A elaboração do luto infantil

Pesquisa aborda como comunicar morte às crianças
Crédito: Quinho

A morte é inevitável, mas falar sobre ela ainda é um tabu na sociedade. Quando se trata de crianças, principalmente, muitas pessoas não sabem como abordar sobre a perda de um ente querido. Pensando nisso, estudantes do Curso de Psicologia da PUC Minas desenvolveram a pesquisa A elaboração do luto infantil: como comunicar a perda às crianças, orientados pela Diretora do Instituto de Psicologia, Profª Drª Betânia Diniz Gonçalves.

O estudo aconteceu durante as disciplinas de Estágio II e III e foi delimitada a faixa etária de 5 a 7 anos para a análise. A aluna Helena Brandl, uma das autoras, explica que a escolha se deu porque, nessa idade, “as crianças possuem uma compreensão maior da morte, o que facilitaria na coleta de dados acerca da comunicação sobre o falecimento do ente querido e sobre as melhores maneiras de fazer com que ela entenda a irreversibilidade da morte, objetivo da nossa pesquisa”. Ela ainda afirma que “ser criança não é um impedimento para a compreensão do luto, uma vez que elas também são capazes de compreender e internalizar sentimentos relativos ao processo”.

Durante as investigações, os alunos constataram que cada família deve analisar o contexto para decidir qual é a melhor forma de comunicar a morte, e que é imprescindível deixar o indivíduo ciente do que aconteceu. “Ao não falar, o adulto crê estar protegendo a criança, como se essa proteção aliviasse a dor e mudasse magicamente a realidade. O que ocorre é que a criança se sente confusa e desamparada, sem ter com quem conversar”, relata o estudante Breno Leone, também autor do trabalho.

Para a pesquisa, o grupo entrevistou duas psicólogas que trabalham com luto infantil, e foi averiguado que a conversa sobre a morte deve ser clara e numa linguagem acessível à criança. Uma das alternativas é usar contos ou histórias, para que a notícia seja transmitida de maneira mais lúdica, contudo, é importante deixar claro que o ente que faleceu não voltará. “Situações em que se utiliza de frases como “ele foi embora” ou “virou estrelinha” podem dar a entender que o falecido pode retornar ou que apenas se mudou para outro lugar”, pontua Helena.

Sobre a melhor maneira de comunicar, Breno elucida que, se possível “tenha um profissional da Psicologia na vida dessa criança e que seja reforçado que sua família também está passando pelo luto e está lá para acolhê-la”. Contudo, a notícia deve ser dada por um membro da família que tenha proximidade com o indivíduo em questão. “A partir da pesquisa, concluímos que os profissionais da Psicologia não devem ocupar esse lugar de comunicação direta, mas sim de mediação, acolhimento e auxílio durante o processo de conversação sobre a perda, num movimento de elaboração do luto. Nesta situação, os enlutados poderão recorrer a um psicólogo, que priorizará o acolhimento e a escuta ao paciente”, complementa.

Quanto à diferença entre o luto adulto e o infantil, a professora distingue que a criança está construindo suas ideias e afetos, podendo ainda não ter palavras para nomear o sentimento e a vivência em torno da perda. “O adulto, em tese, já teria mais condições de nomear e elaborar a perda, contudo a experiência da perda e do luto é singular e podemos ter adultos com dificuldades de elaboração e crianças que, bem acolhidas, conseguem superar a perda e se projetar em novas experiências”, aponta.

A pesquisa

A elaboração do luto infantil: como comunicar a perda às crianças aponta que, em muitos casos, a comunicação da perda não acontece de forma ideal, pois é comum que as pessoas evitem o contato com a tristeza e procurem voltar à normalidade o mais rápido possível, evitando pensar no que aconteceu. “Entretanto, se a criança compreende melhor a situação, pode elaborar com mais qualidade essa perda e reconstruir seu caminho, se projetando para experiências positivas que lhes tragam afeto e oportunidades”, aponta a Profª Betânia.