O uso da água de poços artesianos tem se tornado uma alternativa cada vez mais comum para o abastecimento residencial em diversas regiões do Brasil. Essa opção oferece autonomia e independência da rede pública de distribuição, além de representar um potencial de economia na conta de água. No entanto, estudos mostram que é fundamental ter cautela no consumo.
A pesquisa Análise físico-química e microbiológica da água em regiões do município de Betim: um enfoque na saúde pública no uso de poços artesianos versus consumo de água, desenvolvida no Programa de Bolsa a Iniciação Científica e Tecnológica da Fapemig, pelas alunas Tânia Marques, Lívia Maciel e Marcella Romanhol do Curso de Biomedicina do Campus Betim, sob orientação do professor Dr. Allysson Cramer e coorientação do professor Marcus Vinícius Tolentino, analisou a água de poços artesianos nas regiões Norte, Sede, Citrolândia, Vianópolis e Imbiruçu, em Betim, e os resultados surpreenderam.
“O interesse pela pesquisa se justifica pela grande quantidade de poços em Betim. No município, os poços são antigos e, às vezes, feitos de forma irregular, sem autorização do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão estadual que autoriza a perfuração de poços artesianos”, explica a aluna Tânia.
Para o estudo, foram coletadas dez amostras com o intuito de avaliar os parâmetros físico-químicos, como potencial hidrogeniônico (pH), turbidez, condutividade elétrica, dureza total e concentração de íon nitrato, além da análise microbiológica para verificação de coliformes totais e fecais. Segundo a pesquisa, estes parâmetros atestam a potabilidade e qualidade da água, quando estão de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde.
As análises físico-químicas de pH indicaram que 70% dos poços apresentaram-se abaixo dos padrões permitidos pelo Ministério da Saúde e 60% das amostras constaram alto teor de compostos iônicos dissolvidos na água. Já os parâmetros microbiológicos apontam que 90% das amostras indicaram presença de coliformes totais e 20% mostraram resultados positivos para coliformes fecais. “A presença destes microrganismos nas fontes de água, subterrâneas ou superficiais, são responsáveis por ocasionar sinais e sintomas da doença diarreica aguda (DDA) após o seu consumo. Sem os devidos processos de desinfecção, o uso dessa água, seja para consumo humano, animal ou até mesmo para irrigação, não é recomendado pelo Ministério da Saúde”, esclarece o coordenador do estudo.
Riscos à saúde
Segundo a pesquisa, para a qualidade da água ser segura, a construção de poços artesianos deve seguir alguns procedimentos técnicos. Por isso, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece diretrizes a serem usadas para a captação de águas subterrâneas, e estão envolvidas pelas leis 9.433/97 e 9.605/98, que fazem parte da Política Nacional de Recursos Hídricos.
O professor Allysson explica que entre os padrões estabelecidos pelas NBRs (Normas Técnicas Brasileiras) estão o levantamento de dados, como a formação do solo, a provável composição físico-química da água, potenciais áreas de risco de contaminação, diâmetro da perfuração, o selamento, construção de laje de proteção sanitária etc. “Alguns estudos têm demonstrado que os Sistemas de Abastecimento Individual (SAIs) podem conter perigos, em áreas urbanas e rurais, se não tiverem assistência e monitoramento por entidades que possam colaborar na vigilância da qualidade da água. Além disso, é importante ter ciência que poços rasos, como alguns encontrados em Betim, podem ser mais susceptíveis à contaminação, assim como os SAIs que optam por águas de minas/nascentes, pois, dependendo da captação, podem ofertar água de baixa qualidade”, ressalta.
Ao longo do estudo, concluiu-se que boa parte dos poços artesianos pesquisados se apresenta fora dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde, indicando a necessidade da realização de processos de desinfecção da água. “Por isto, enfatizamos a necessidade de instrução à população quanto ao uso apenas de água tratada, evitando contaminações e o desenvolvimento de doenças provenientes da alta concentração dos compostos e microrganismos que possam estar presentes na água”, reitera.
Para os professores Allysson e Marcus Vinicius, a pesquisa é muito importante, pois atende a uma demanda da população, além de reforçar o papel da PUC Minas como uma instituição comprometida em gerar conhecimento e fornecer orientações relevantes para a comunidade.
Dicas para manutenção da qualidade da água em poços artesianos
- Faça a limpeza/desinfecção periódica e preventiva do local;
- Mantenha a área ao redor do poço livre de contaminação;
- Estabeleça uma rotina para avaliar componentes importantes, como filtros e bombas;
- Use sistema de cloração.