A educação é um direito universal e protegido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos mas que, no Brasil, atravessa momentos de instabilidade. Na última década, o número de ingressantes em licenciaturas foi inferior às demais modalidades de formação no Ensino Superior e a quantidade de evasões revela-se preocupante: somente em 2020, de acordo com o Censo de Educação Superior, 29,9% dos licenciandos abandonaram o curso. Diante da drástica redução na formação de novos educadores, o Brasil passa por um apagão docente, ou seja, o risco iminente da escassez de professores na educação básica.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), a projeção é que o déficit de professores chegue a 235 mil em 2040. O desinteresse de jovens na carreira, a precarização da profissão – evidenciada pelas baixas remunerações – e a falta de reconhecimento na sociedade são os principais causadores do cenário.
O diretor do Instituto de Ciências Humanas da PUC Minas, Prof. Dr. Alexandre Diniz, aponta que, com o menor número de professores, a tendência é que as turmas da educação básica sejam cada vez maiores, a qualidade da educação seja comprometida e os discentes fiquem cada vez mais sobrecarregados. “Do ponto de vista geográfico, também deveremos presenciar o agravamento das desigualdades regionais na oferta e na qualidade do ensino. Com um número menor de profissionais, é natural que eles procurem as escolas com melhor infraestrutura, em localidades mais desenvolvidas, acirrando as diferenças regionais e as diferenças entre ricos e pobres”, afirma.
O apagão docente e a consequente precarização do ensino básico também deverão atingir o nível superior. “As universidades, de alguma forma, terão que suprir as carências do processo formativo da educação inicial”, diz o professor Alexandre.
“É um erro estratégico não priorizar a formação de professores. No mundo globalizado no qual estamos inseridos, a capacidade de produzir conhecimento e inovação é essencial ao desenvolvimento socioeconômico. Uma sociedade competitiva, do ponto de vista internacional, é aquela que tem altos níveis de educação e maior capacidade de geração de conhecimento e inovação”, assegura o diretor. Assim, se inserir no mundo globalizado de maneira precarizada dificulta ainda mais a perspectiva de inovar e competir internacionalmente.

Educação como missão
A história da PUC Minas começa com a formação de professores. Na fundação, em 1958, a Universidade incorporou os cursos de Filosofia, Geografia e História, Letras Neolatinas e Pedagogia, criados em 1943 e, até então, mantidos pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria.
Diante do apagão docente, a PUC Minas montou o Plano Estratégico de Referência para a Formação de Professores da Educação Básica com o objetivo de garantir a continuidade dos cursos de licenciatura e atrair jovens.
A coordenadora da Comissão das Licenciaturas, Profa. Carla Ferretti Santiago, conta que uma das ações do plano estratégico foi construir projetos pedagógicos inovadores que rompam com as tradições já superadas e manter uma relação intensa com escolas para estágios e ações extensionistas. “Também temos o PUC Aberta Licenciaturas, um evento anual que convida estudantes do ensino médio a dialogar com os docentes e licenciandos”, explica.
As oportunidades oferecidas aos alunos de todos os cursos também beneficiam os licenciados. A PUC Carreiras, que insere os discentes no mercado de trabalho, os programas de mestrado e doutorado e as ações de extensão são alguns exemplos dos diferenciais no currículo da Universidade. “A PUC Minas tem a missão institucional de formar professores capazes de atuar de forma crítica e criativa na escola e na sociedade”, é o que diz a chefe do Departamento do Curso de Física e Química, Profa. Dra. Joice Araújo. “Ao cuidar da permanência dos estudantes nos cursos de licenciatura, a Universidade exerce ação concreta para a realização da própria missão e alinha-se às políticas públicas que defendem a prioridade de investir na formação de professores”.
Por que ser professor?
Segundo uma pesquisa divulgada pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) em 2021, 35% dos alunos escolheram uma licenciatura por vocação, enquanto 21% por considerar uma profissão importante e 15% por terem professores inspiradores.
Foi o terceiro motivo que levou Lauren Vitória Costa a seguir a carreira de docente. A aluna de licenciatura em História conta que teve bons exemplos. “Lembro de cada professor que tive”, diz.
Defender a importância do ensino também é outro fator estimulante. “Acredito que a educação salva. Na minha concepção, o tripé da sociedade é a educação, segurança e saúde. Se você melhora a educação, consegue melhorar os outros”, revela.