Artífices da inteligência

A humanidade, em diferentes ciclos de sua história, experimenta revolucionários avanços ligados à técnica e à produção do conhecimento, com variados impactos civilizatórios. “Revoluções” que, em si, não podem ser classificadas como “boas” ou “más”. Frutos e a serviço da inteligência humana, dom de Deus, essas transformações, idealmente, deveriam contribuir para o desenvolvimento de toda a humanidade. Mas, bem se sabe, o ser humano convive com seus “altos e baixos” – luzes e sombras que incidem sobre modos de agir no mundo. Agora, um misto de expectativa e apreensão emoldura a nova revolução em curso: o ser humano torna-se artífice da inteligência.

“Acima da inteligência artificial está aquela que a criou, a inteligência humana – muito mais que simplesmente um instrumento orientado à criação de objetos. A inteligência humana reveste-se de uma centelha divina, possibilitando a cada pessoa reconhecer a sua própria dignidade”
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte.

Na perspectiva cristã, a inteligência humana é dom de Deus, fruto da ação amorosa do Espírito Santo. Oportuno lembrar: Deus, que tudo pode, por seu amor, concedeu ao ser humano a nobre tarefa de continuar a sua obra. O conhecimento e a técnica são fruto da inteligência humana, mas, ao mesmo tempo, contribuem para ampliá-la. Agora, ao ser humano, artífice da inteligência artificial, abre-se um horizonte de possibilidades, com nova força para a sua capacidade criativa. Enquanto a inteligência artificial assume certas tarefas, aquela inteligência que a criou liberta-se para abraçar novos desafios. Dentre eles, é preciso atenção ao que pede o Papa Francisco: um diálogo aberto sobre o significado dessas novas tecnologias, trabalhar, de forma responsável, ao se produzir e usar esses dispositivos para estar a serviço da humanidade e pela proteção da Casa Comum.

Acima da inteligência artificial está aquela que a criou, a inteligência humana – muito mais que simplesmente um instrumento orientado à criação de objetos. A inteligência humana reveste-se de uma centelha divina, possibilitando a cada pessoa reconhecer a sua própria dignidade. Deste modo, sensibilizar-se com os anseios e as dores de seu semelhante. Trata-se de matriz para a inteligência artificial, orientando-a, direcionando-a. O Cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, sublinha que é preciso reconhecer o primado da pessoa sobre as coisas, a superioridade do espírito sobre a matéria. Nesse sentido, compreenda-se: a inteligência artificial é cópia. Sendo cópia, é incompleta em relação à inteligência humana. Possa a humanidade avançar no desenvolvimento da ética, de uma antropologia integral, para que a primazia da vida seja respeitada no uso da inteligência artificial. Um avanço necessário nesse tempo de artífices da inteligência.

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