Desde 2009, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte investe na construção de bacias de detenção, comumente chamadas de piscinões, como solução para reduzir o impacto de enchentes e inundações em áreas vulneráveis, como as avenidas Teresa Cristina e Vilarinho. Mesmo sendo eficientes no armazenamento de grandes quantidades de água durante eventos de chuva, essas estruturas apresentam desafios significativos, como elevados custos para implantação e conservação, além de demandarem grandes áreas na cidade que são pouco aproveitadas fora do período chuvoso.
Frente a essa situação, um estudo conduzido por pesquisadores do Curso de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial, sob orientação do Prof. Dr. Antoniel Fernandes, avalia a administração dessas estruturas ao longo de quatro gestões municipais e sugere alternativas sustentáveis. Intitulada Contribuições da Geografia para a Gestão Sustentável das Águas no Município de Belo Horizonte, MG, a pesquisa revelou que a prioridade dada às bacias de detenção é a principal ação adotada pelas autoridades públicas.
A pesquisa também identificou que tais piscinões acabam operando, em média, apenas quatro dias por ano, ficando fechados e sem qualquer uso complementar durante o restante do tempo. “Algumas cidades utilizam essas áreas para lazer, como quadras esportivas ou pistas de caminhada, mas é preciso garantir manutenção adequada e medidas de segurança, como sinalização e monitoramento. O que observamos em nossas visitas a campo é que muitas dessas ações não são realizadas, o que faz com que a prefeitura prefira manter os espaços fechados”, explica o professor.
Jonathan Alves, graduado em Geografia e ex-bolsista da pesquisa, conta que participar desse trabalho foi enriquecedor em vários aspectos. “Tive a oportunidade de produzir conteúdo científico sobre a gestão das águas urbanas de Belo Horizonte, traçando um panorama de como o planejamento urbano e ambiental da cidade levou à necessidade de instalar estruturas de contenção para mitigar enchentes e inundações. Além disso, pude visitar as macroestruturas de contenção, como bacias de detenção e retenção, e coletar dados em campo, o que ampliou minha visão como pesquisador e geógrafo”, aponta.
Jonathan também destacou a importância da interação com órgãos públicos, como a Defesa Civil de Contagem, para entender o impacto das bacias de detenção em áreas limítrofes à capital mineira. Segundo ele, foram discutidas se as bacias de contenção já estavam surtindo efeito na redução de ocorrências de enchentes e como foi o processo de implantação dessas estruturas.
Considerando esse contexto, os pesquisadores analisaram soluções mais integradas e sustentáveis, como a adoção de parques lineares, que se mostraram uma alternativa viável para o manejo das águas pluviais. Em Belo Horizonte, dois dos três parques desse tipo já estão em funcionamento desde 2008 e incorporam bacias de contenção: Parque Primeiro de Maio e Parque Nossa Senhora da Piedade. Tais locais proporcionam áreas de lazer, recreação e maior interação da população com os espaços públicos, além do aumento da cobertura vegetal, da melhoria da qualidade do ar e da valorização imobiliária do entorno.
Outro ponto destacado na pesquisa é o custo dessas alternativas. Ao comparar os investimentos necessários, os parques lineares exigem menos recursos em comparação com bacias de contenção isoladas, ao mesmo tempo em que proporcionam um retorno social e ambiental mais significativo. “O novo Plano Diretor de Belo Horizonte, aprovado em 2019, já contempla ações complementares, como a adoção de pisos drenantes e a instalação dos chamados ‘jardins de chuva’. Esses jardins, que substituem parte do piso impermeável por áreas que permitem infiltração da água, contribuem para a absorção de parte da chuva e ajudam a atenuar alagamentos, enchentes e inundações na cidade. Atualmente, a prefeitura já instaurou 61 dessas estruturas e tem como meta alcançar 200”, explica Antoniel.
Além disso, o monitoramento em tempo real das chuvas é outra questão abordada na pesquisa. Dados pluviométricos coletados desde 2009 pelos órgãos públicos competentes estão sendo examinados para avaliar a efetividade das ações implementadas. Essas informações são fundamentais para embasar decisões na administração pública e direcionar políticas de mitigação de enchentes e inundações.
Em 2025, Jonathan pretende dar continuidade ao estudo para aprofundar a avaliação de custos e eficiência das diferentes alternativas de manejo das águas pluviais na cidade. “Com chuvas cada vez mais intensas em períodos curtos, as bacias de contenção podem não ser mais eficientes. A política pública precisa se adaptar a esse novo cenário e priorizar medidas sustentáveis e integradas”, ressalta.

SAIBA MAIS
As bacias de detenção são reservatórios temporários, retendo a água apenas durante chuvas intensas e liberando-a gradualmente para evitar enchentes. Bacias de retenção também armazenam a água, mas mantêm um nível constante e permanente, funcionando como represas ou lagoas artificiais que auxiliam na drenagem e no controle da poluição. É exemplo a Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte. O termo bacias de contenção pode se referir tanto às bacias de retenção quanto às bacias de detenção.