Assis é aqui

Membros do GRT para a Economia de Francisco e Clara retornam de encontro mundial com o Papa Francisco com novos desafios
Ramon, Marina, Eduardo e Emmanuele participaram do encontro com o Papa em Assis | Foto: Douglas Henrique
Ramon, Marina, Eduardo e Emmanuele participaram do encontro com o Papa em Assis | Foto: Douglas Henrique

Um convite à ação. Foi desta forma que os integrantes do Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara da PUC Minas, Eduardo Brasileiro, Emmanuele Silveira, Marina Oliveira e Ramon Jung, que participaram do evento Encontro Global para a Economia de Francisco, que aconteceu em setembro em Assis, na Itália, receberam as palavras do Papa Francisco no discurso proferido por ele aos mais de mil jovens de todo o mundo participantes do evento. “Sois chamados a tornar-vos artífices e construtores da casa comum, uma casa comum que está em ruínas”, disse o Papa. O encontro acontece pela primeira vez presencialmente após a primeira carta do pontífice endereçada aos jovens, em 2019, em que destacou a urgência de “uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda”. O encontro em Assis, mais do que um evento, é uma etapa da caminhada. “Ficou muito clara a ideia de continuidade. De que estamos apenas no início do desafio que é a Economia de Francisco”, explica a economista e funcionária da PUC Minas, Emmanuele Silveira.

O desafio colocado pelo Papa Francisco às novas gerações é enorme e requer questionar o modelo de desenvolvimento atual e construir, com ações concretas, uma nova realidade pelos pobres e com os pobres. “A gente voltou muito mais forte e desafiado. Qual é de fato a Economia de Francisco e Clara que eu quero, que a gente quer? Agora é hora de contrapor, de partir para ações concretas”, afirmou Ramon Jung, membro do GRT, professor da pós-graduação do IEC PUC Minas e pesquisador associado ao Núcleo de Pesquisas em Ética e Gestão Social do Programa de Pós-graduação em Administração.

A avaliação dos membros do GRT é de que a Universidade está avançada em relação à construção de articulações locais para a disseminação dos conceitos da Economia de Francisco, assim como para o desenvolvimento de ações. “O encontro mundial dá força a construir iniciativas onde não tem, e onde já existem, impulsiona ainda mais. É o caso do Brasil e especificamente da PUC Minas, onde desde agosto de 2021 o GRT foi formado. Isso nos fortalece em especial porque a mensagem do Papa Francisco reforça o caminho que temos construído, ou seja, o foco no trabalho e nos trabalhadores, nas ações concretas, na produção e difusão de conhecimento comprometido com um projeto anticapitalista”, afirma Frederico Santana Rick, coordenador do GRT para Economia de Francisco e Clara.

Para o desenvolvimento destas ações, o grupo destaca que o GRT trabalha em parceria com outros grupos, como a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (Abefc) e que também está avançando em uma parceria com representantes da Universidade Buenos Aires no que tange à curricularização da EFC na educação. “Nossa atuação tem um caráter de coletivo, dando ênfase ao trabalho em três eixos: territórios, movimentos populares e educação. Por meio destes eixos é possível construir uma proposta em que os pobres sejam protagonistas da mudança e que possamos superar o modelo econômico atual, como nos aconselhou o Papa”, explica o sociólogo Eduardo Brasileiro, membro do Núcleo de Estudos Sociopolíticos e da equipe de coordenação da Abefc.

Diferentes realidades

Durante o encontro, o grupo consolidou também a percepção de que a Economia de Francisco é diferente nos diversos países. “Ficou evidente como a América Latina e a África passaram por processos de colonização e escravidão e que a Economia de Francisco necessária para essas realidades é diferente da Economia de Francisco da Europa”, afirma a defensora dos direitos humanos e assessora da Conferência dos Bispos da União Europeia, Marina Oliveira. “A gente vê a luta do outro e se sente mais fortalecido. É importante reconhecer a força que vem do Sul Global”, completa. Ramon Jung complementa. “Quando falamos sobre a economia, é impossível desconsiderar o aspecto social, a colonização que aconteceu nos povos aqui no nosso território, a questão do racismo, da desigualdade, a questão do feminino. E percebemos que essas são questões muito particulares aqui do Brasil, da América Latina e também dos povos da África. Então, agora Clara, para a gente, é o que distingue a nossa perspectiva no Brasil”, diz Ramon, ao fazer referência a Santa Clara, que foi adotada pela frente brasileira. “A Europa pode buscar por alternativas menos financeirizadas dentro do modelo existente. Para eles, o capitalismo está com problemas, mas pode ser corrigido. Já a América Latina busca por alternativas ao modelo, temos que pensar em um modelo novo para substituir o existente”, explica Eduardo.

Conversão ecológica

No discurso aos jovens, também ficou evidente a urgência da mudança de postura das novas gerações em relação ao meio ambiente. “A terra arde hoje, e é hoje que devemos mudar, em todos os níveis”, disse o Papa Francisco fazendo referência à necessidade de uma conversão ecológica, uma vez que nos últimos dois séculos a humanidade saqueou o planeta para aumentar o bem-estar de poucos. E, neste aspecto, ficou evidente a confiança na juventude. “O Papa Francisco deixou claro que nos vê não como uma juventude da utopia, mas uma juventude que pode ir para o real. Nas suas muitas frentes de atuação, não só acadêmicas ou não só dentro das lógicas econômicas, mas uma juventude que tem possibilidades de, onde estiver, no chão da sua realidade, atuar”, lembra Douglas Felipe Gonçalves de Almeida, seminarista da Arquidiocese de Belo Horizonte e aluno do Curso de História, que não é membro do GRT, mas que também participou do evento em Assis.

Temas Relacionados

Fale Conosco