Mecânica do Bem

Projeto promove formação de jovens e adolescentes do Conjunto Taquaril
Luiz Gustavo Fagundes Teixeira, um dos alunos da primeira turma do projeto no Taquaril, hoje cursa Engenharia Mecânica na PUC Minas | Fotos: Raphael Calixto

A crise no mercado de trabalho vivenciada no Brasil nos últimos anos e seu agravamento pela pandemia impulsionou esforços de parceria entre a PUC Minas e o Projeto Providência. A partir dessa realidade, professores e técnicos do Curso de Engenharia Mecânica da PUC Minas Contagem propuseram o projeto de extensão Mecânica do Bem, que tem o objetivo de capacitar e formar jovens e adolescentes entre 14 e 24 anos em situação de risco e vulnerabilidade. Como observa o professor Luciano Andrade, coordenador do projeto, essa população é uma das que mais sofrem no contexto de baixa empregabilidade. “Essa é a faixa etária que tem mais dificuldade para conseguir emprego e ter uma oportunidade no mercado de trabalho. Em um momento de desemprego em massa, as grandes empresas preferem contratar pessoas experientes a um funcionário que não tem prática”, lembra.

Proposto a partir da solicitação da equipe gestora do Projeto Providência – Unidade Taquaril, onde é realizado, o Mecânica do Bem tem o intuito de capacitar jovens e adolescentes residentes na região. Aprovado em 2021, o projeto teve as atividades iniciadas no segundo semestre do mesmo ano. “A Universidade entrou como um parceiro do Projeto Providência. Eles têm uma grande estrutura lá, e nós vimos a possibilidade de levar alguns equipamentos que estavam sem uso aqui no Campus. A ideia era pegar materiais disponíveis aqui nos laboratórios e utilizar lá”, explica o coordenador.

Com isso, em setembro de 2021 foi ofertada a primeira Oficina de Capacitação Profissional em Mecânica Básica Automotiva. Pelos protocolos relacionados à pandemia e ao regime letivo remoto adotado pela Universidade naquele momento, as atividades foram realizadas com apoio dos professores e técnicos do Curso de Engenharia Mecânica e o envolvimento a distância dos extensionistas. O professor Luciano explica que o material utilizado foi preparado pelos universitários, que desenvolveram “uma apostila com o conteúdo das aulas. Nós professores apresentamos esse material, esse conceito para os participantes da oficina e depois, com a ajuda dos técnicos, conseguimos desenvolver algumas práticas”.

São atendidos a cada edição da oficina 15 jovens residentes na região do Taquaril, que “está inserida num dos maiores bolsões de pobreza da região metropolitana de Belo Horizonte, com o índice de desenvolvimento humano muito baixo, sendo uma área de grande vulnerabilidade social, com problemas que vão desde a questão de infraestrutura e saneamento básico, até a criminalidade e a drogadição”, como relata o coordenador da unidade do Projeto Providência, Luiz Roberto de Oliveira. A divulgação das vagas e seleção é feita pela sua equipe, junto à comunidade do entorno. “Fizemos uma mobilização em toda a rede aqui do Taquaril, tanto com os serviços quanto com as famílias do Projeto Providência, a partir da própria procura das pessoas da comunidade”, explica a psicóloga Nara Martins Murta, responsável pelas entrevistas com os candidatos.

Para escolher a turma, foi dada prioridade para aqueles que já tinham experiência anterior em outras atividades desenvolvidas pelo Providência. Essa primeira oficina foi um piloto para que nos anos seguintes sejam realizadas ações de forma permanente, contribuindo para o objetivo de criação de vínculo familiar e socioprofissional com os atendidos, que terão condições de melhoria de vida a partir desse desenvolvimento de capacidades.

Entre os atendidos pela primeira turma, está o jovem Luiz Gustavo Fagundes Teixeira, de 18 anos, que hoje é aluno do Curso de Engenharia Mecânica da PUC Minas. Residente no Conjunto Taquaril, ele realizou a oficina por já ter interesse na área e teve ali sua confirmação. “Foi uma experiência maravilhosa. A minha escolha do curso superior já estava neste mundo da mecânica e a participação na oficina me motivou muito, por ser imersiva e atrativa”, explica o universitário, que conheceu novas possibilidades a partir da atividade. “Para mim, foi como uma porta a se abrir no âmbito do conhecimento. Os instrutores nos incentivaram a buscar o ensino e a aplicar isso no mercado de trabalho”, diz Luiz Gustavo.

Durante a realização da oficina, é feito um trabalho de monitoramento e avaliação pelas equipes do Projeto Providência e da PUC Minas. Como explica Cláudia Abreu da Silva, estagiária de Serviço Social do Providência – Unidade Taquaril, eles mantêm contato constante com os participantes por um grupo de troca de mensagens, para enviar informações e acompanhar as justificativas de possíveis ausências. “Através disso também incentivamos a questão do estudo”, pontua. Já no que se refere à avaliação das atividades, o professor Luciano explica que, tanto em nível individual quanto em grupo, é muito importante o exercício da escuta. “Temos feito muita avaliação em rodas de conversa com eles, colhido depoimentos deles após as atividades”. Isso ajuda no planejamento das próximas ofertas, mas também contribui para adequar o que está sendo feito. “Desses processos de monitoramento e avaliação, já tiveram temas das aulas que foram sugeridos pelos próprios alunos. Dentro das possibilidades do laboratório, do que foi montado na unidade Taquaril, fizemos um levantamento e eles mesmos sugeriram alguns temas e os técnicos conseguem incluí-los nas atividades da oficina”, conclui o professor Luciano.

Projeto Providência

Professor Luciano Andrade, coordenador do projeto | Fotos: Raphael Calixto

Fundado em 1988, o Projeto Providência oferece atendimento diário a crianças, adolescentes e jovens em horário complementar ao da escola em três unidades: Fazendinha (Aglomerado da Serra), Taquaril e Vila Maria. É uma das 11 iniciativas da Providens – Ação Social Arquidiocesana, organização sem fins econômicos que presta atendimento em diversas áreas de serviço de forma gratuita e continuada, vinculada à Arquidiocese de Belo Horizonte, mantida por meio de convênios e parcerias com o setor público e privado, campanhas e aporte de recursos pela mantenedora.

As principais preocupações da equipe do Projeto Providência são o bem-estar e o desenvolvimento familiar. “Toda ação tem a sua matricialidade na família. A nossa prioridade é sempre a criança e o adolescente. E, como efeito disso, os cursos que ofertamos ou qualquer outra ação que alcançam esse jovem são realizados na expectativa de chegar até a família”, explica Luiz Roberto de Oliveira.

O atendimento direto ao jovem que participa das atividades repercute de forma indireta em seu núcleo familiar. Ao promover “um lugar tranquilo e saudável que garanta o desenvolvimento dessa criança e adolescente, são produzidas boas vibrações que servem para manter vivos os sonhos de toda uma comunidade”, completa o coordenador.