Conhecimento além das fronteiras

Alunos da pós-graduação participam de programa em conjunto com universidades do exterior
Os estudantes Erick, Fabyolla e Rodrigo participaram de ciclo de aulas com professores brasileiros e de debates com professores estrangeiros | Foto: Guilherme Simões
Os estudantes Erick, Fabyolla e Rodrigo participaram de ciclo de aulas com professores brasileiros e de debates com professores estrangeiros | Foto: Guilherme Simões

Aumento do repertório teórico e metodológico dos alunos, vivências de outros contextos, promoção de trocas culturais e estímulo de um novo idioma. Estes são alguns dos benefícios da internacionalização em universidades, que insere as instituições de ensino superior no cenário científico e acadêmico internacional.

“Projetos de internacionalização não apenas expandem as fronteiras da produção e difusão do conhecimento, como também fortalecem a posição da Universidade no cenário global. Vivemos em uma realidade multifacetada, marcada por desafios sociais e problemas de pesquisa singulares, e, ao mesmo tempo, contamos com uma produção científica de alta qualidade, tanto teórica quanto metodologicamente, nas diversas áreas de conhecimento”, afirma a Profa. Dra. Rachel Almeida. “A colaboração com pesquisadores de outros contextos geopolíticos é uma oportunidade para fortalecer essas trajetórias acadêmicas e científicas, contribuindo para um ambiente de pesquisa mais inovador e robusto”, complementa.

Foi com o objetivo de comparar o uso de espaços públicos de diferentes realidades que o Centro de Tecnologia & Sociedade, uma plataforma de cooperação interuniversitária austríaca, financiou o projeto Youth (Juventude, em português). A PUC Minas foi convidada para integrar a pesquisa, contribuindo com a análise do cenário de Belo Horizonte, junto com as universidades Bar-Ilan, em Tel Aviv (Israel) e TU Wien, FH Campus Wien e FH Technikum Wien, em Viena (Áustria).

A iniciativa teve como objetivo desenvolver um quadro metodológico para analisar a influência das desigualdades sociais no acesso e participação dos jovens nos espaços públicos, tanto urbanos quanto digitais, e foi coordenado, na PUC Minas, pela professora Rachel. Antes do início do programa, Rachel foi pesquisadora visitante na TU Wien, quando participou da elaboração desse projeto.

De acordo com a professora, o financiamento exigia, além da produção científica, a capacitação de novos pesquisadores e a interlocução com ONGs e/ou esferas dos poderes públicos locais. A partir disso, surgiu a disciplina intitulada Juventudes, Espaços Públicos e Tecnologias, organizada pelos Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais, Educação e Psicologia e que teve a participação de seis alunos da PUC Minas. Além das aulas do curso, os discentes também participaram de uma Escola de Primavera, que reuniu os integrantes de Viena e Tel Aviv para comparar os resultados das pesquisas realizadas nas três cidades.

As professoras Viviane Zerlotini e Rachel Almeida coordenaram a disciplina na PUC Minas | Foto: Guilherme Simões

Resultados da pesquisa

A Profa. Dra. Viviane Zerlotini foi convidada para contribuir com o projeto e conta que a pesquisa se propôs a entender como os jovens de Belo Horizonte se apropriam do espaço público e a correlação entre o uso desses espaços e das tecnologias digitais. Para isso, foram analisados grupos de diferentes classes sociais. “Estudamos o modo como o uso ou não das redes socias influenciam como os jovens se apropriam dos espaços públicos, dentro do recorte de desigualdade socioespacial e desigualdade racial”, explica.

A partir dos dados da pesquisa, a professora Viviane aponta que “é muito revelador o quanto que os jovens estão desassistidos de políticas públicas”. De acordo com o que foi apurado pelos participantes, as principais dificuldades da mobilidade urbana e ocupação de espaços públicos estão relacionadas à violência e ao preconceito, especialmente contra pessoas de baixa renda e jovens LGBTQIA+. “Ter isso registrado pode contribuir com a luta desses jovens pelo reconhecimento em espaços públicos”, endossa.

Outro ponto levantado foi que os jovens de baixa renda têm menos tempo livre para frequentar os espaços públicos. “Eles trabalham, estudam, fazem atividades domésticas. Quando conseguem sair, a oportunidade de encontro é muito estimulante. Isso revela que o espaço público é de fato o lugar do encontro e de conviver com o diferente”, conclui Viviane.

Com os dados da pesquisa, também foi perceptível a relevância da tecnologia na atualidade. “A tecnologia é um divisor de águas na ocupação do espaço na cidade. As experiências dos jovens são fortemente influenciadas pelo padrão de acesso às tecnologias e à infraestrutura, como, por exemplo, a disponibilidade de conexão à internet”, reflete a professora Rachel.

Além das fronteiras

Fabyolla de Castro, do Programa de Pós-graduação em Psicologia (PPGP), foi uma das alunas da disciplina Juventudes, Espaços Públicos e Tecnologias e conta que a construção de redes de pesquisadores, viabilizada a partir da internacionalização, é promissora porque “permite a troca de conhecimento, metodologias e práticas entre diferentes países e instituições, criando um ambiente fértil para a inovação e o avanço científico. Essa colaboração internacional facilita a formação de novas perspectivas e abordagens interdisciplinares que são essenciais para enfrentar os desafios globais”, diz.

“A internacionalização congrega diferentes pesquisadores e universidades, com bibliografias, metodologias e pontos de vista diversificados, que podem complementar e auxiliar no avançar da ciência nacional e mundial”, explica Erick Lopes, do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG), que integrou o grupo de alunos do projeto.

Novas experiências

“Tivemos um ciclo de aulas com professores brasileiros e um ciclo de debate com professores estrangeiros, em inglês e sem tradução. Isso foi um ganho enorme, não só no desenvolvimento do idioma, mas também no aprendizado das experiências de pesquisadores”, é o que diz Thiago de Oliveira, doutorando do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), sobre a disciplina. Ele também assegura que o contato com pesquisadores de outros países é fundamental. “Muitas vezes, você pesquisa o mesmo objeto, mas tem a oportunidade de ver o tema a partir de outro prisma, de acordo com a realidade do local”.

Rodrigo Ribeiro, do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, também apontou as novas experiências que teve com a disciplina. “Durante a participação no curso, nós realizávamos simultaneamente o trabalho de campo, que incluiu observações de participantes e entrevistas em profundidade”, relata.

“A parte presencial me proporcionou o encontro com professores de outros Programas de Pós-graduação da PUC Minas. Após anos estudando na Universidade, participar da disciplina me permitiu reconhecer a diversidade e estabelecer conexões interdisciplinares que fortaleceram minha trajetória acadêmica”, conta Rodrigo. “Nas aulas on-line do centro de pesquisa da TU Wien, tive contato com novas visões de mundo, teorias e métodos relacionados ao estudo do espaço urbano e das juventudes, o que impulsionou a compreensão sobre minha própria realidade”, conclui.