal de Opinião (1989-2012) e Jornal Opinião e Notícias (a partir de fevereiro de 2013). Na mídia radiofônica e televisiva, a Rádio América (1955), a Rádio Cultura (1958), TV Horizonte (1998) e TV Educar (2013), integrantes da atual Rede Catedral de Comunicação Católica.

Ademais, aponte-se que, se na história da Igreja Católica a produção, a promoção e a difusão da cultura são instrumentos de evangelização, na Arquidiocese de Belo Horizonte têm sido presenças constantes. No cineclubismo implantado e incentivado, sobretudo nos anos de 1950 e 1960, de onde proveio a pioneira Escola Superior de Cinema, em 1961, logo incorporada à UCMG. Nas arquiteturas e multifacetados acervos de seus templos barrocos e contemporâneos, no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, nos bens culturais imateriais e nas suas expressões identitárias maiores, como sejam o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade e a Catedral Cristo Rei, tradição e modernidade, expressões culturais na contemporaneidade.

Nos 100 anos, muitos foram e são os eventos coletivos de expressão da fé católica organizados pela Arquidiocese, como, por exemplo, em momentos distintos, o importante II Congresso Eucarístico Nacional, em setembro de 1936, e as sucessivas edições, a partir de 1975, da Torcida de Deus.

Em simultâneo, o compromisso com as atividades de atendimento social configura-se, de forma sistemática, desde 1948, quando Dom Cabral criou a Ação Social Arquidiocesana (ASA), seguida, a partir dos anos de 1960, pela Caritas Arquidiocesana, posteriormente, pela Providência Nossa Senhora da Conceição e agora, dentre outras iniciativas, pela Providens – Ação Social Arquidiocesana e pelas três unidades do Projeto Providência.

Acentuem-se, ainda, decorrentes das resoluções do Concílio Vaticano II (1962-1965), os trabalhos das pastorais sociais na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, dentre outros marcos, assinalem-se as ações levadas a efeito no chamado “Setor Industrial”, isto é, parte da capital (região do Barreiro e da Cidade Industrial), além de Contagem, Betim e outros municípios circunvizinhos.

Diante de situações de marginalização social, tais entidades têm promovido e realizado significativas intervenções. Desde o movimento para constituição da Pastoral dos Direitos Humanos (1979) e da Pastoral do Mundo do Trabalho (1982), do Projeto Pastoral Construir a Esperança (1990), das Assembleias do Povo de Deus (a partir da década de 1990) às 15 diferentes pastorais atualmente mantidas pela Arquidiocese, sob a égide, dentre outros, do recém-designado Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental (Veaspam).

Nessa perspectiva, releve-se o contributo fundamental na formulação e na efetivação de políticas públicas e de direitos humanos, em testemunho cristão, solidário e transformador, com vistas a mitigar as acentuadas mazelas da realidade social, para além do desafio de enfrentar o secularismo e o fundamentalismo de outras crenças.

Evangelizar! Sempre! Lema e norte da centenária Arquidiocese.

Professor Caio César Boschi

Diretor do Centro de Memória e Pesquisa Histórica da PUC Minas, reflete sobre a atuação da Arquidiocese de Belo Horizonte na área social e na educação
| Foto: Marcos Figueiredo

A Revista PUC Minas não se responsabiliza pelas opiniões expressas pelos autores nos artigos assinados.

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