Ouvidos atentos

Serviço de Atenção à Saúde Auditiva (SASA) oferece atendimento de Alta Complexidade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS)
Paciente do SASA-PUC Minas desde 2018, Nadir Rosa dos Santos utiliza aparelho auditivo nos dois ouvidos | Foto: Nathália Farnetti
Paciente do SASA-PUC Minas desde 2018, Nadir Rosa dos Santos utiliza aparelho auditivo nos dois ouvidos | Foto: Nathália Farnetti

A audição é um mecanismo de captação de ondas de pressão do ar pela orelha e tradução desse estímulo em impulsos nervosos, que são percebidos pelo cérebro como som. Essa é a definição técnica. Na prática, é o que proporciona ouvir a voz de uma pessoa querida, estabelecer uma conversa ou curtir uma música. Um dos cinco sentidos do ser humano, a audição é fundamental para se comunicar e relacionar com o outro e com o mundo. Mas, para 5% da população brasileira, esses sons não são tão perceptíveis assim. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que 10 milhões de brasileiros apresentam algum grau de perda auditiva e que cerca de 2,5 milhões têm surdez profunda, ou seja, não escutam nada.

O Brasil tem uma legislação avançada nessa área. Instituída pelo Ministério da Saúde em 2004, a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva oferece, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), assistência integral e gratuita, que vai desde o Teste da Orelhinha, também chamado de triagem auditiva neonatal, até a reabilitação auditiva. Dados da pasta mostram que entre 2020 e 2021 foram ofertados mais de nove milhões de procedimentos assistenciais em todo o país.

O atendimento se dá em formato de redes, envolvendo os seguintes componentes: atenção primária, atenção especializada em reabilitação auditiva e atenção hospitalar e de urgência e emergência. Atualmente, existem 268 serviços especializados em reabilitação, que realizam o diagnóstico, tratamento, concessão, adaptação e manutenção de tecnologia assistiva no âmbito do SUS. Desse total, 124 serviços são Centros de Reabilitação Auditiva na Média e na Alta Complexidade e, entre eles, o SASA-PUC Minas.

O Centro Clínico de Fonoaudiologia, localizado no Campus Coração Eucarístico, foi habilitado em 2013 na Assistência em Média Complexidade e, em 2019, elevado à Alta Complexidade. “A PUC Minas, por meio do Curso de Fonoaudiologia, se candidatou a ser uma instituição conveniada para a prestação de serviços à saúde auditiva. Demorou dez anos para que a nossa habilitação fosse reconhecida. Após muitas vistorias e visitas técnicas, reconheceram nossa expertise e que a Missão da Universidade estava em consonância com a característica humanística do serviço que merecia ser prestado”, afirma a Profa. Dra. Fernanda Abalen, coordenadora do Serviço de Atenção à Saúde Auditiva (SASA).

Esse ano, o SASA-PUC Minas ganhou um novo espaço. São quatro salas adequadas e equipadas para atuar no diagnóstico, tratamento e reabilitação de pessoas de todas as faixas etárias e com qualquer grau de comprometimento da função auditiva. “O atendimento de Alta Complexidade traz consigo a necessidade de atender múltiplas deficiências, mas é preciso ter equipamentos para que isso aconteça. Hoje nós temos, em termos de recursos físicos, o que há de melhor e mais avançado”, explica Fernanda Abalen.

Em Belo Horizonte existem cinco instituições que prestam esta modalidade de assistência. O serviço é oferecido no SASA-Santa Casa, SASA-Hospital das Clínicas, Centro Especializado em Reabilitação (CER) Venda Nova, CER Padre Eustáquio e na PUC Minas, única Instituição de Ensino Superior (IES) conveniada para realização de atendimentos em Alta Complexidade na capital mineira. “A Universidade precisa interligar o Ensino, a Pesquisa, a Extensão e, principalmente, a capacitação para o mercado de trabalho. Ao oferecermos esse serviço, nós garantimos e proporcionamos ao nosso aluno a experiência e o desenvolvimento de habilidades e competências que são muito valorizadas pelo mercado de trabalho, principalmente no âmbito do SUS, que é um serviço de saúde que não há igual no mundo”, afirma.

O princípio de integralidade do SUS, que considera as pessoas como um todo, é seguido à risca pelo SASA-PUC Minas. Atento a todas as necessidades do paciente, o serviço parte do pressuposto de articulação da saúde com outras políticas públicas e assegura uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas de repercussão na qualidade de vida. Com uma equipe multidisciplinar composta por fonoaudiólogos, médicos otorrinolaringologistas, psicólogos e assistentes sociais, o tratamento não se restringe apenas à condição auditiva, mas também às possíveis consequências físicas e psicológicas associadas. “Nesse tratamento, que é integral, garantimos que o melhor cuidado possa ser oferecido e a condução do caso atenda ao que é recomendado, inclusive, com orientações quanto aos benefícios sociais que essas pessoas têm direito e suporte psicológico para lidar com o estigma da surdez e do uso do aparelho”, explica. Semestralmente, o SASA-PUC Minas realiza 850 atendimentos, nos quais são feitos em torno de 1.500 procedimentos de diagnóstico, adaptação de aparelhos auditivos e terapia fonoaudiológica. Por ano, são 25 mil procedimentos em Audiologia, nos mais de oito mil usuários cadastrados em Minas Gerais.

Nadir Rosa dos Santos é uma dessas pessoas. Foi durante uma consulta de rotina que seu médico percebeu um indício de alteração auditiva: o comprometimento na comunicação. Ela precisava se virar em sua direção e fazer leitura labial para compreender o que ele dizia. A partir daí, ela foi inserida na Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva e começou a fazer acompanhamento no SASA-PUC Minas.

Diagnosticada com perda auditiva neurossensorial do tipo moderada no ouvido direito e do tipo moderadamente severa no esquerdo, ela passou a necessitar do aparelho auditivo nos dois lados. “Agora eu escuto até o barulho das folhas das árvores ao redor da Clínica se mexendo com o vento. Sem o aparelho, não ouço nada”, relata. Para a autônoma de 67 anos, recuperar a possibilidade de escutar devolve a ela a chance de realizar um sonho: dirigir. “Para dirigir eu preciso ouvir bem, né? O meu objetivo agora é comprar um carro”, conta.

A Profa. Fernanda Abalen, coordenadora do SASA, explica que o atendimento aos paciente é integral, com orientações sobre benefícios sociais e su­porte psicológico | Foto: Nathália Farnetti
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