Enquanto o planeta convive com extremos climáticos em diferentes regiões, a inércia prevalece – a humanidade não muda a direção de suas ações e continua uma jornada que pode levá-la ao abismo. Há certo consenso sobre a necessidade de se mudar a rota, apesar de figuras relevantes no cenário geopolítico ainda promoverem o negacionismo climático. O que impede, pois, uma reação global, de modo a interromper o ciclo destrutivo que pode inviabilizar a vida no planeta? Certamente, um fator determinante é a falta de acordo a respeito de quem são os responsáveis pela dívida ecológica, incontrolavelmente crescente, especialmente neste período pós-revolução industrial. Sem a consciência a respeito de quem tem responsabilidade sobre a dívida, não há como pagá-la e, pior, é impossível impedir que cresça. Nas deliberações entre representantes dos países, ninguém assume a postura de devedor. Ao invés disso, cultiva-se a certeza de que a dívida do outro é maior. “A mudança cultural e estrutural para superar esta crise ocorrerá quando finalmente reconhecermos que somos todos filhos do mesmo Pai e, perante Ele, confessarmos que somos todos devedores, mas também todos necessários uns aos outros, segundo uma lógica de responsabilidade partilhada e diversificada”, advertiu o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
A falta de atitude contundente diante da certeza de que se vive uma ameaça climática é evidenciada ao observar os resultados dos muitos eventos internacionais dedicados à preservação do planeta. Neste ano, por exemplo, o Brasil vai sediar a 30ª edição da Conferência das Partes promovida pelas Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), reunindo líderes governamentais de todo o mundo. A Conferência, reconhecidamente importante, em seus trinta anos, não levou a significativos avanços nas negociações para minimizar a poluição e reduzir a contaminação da atmosfera com os gases que acentuam o aquecimento global. Ora, quando ninguém assume a própria responsabilidade diante do problema, não se avança. Ao contrário, se ninguém está disposto a assumir a responsabilidade, o problema se agrava.
Até são construídos consensos fundamentados em sólidos estudos acadêmicos sobre as mudanças climáticas. Chega-se a estabelecer metas para diminuir a deterioração que pode tornar o planeta hostil à vida humana. Mas, no fim, as nações, sem qualquer constrangimento, descumprem o que previamente alinharam. Em nome dos interesses de grupos econômicos, de uma competição predatória entre os próprios países, desconsideram a necessidade de uma rigorosa obediência aos padrões de sustentabilidade. E a justificativa para desrespeitar acordos é atribuir ao outro a responsabilidade maior pelo aquecimento global.
Para efetivamente avançar no cumprimento de metas, importa, pois, acolher a orientação do Papa Francisco: “Cada um de nós deve sentir-se, de alguma forma, responsável pela devastação a que a nossa Casa Comum está sujeita, a começar pelas ações que, mesmo indiretamente, alimentam os conflitos que assolam a humanidade. Assim, fomentam-se e entrelaçam-se os desafios sistêmicos, distintos, mas interligados, que afligem o nosso planeta”.