Da Universidade à sala de aula

Alunos da licenciatura colocam a teoria em prática em projetos como Pibid e Residência Pedagógica
Liliane Lourenço, aluna bolsista do RP | Foto: Nathália Farnetti

Ser professor vai além de dominar algum conhecimento ou ter um diploma. Professores são agentes transformadores da sociedade, cuja sensibilidade compreende as necessidades dos alunos e os capacita para diferentes etapas da vida. Todos os profissionais, de diferentes formações, passam por diversos professores que, não à toa, muitas vezes são chamados de “mestres”. Mas o que é necessário para se tornar um professor?

A jornada para o magistério é longa. Para adquirir a expertise necessária para ensinar, os alunos de licenciatura precisam, ao longo do curso, ter a oportunidade de unir as teorias aprendidas na Universidade com as práticas, que são adquiridas, por exemplo, com a experiência em escolas.

A vivência do cotidiano na educação básica e o relacionamento com professores e gestores são fomentados por iniciativas como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e o Programa de Residência Pedagógica (RP), ambos promovidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“Projetos como Pibid e RP levam os alunos para a realidade das escolas e possibilitam a união dos conhecimentos adquiridos na PUC Minas com o que é visto na educação básica”, afirma a Profa. Nilza Bernardes, coordenadora do Pibid.

Os programas são direcionados para escolas públicas, onde os alunos têm oportunidade de desenvolver projetos, pensar em novas metodologias, elaborar materiais didáticos e refletir sobre o que pode ser melhorado. O presidente do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais (CCE-MG), Prof. Felipe Michel Braga, aponta que, dentro da sala de aula, “com a atuação orientada por outro professor de referência, a preparação se torna mais sólida, mais robusta, porque alinha teoria e prática. Todo exercício profissional se dá em um ambiente de experiências, de atitudes, onde o conhecimento e a habilidade são postos à prova”.

De acordo com o presidente do CEE-MG, a competência é formada pelo conhecimento, habilidades, atitudes, valores e experiências. É interessante que tais termos formam um acrônimo: chave. Todos esses elementos são fundamentais para se dizer que uma competência está presente e consolidada. Algumas delas, apenas na prática, como viver as experiências e colocar os valores no exercício diário da prática pedagógica”, explica. De acordo com o professor, conhecimentos como manejo da sala de aula e diálogo com as demandas dos estudantes, por exemplo, podem ser discutidos na teoria, “mas só se tornam competências consolidadas quando vivenciadas na prática”.

Incentivo ao magistério

Os discentes participantes são contemplados com uma bolsa como forma de incentivar a carreira docente e dar suporte financeiro aos participantes. Liliane Lourenço, aluna do Curso de Pedagogia e bolsista da RP, conta que tanto a vivência da sala de aula quanto a bolsa a incentivaram a se inscrever. “Eu quis colocar em prática o que estava aprendendo. Além disso, a oportunidade de receber a bolsa ajudaria muito. Então, os dois motivos se somam”, relata. “A Residência Pedagógica possibilita o alinhamento entre teoria e prática e proporciona o desenvolvimento de habilidades e competências docentes. Isso faz muita diferença no curso”.

As bolsas também garantem que os graduandos concluam o curso, principalmente os de classes sociais mais baixas. A coordenadora da RP, Profa. Dra. Andreia dos Santos, afirma que “muitos alunos de licenciatura estão vinculados a outra política de governo, o ProUni. Com a bolsa, conseguimos que continuem estudando”.

Também é possível conciliar a participação com outro estágio ou projeto de extensão, pois a dedicação é de 8 horas semanais, distribuídas em dois dias. “Os alunos só não podem receber outra bolsa do governo”, reitera a professora Nilza, uma vez que não é possível acumular mais de um benefício financiado por recursos federais.

Caminho com segurança

Formar professores que compreendam as particularidades e dificuldades do ensino público brasileiro é um desafio. “Os problemas recorrentes são desigualdade, abuso na família, pobreza, questão de saúde mental, além dos problemas de indisciplina”, é o que relata Tauan Soares, professor de Sociologia da E.E. Deputado Manoel Costa. “E, do lado dos professores, temos a baixa valorização do trabalhador”.

“A escola transforma-se num catalisador de todos esses problemas sociais. Quando o Pibid e o RP estão na escola, as pesquisas realizadas pelos alunos podem se transformar em elementos que nos auxiliam a lidar com esses problemas e ampliar os horizontes em busca de soluções”, afirma Tauan. Além de vivenciar os programas como professor de uma escola importante, ele conta que teve contato com as iniciativas enquanto cursava a licenciatura. “Tenho as duas visões sobre a ponte que pode ser construída entre o ensino básico e o superior”.

Vivenciando de perto a realidade das escolas públicas brasileiras, os alunos podem fazer um caminho na docência com mais segurança. “Nós temos um vínculo com as escolas e uma formação diferenciada. A PUC Minas coloca professores mais qualificados no mercado, que têm a oportunidade de refletir e colocar em prática as teorias pedagógicas que são propostas ao longo da graduação”, aponta Andreia. Os bolsistas contemplados pelos programas se comprometem com o exercício do magistério na rede pública após a conclusão do curso. Portanto, antes mesmo da formatura, os futuros professores já começaram a trilhar sua trajetória na profissão.

“Nós temos que cuidar da formação docente. A classe de professores é muito desvalorizada. O governo tem que incentivar que mais pessoas se formem. Nossa educação pública precisa de uma injeção de ânimo”, afirma a coordenadora do Pibid. “Temos que estimular os alunos das escolas públicas e demonstrar a importância dos estudos”. De acordo com a professora Nilza, o contato com as escolas públicas permite que os docentes do ensino superior revejam as metodologias e reflitam sobre as principais necessidades da educação básica em cada época. “Melhorando nossa formação, podemos melhorar a formação dos futuros professores”, endossa.

Formação diferenciada

A cada novo edital lançado, as instituições de ensino superior submetem uma proposta com um projeto e os subprojetos, vinculados aos cursos de licenciatura. “Trabalhamos muito nas propostas para termos sempre um bom número de bolsas”, explica Nilza.

Além das bolsas direcionadas aos alunos, o Pibid e a Residência Pedagógica também remuneram professores da Universidade, sendo um coordenador institucional e coordenadores de área, e docentes da educação básica, que atuam como supervisores.

Para ampliar os conhecimentos e estimular debates, a Universidade também faz encontros mensais e abertos aos bolsistas – alunos e professores da PUC Minas e da educação básica. “Conseguimos oferecer uma formação diferenciada e que cumpre muito bem essa indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, defende Andreia. “E a nossa missão institucional, que é a formação humanista”.

Tauan Soares é professor de Sociologia do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) | Foto: Guilherme Simões