Com a mão na massa

Concreto Uai PUC Minas se destaca em pesquisas e competições
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Cimento, água e agregados, como areia e brita. Essa é a composição básica do concreto, um dos elementos principais da construção civil e também o objeto de pesquisa e material de trabalho de um projeto que carrega o nome desse material, com um toque de mineiridade: o Concreto Uai – PUC Minas.

O Concreto Uai é um projeto interdisciplinar que visa a participação de estudantes dos Cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo em atividades que envolvam a tecnologia do concreto. O mais curioso – e divertido – é que esse conhecimento é testado em competições estudantis promovidas pelo Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon).

O coordenador do Concreto Uai, professor Ayrton Hugo de Andrade e Santos, explica que, como o objetivo das competições é obter concretos com ultra-alto-desempenho – ou concretos leves estruturalmente ou concreto coloridos – os alunos são incentivados a terem autonomia e proatividade na proposição de soluções para os diversos problemas. Para isso, é necessário investimento massivo em pesquisa, o que já resultou em mais de 25 artigos técnico-científicos publicados. “Sem falta de modéstia, hoje os alunos da PUC Minas produzem o concreto mais resistente, mais colorido e mais ousado do Brasil”, orgulha-se.

Na última edição do Concurso Brasileiro de Concreto, realizado em outubro deste ano, a equipe ficou em primeiro lugar geral entre as 15 Instituições de Ensino Superior (IES) participantes. Além do primeiro lugar geral, a equipe da PUC Minas esteve em mais três pódios: ficou em primeiro lugar na competição Concreto Colorido de Alta Resistência (Cocar), que busca desenvolver concreto com pigmento de alta resistência; também conquistou o primeiro lugar no Aparato de Proteção ao Ovo (APO), no qual os estudantes têm que projetar e construir um pórtico em concreto capaz de resistir a cargas crescentes de impacto durante o ensaio de carregamento dinâmico; e em segundo e quarto lugar no Concurso Ousadia, em que os estudantes elaboram o projeto básico estrutural de uma obra em concreto e desenvolvem o planejamento preliminar de sua construção e o paisagismo do entorno, tendo como objetivo apresentar a solução mais ousada para este desafio, conforme critérios definidos no regulamento.

Mas, como essas competições colaboram para a formação acadêmica e profissional dos estudantes? “Elas valorizam a visão holística necessária à materialização de um empreendimento de construção civil e estimulam a busca conjunta para otimização de parâmetros como eficiência energética, estabilidade estrutural, durabilidade, conforto, sustentabilidade e integração harmônica com o meio, além disso amplia os conhecimentos da tecnologia do concreto e sua interação com aplicações estruturais, estimulando o senso de responsabilidade, demonstrando a importância da aplicação de normas técnicas para respaldar as soluções adotadas”, explica o coordenador.

Desenvolvida desde 2015, a atividade foi iniciada como projeto de extensão. “Foi a partir de um projeto voltado ao apoio de comunidades carentes, onde realizávamos ensaios laboratoriais em materiais alternativos, que vimos a possibilidade de aplicar estes materiais em concursos estudantis. Com o passar dos anos, os materiais permitidos nos editais dos concursos começaram a ser mais e mais restritivos. Com isso a pesquisa tecnológica ganhou um peso maior nos estudos, perdendo-se um pouco desta relação com a comunidade, que é um pilar da extensão. Por isso, hoje o projeto é muito voltado para a pesquisa de novos materiais e para as competições estudantis”, explica.

Com a mudança de escopo, o projeto foi vinculado à Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação (Proppg) e conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), por meio do Edital Santos Dumont, que busca, dentre outros impactos, maior inserção de jovens no ambiente de pesquisa. “Esse edital se encaixou como uma luva nessa nova fase do projeto, uma vez que subsidiou o acesso a diversos materiais e equipamentos, qualificando a equipe e favorecendo os resultados obtidos”, pontuou.

Ao longo dos oito anos de atividades, mais de 90 estudantes da Universidade passaram pela equipe, que possui atualmente 23 integrantes. Além dos participantes efetivos, a equipe contou com a participação de alunos que colaboram com a equipe em projetos de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Concreto colorido

Após quatro semestres estudando remotamente em razão da pandemia, Sthefany Costa, aluna do sexto período do Curso de Engenharia Civil, viu no Concreto Uai a oportunidade de vivenciar a experiência universitária em todas as suas dimensões: ensino, pesquisa, extensão e também convivência com estudantes e professores. “Depois de dois anos em casa, tive vontade de participar de algum projeto, algo que me inserisse. Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Concreto Uai”, conta. O laboratório em questão é onde é desenvolvido o Concreto Colorido de Alta Resistência. O trabalho rendeu a Sthefany a oportunidade de capitanear a equipe que competiu nesta modalidade na última edição do Congresso Brasileiro de Concreto, e saiu vencedora. “As aulas nas faculdades geralmente são muito teóricas e em função da quantidade de alunos, até para ter uma melhor organização do espaço e tempo, muitas vezes, nós alunos não temos a oportunidade de executar todas as tarefas práticas no laboratório. Colocar realmente a mão na massa como a gente colocou ao participar da equipe, ter que aprender a trabalhar em grupo, ao meu ver foi uma preparação para o que a gente vai encontrar na vida, no mercado de trabalho”, declara a estudante. “Eu particularmente, nunca tinha feito concreto na vida. Tinha acompanhado virtualmente uma vez. E hoje faço de olhos fechados. Só de bater o olho a gente sabe se está no ponto, se deu certo, se deu errado. Então, nós ganhamos muita experiência na prática, consolidando os conceitos teóricos aprendidos”.

Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da PUC Minas, Mayara Castro teve o Concreto Uai como a primeira experiência de pesquisa, que continuou no projeto mesmo após se graduar em Engenharia Civil, atuando como coorientadora. “O projeto foi o xeque-mate para minha decisão profissional. Sabia que queria seguir a carreira acadêmica, todavia, não sabia ainda em qual área. Através do Concreto Uai – PUC Minas descobri a minha paixão por concretos especiais, então, desde que conheci o projeto pesquiso e produzo sobre esta temática”, conta a professora universitária. Mas, é outro título que ela carrega com carinho: o de decana da equipe. “O Concreto Uai é muito além de um grupo de competições sobre concreto. É uma equipe de partilha de talentos, de conhecimentos, de ideias e sobretudo de experiências. Hoje na equipe não opino nada em relação aos concursos estudantis, visto que faço parte da Comissão Nacional. Mas tenho certeza que o meu legado está sendo passado e que os graduandos possam sair cada vez mais preparados para diferentes situações do mercado de trabalho”, afirma.

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