Adoecimento mental

Faculdade de Psicologia desenvolve ações junto ao projeto Parlamento Jovem de Minas
Sessão do Parlamento Jovem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com a participação de alunos do Ensino Médio | Fotos: Bruno Timóteo
Sessão do Parlamento Jovem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com a participação de alunos do Ensino Médio | Fotos: Bruno Timóteo

Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), de 2019, colocam o Brasil no topo do ranking de países com o maior número de pessoas ansiosas do mundo, com 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) sofrendo da enfermidade. Como se não bastasse, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%, ainda segundo a OMS. Levantamento de 2021 do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) aponta que um em cada sete meninos e meninas de 10 a 19 anos vive com algum tipo de adoecimento mental diagnosticado.

Diante dessa realidade, alunos do Ensino Médio participantes do projeto Parlamento Jovem, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em parceria com a PUC Minas, decidiram, por meio de votação eletrônica no ano passado, colocar em pauta para discussão em 2022 o tema da saúde mental do jovem. Como parte das atividades da etapa municipal – a terceira de cinco –, que ocorreu de março a julho de 2022, as câmaras municipais parceiras promoveram ações de formação política e temática, que contou com orientações e apoio de materiais produzidos por extensionistas, professores e funcionários técnico-administrativos da Universidade.

O PJ Minas é um programa de educação política e cidadã voltado para estudantes do Ensino Médio dos municípios mineiros. É promovido pela ALMG, por meio da Escola do Legislativo, em parceria com as câmaras municipais e com apoio do Curso de Ciências Sociais da PUC Minas, da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e da Faculdade de Psicologia (Fapsi), por intermédio de dois projetos de extensão: Parlamento Jovem de Minas (PJ Minas – Parceria Estadual), coordenado pelo professor Alexandre Eustáquio Teixeira, e Parlamento Jovem de Minas Gerais em Belo Horizonte (PJ BH), coordenado pela professora Ângela Maria Siman.

“Neste ano, construímos uma parceria com a Fapsi para conseguirmos acolher e trabalhar essa temática com propriedade”, explica o professor Alexandre Eustáquio Teixeira. “A escolha da temática é expressão da situação vivenciada pelos jovens na atualidade. Um mundo cada vez mais complexo e com os desafios impostos por uma severa crise sanitária, acompanhada por uma crise social, econômica, política e moral que não será revertida facilmente”, afirma.

Para subsidiar as discussões e capacitar os envolvidos, foram produzidos pelas equipes do Curso de Ciências Sociais e da Faculdade de Psicologia materiais informativos e acolhidas demandas de coordenadores municipais do projeto que enfrentaram dificuldades em lidar com a temática. Também foi oferecido apoio a instituições de ensino que identificaram alunos com algum tipo de transtorno mental. Em setembro, durante a etapa estadual, foi organizado um plantão psicológico, com a atuação de graduandos de Psicologia do Campus Coração Eucarístico, que acompanharam os cerca de 150 jovens que participaram, presencialmente, das atividades do projeto em Belo Horizonte.

O objetivo da etapa estadual, que aconteceu em setembro, é propor soluções e encaminhamentos ao Legislativo sobre o tema em pauta. A atividade é conduzida pela Escola do Legislativo e das áreas de Projetos Institucionais e de Consultoria Temática da ALMG, com o apoio da PUC Minas. A assessora acadêmica da Proex, Ana Teresa Brandão de Oliveira e Britto, esteve presente na plenária estadual e disse, em pronunciamento oficial: “O Parlamento Jovem é um projeto que se alinha fortemente à missão da nossa Universidade, por buscar contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, cidadã, democrática.”

Responsável pelo estágio de Saúde Pública do Curso de Psicologia da Unidade São Gabriel, o professor Flávio Durães coordenou um grupo de cinco estagiários que organizou oficinas e produziu materiais como vídeos e podcasts. Durante a etapa municipal, no primeiro semestre, o grupo prestou orientações e ofereceu apoio para os municípios de João Monlevade, Juiz de Fora e Limeira do Oeste. “Foi uma experiência inédita, realmente diferente, porque esses alunos estavam no seu último período de curso e tiveram a oportunidade de exercitar esse lugar do psicólogo, desse trabalho com a saúde mental, com a saúde pública principalmente.”

A funcionária da Proex e psicóloga Júnia Ferreira, o professor Alexandre Eustáquio Teixeira, coordenador do PJ Minas, e a professora Ângela Siman, coordenadora do PJ BH

Escuta como promoção da saúde

A aluna do Curso de Psicologia do Campus Coração Eucarístico Jaqueline Mulelos dos Santos Gonçalves, 49, do 6º período, turno manhã, foi uma das que prestou plantão psicológico na ALMG. Durante três dias, ela se colocou à disposição para realizar a “escuta imediata” de jovens. “Compreendo que potencializar o lugar de fala dos jovens sobre essa temática é dar oportunidades concretas de atuação, a partir das suas múltiplas inserções sociais, experiências, visões de mundo, opiniões, críticas e análises, elaborando propostas para o enfrentamento dos desafios da adolescência”, diz.

Para Francesco Henrique de Siqueira Marine, 16, aluno do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Manoel Casasanta, situada no bairro Palmeiras, região Oeste da capital, o debate sobre o tema veio em “um tempo perfeito”, por conta da pandemia. Sobre a oficina de arte e saúde mental realizada em sua escola, ele comentou: “Achei muito interessante a experiência porque pegou todo mundo da sala, não só quem participava do Parlamento”. Durante o período de isolamento social, ele conta que se sentiu triste, pensou em desistir de tudo, mas que conseguiu por si só superar a adversidade. Hoje, depois de passar pelo projeto, ele se diz mais preparado: “Se eu tiver algum sintoma de novo com certeza vou procurar um psicólogo, porque agora sei como identificar os problemas e como resolvê-los também”.

Quem acompanhou a oficina na Escola Manoel Casasanta, juntamente com a professora Cristina Campolina, foi a funcionária da Proex e psicóloga Júnia Aparecida Ferreira, integrante da equipe de coordenação do PJ Minas há cinco anos. De acordo com ela, a arte pode ser considerada um instrumento de promoção da saúde mental. “Sendo uma forma de expressão, a arte pode ser um instrumento para que os jovens possam se conectar com outros jovens, com outros grupos, aumentarem suas redes de sociabilidade, ao mesmo tempo em que dá vazão às próprias emoções”, explica. Durante a atividade, ela diz que foi possível perceber as potencialidades do grupo, incentivar o uso da escrita, da música e de outras manifestações como instrumentos de promoção da saúde.

Abraço à causa

A coordenadora municipal do PJ em Poços de Caldas e coordenadora regional do Polo Sudoeste PJ Minas, que reúne 17 municípios da região, Taís Ferreira, considera o projeto uma oportunidade para apresentação de demandas e possíveis soluções. “Foi de grande valia para os jovens, a gente percebeu que eles abraçaram a causa da saúde mental.” Ela elogiou a qualidade do material produzido pela Faculdade de Psicologia: “O material disponibilizado, tanto o texto base como material de apoio, foi de grande valia para nós, coordenadores. Porque a gente se sente seguro em ter uma instituição produzindo esse material e a gente leva o nome da PUC, que é uma instituição de peso”.

Veruska Célia Gontijo Pereira, uma das coordenadoras do Parlamento Jovem de Minas pela ALMG, considera a PUC Minas uma “grande apoiadora” do projeto e afirma ter sido expressivo o suporte oferecido pela Faculdade de Psicologia. “Foi um apoio significativo, os coordenadores identificam assim, muitos colocaram o quanto foi positivo esse movimento da Universidade, seja ele de forma virtual ou presencial. Foi um presente que a gente ganhou nesta edição”, observou.

Conheça as etapas do Parlamento Jovem

Preparação: Estudantes do Ensino Médio discutem e escolhem o tema da próxima edição. Representantes responsáveis pelo projeto nas câmaras ingressantes fazem formação introdutória.
Implantação: Câmaras assinam Termo de Adesão ao PJ Minas, elaboram o planejamento das atividades nos municípios, definem quais serão as escolas participantes, mobilizam monitores e demais parceiros, como instituições de educação superior locais. É realizado o lançamento oficial.
Etapa Municipal: Câmaras mobilizam os monitores e os estudantes do Ensino Médio das escolas escolhidas, que participam de um programa de formação política e temática. Os estudantes realizam a Plenária Municipal, onde discutem e votam um documento de propostas sobre o tema da edição, a ser encaminhado à Câmara.
Etapa Regional: Em cada polo regional, estudantes discutem, elaboram e votam a priorização de propostas que comporão um documento consolidado do polo, a ser encaminhado à Coordenação Estadual.
Etapa Estadual: A Coordenação Estadual recebe os documentos de propostas dos polos. As propostas são consolidadas e divulgadas em um documento único. Os representantes eleitos por seus pares se encontram na Assembleia para discutir as propostas e elaborar um documento a ser encaminhado à Comissão de Participação Popular (CPP) da ALMG.

Fonte: Site da ALMG

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