O protagonismo da Arquidiocese de Belo Horizonte na educação

O Colégio Santa Maria, inaugurado em 1903, foi a primeira instituição educacional de Belo Horizonte | Foto: Reginaldo Mesquita
O Colégio Santa Maria, inaugurado em 1903, foi a primeira instituição educacional de Belo Horizonte | Foto: Reginaldo Mesquita

O Colégio Santa Maria Minas, que completa 120 anos neste 2023, e a PUC Minas têm uma rica trajetória, recheada de momentos de incertezas, de correção de rumos, mas, principalmente, de muitas conquistas. Atualmente, há mais de cem mil alunos nas duas instituições (88 mil na PUC Minas e 12 mil nas unidades do Colégio Santa Maria Minas). Nesta reportagem, a Revista PUC Minas revisita a história da Educação na Arquidiocese de Belo Horizonte, que se confunde com a história da educação da capital mineira. “Parte-se do princípio de que a educação é um direito universal e, portanto, responsabilidade de todos, especialmente da Igreja, chamada a ajudar o mundo a mudar, consolidando uma cultura do encontro, da solidariedade, da vivência da fraternidade, em consonância com os valores irradiados pelo Evangelho”, enfatiza o Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte e Grão-chanceler da PUC Minas, Dom Walmor Azevedo de Oliveira.

Poucos meses depois de Belo Horizonte ter completado o quinto aniversário, desembarcou em 20 de julho de 1903 uma eminente comitiva na capital mineira. Naquela data, autoridades e famílias de Belo Horizonte recepcionaram com o habitual senso mineiro de hospitalidade as irmãs dominicanas, originárias da cidade francesa de Sèvres, Mère Cólombe, Mère Marie Pauline, Mère Marie Gabrielle e Soeur Jeanne du Rosaire, além do capelão Père Henri Mothon. Eles estavam exercendo a grandiosa missão de fundar a primeira escola da capital mineira, o atual Colégio Santa Maria Minas. A Diocese de Belo Horizonte só foi criada em 1921, e elevada a Arquidiocese, em 1924, mas desde a fundação do Colégio Santa Maria, a Igreja Católica já exercia o pioneirismo da educação.

Em 1925, três anos após a sua chegada a Belo Horizonte, o primeiro Arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral, mais conhecido como Dom Cabral, editou a Carta Pastoral “A Igreja e o Ensino” e criou, por meio desse documento, a Associação da Educação e Ensino, com atuação em todas as paróquias de Belo Horizonte. “Esta Associação poderia ser compreendida como o início da formalização de um projeto educativo da Arquidiocese de Belo Horizonte”, diz o Prof. Dr. Paulo Agostinho Baptista, do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da PUC Minas.

O projeto de Dom Cabral previa também a constituição da Universidade Católica de Minas Gerais. Essa ideia ganhou fôlego quando em 1930 começaram a surgir iniciativas da Igreja Católica com o objetivo de fomentar o ensino religioso superior no Brasil. Em 1940, surge a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, em 1946, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC São Paulo). “O apoio e incentivo do cardeal e arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Carlos Carmelo Vasconcelos Motta, foi preponderante para que Dom Cabral colocasse em prática a ideia da criação da Universidade Católica de Minas Gerais”, afirma o Prof. Dr. Caio César Boschi, Diretor do Centro de Memória e de Pesquisa Histórica da PUC Minas.

Três anos depois da fundação da PUC-SP, em junho de 1948, surge a Sociedade Mineira de Cultura, mantenedora da atual PUC Minas, que incorporou as escolas superiores com denominação de “Faculdades Católicas de Minas Gerais”. A fundação da Universidade Católica de Minas Gerais se efetivou em dezembro de 1958, quando o Diário Oficial da União (D.O.U.) publicou o decreto presidencial assinado pelo então mineiro e presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o JK, e pelo então ministro da Educação, Clóvis Salgado. Nesse mesmo ano, tomou posse o primeiro Reitor, Pe. José Lourenço da Costa Aguiar. Em 1983, a Universidade Católica de Minas Gerais foi elevada à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

Entre as ações de protagonismo, a Universidade Católica organizou o Programa de Especialização de Professores do Ensino Superior (Prepes), criado em 1974. “Em uma época em que os cursos de mestrado e doutorado eram muito restritos no Brasil, o Prepes fez com que a UCMG recebesse professores de todo o país em busca de qualificação”, destaca o Prof. Paulo Agostinho. De acordo com ele, a PUC Minas também foi responsável por desbravar o interior mineiro e levar ensino de qualidade com instalação de unidades nas cidades de Betim, Contagem, Poços de Caldas, Serro e Uberlândia. A expansão fez com que a Congregação para a Educação do Vaticano promovesse a PUC Minas à condição de maior Universidade Católica do Mundo.

Esta condição de protagonismo e pioneirismo pôde ser comprovada em dissertação intitulada História da Educação Superior Católica em Belo Horizonte: da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria (1942) à fundação da Universidade Católica de Minas Gerais (1958), apresentada em 27 de fevereiro de 2023 pelo Prof. Brunno Octávio de Oliveira Luz. Desde os tempos da graduação no Curso de História, em que também foi estagiário do Centro de Memória de PUC Minas, Brunno Luz sempre demonstrou um especial interesse pela história da PUC Minas. “Pudemos constatar a efetiva e relevante participação da Arquidiocese de Belo Horizonte na construção da UCMG por meio, principalmente, de Dom Cabral e de Dom João Resende Costa”, ressalta o Prof. Brunno Luz.

Essa participação da Arquidiocese de Belo Horizonte na instituição da Universidade Católica de Minas Gerais pôde ser comprovada por meio de uma completa e ampla avaliação de uma expressiva quantidade de fontes documentais escritas e imagéticas. Esse trabalho permitiu identificar uma série de informações a respeito da instituição da UCMG, como número de estudantes, o quadro de docentes e suas respectivas matérias, as dificuldades e outros entraves legais para a edificação das faculdades mencionadas no título da dissertação.

Outro braço do sistema educacional da Arquidiocese, já citado nesta reportagem, é o Colégio Santa Maria Minas. “A proposta pedagógica do Colégio Santa Maria reforça a missão de oferecer educação de excelência, alicerçada nos pilares do Evangelho de Jesus Cristo, na ciência, no amor e na disciplina, visando à formação humanista-cristã de pessoas comprometidas com uma sociedade justa, fraterna e sustentável, conforme os parâmetros da ecologia integral”, afirma o Pe. Márcio Ribeiro de Souza, Diretor Religioso do Colégio Santa Maria Minas.

O Pe. Márcio Souza enfatiza que o Colégio Santa Maria Minas, neste ano em que celebra os 120 de história, quer reforçar o desejo de elevar cada vez mais o padrão de qualidade da Instituição Educacional, a busca incessante pelo saber e a vivência dos valores cristãos, tão necessários para a formação integral do ser humano. O Diretor Religioso explica ainda que a concepção religiosa dos Colégios Santa Maria Minas tem por objetivo ajudar o estudante a compreender, de forma positiva, como as diversas manifestações religiosas interferem na realidade humana, levando-a para além de seus limites, valorizando o pluralismo e a diversidade cultural. Entre os projetos de educação religiosa dos Colégios Santa Maria Minas encontra-se o Projeto Paz na Escola, uma iniciativa que visa promover a paz no ambiente escolar, a fim de motivar os alunos a cultivá-la em todos os lugares. ‘Busca-se, com as atividades inerentes ao projeto, ajudar a comunidade educativa na superação da violência, por meio de ações concretas de cooperação e solidariedade.

Professor Brunno Octávio de Oliveira Luz | Foto: Nathalia Farnetti

Unidades Sociais

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Azevedo de Oliveira, diz que a Arquidiocese de Belo Horizonte defende que a educação não pode ser reduzida a um campo regido pelo mercado, tendo como meta principal o enriquecimento de empreendedores. “A educação é direito universal. Por isso, o Colégio Santa Maria Minas insere-se em comunidades pobres, oferecendo bolsa integral de estudos e material didático para alunos de vilas e favelas”, realça o Arcebispo.

Nessa missão, o Colégio Santa Maria Minas mantém quatro unidades sociais: três delas instaladas em comunidades onde existe a efetiva participação da Arquidiocese de Belo Horizonte associada ao Projeto Providência. Denominadas Colégios Santa Maria Providência, as unidades estão localizadas no Conjunto Taquaril (com capacidade para atender 12 turmas), no Jardim Vitória (6 turmas) e em Santa Efigênia (14 turmas). Atendem alunos da Educação Infantil (2 a 5 anos), do maternal II e III, 1º e 2º Períodos. Atualmente, nas três unidades, o Colégio Santa Maria Providência possui 354 alunos de 333 famílias. Desde que o projeto foi implementado em 2016, já foram atendidos 4.072 alunos e 3.852 famílias foram beneficiadas com as ações. Nas unidades, as crianças fazem duas refeições diárias e têm a possibilidade de participar de atividades esportivas e culturais. O trabalho envolve prevenção a todas as formas de violência.

Os Colégios Santa Maria Minas Providência consolidaram a aspiração do Pe. Mário Pozzoli que tinha o sonho de proporcionar educação de qualidade para todos os participantes do Projeto Providência, que ele instituiu em 1988, há 35 anos. “O Pe. Mário Pozzoli desejava também que o Projeto Providência pudesse proporcionar a transformação na vida das crianças e adolescentes. Todos os dias no atendimento, eu pessoalmente vou até as unidades e vejo a presença do Pe. Mário no olhar e no sorriso de cada criança. Então, nossa missão é manter viva essa obra. Nesse período, diversas gerações já foram beneficiadas com o trabalho do Pe. Mário, entre elas mais de 40 mil crianças e adolescentes e suas famílias”, conta a Diretora-geral da Providens, Profª Drª Fernanda Flaviana de Souza Martins.

A Diretora-geral da Providens destaca ainda que o projeto educacional da Arquidiocese de Belo Horizonte está em expansão por meio do Convivium São José, localizado em Ribeirão das Neves, que, inspirado no Projeto Providência, mantém atuação voltada para adolescentes e suas famílias. Além disso, estará em funcionamento, desde abril de 2023, de maneira experimental, a Casa de Francisco, um espaço que recebe 150 crianças todos os dias no contraturno escolar, em parceira com escolas da região Norte de Belo Horizonte.

A PUC Minas também concede bolsas de estudo a milhares de alunos, sensível à realidade dos que não têm condição de pagar o valor integral das mensalidades. “As instituições de ensino católicas, evidentemente, precisam trabalhar e buscar garantir a sua sustentabilidade, mas não objetivam o lucro nem o enriquecimento de seus gestores. A centralidade está na missão de oferecer uma educação integral a um número cada vez maior de pessoas”, explica Dom Walmor. Dados do Relatório de Autoavaliação Institucional da PUC Minas mostram que em 2021 foram concedidas 683 bolsas assistenciais para alunos de mestrado e doutorado e outras 32.610 para alunos de graduação e pós-graduação lato sensu.

Professora Fernanda Flaviana de Souza Martins, Diretora-geral da Providens | Foto: Raphael Calixto

Pacto Educativo Global

A Professora Carla Ferreti destaca a importância de difundir os princípios que levem à educação para o humanismo integral | Foto: Raphael Calixto

Dom Walmor diz que a Arquidiocese avança para oferecer formação integral em suas unidades de ensino visando à efetivação do Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco, unindo-se a outras instituições de ensino, parceiros e famílias. “Dessa forma, as instituições de ensino da Arquidiocese de Belo Horizonte reafirmam, assim, o seu compromisso com a vida, à luz do Evangelho”, ressalta.

O Arcebispo diz ainda que a presença da Arquidiocese no contexto educativo expressa bem o cumprimento dessa importante Diretriz do Papa Francisco. “Ensinar não significa impor um conhecimento, nem buscar padronizações. Diferentemente, ensinar é um ato de amor, que exige o respeito às singularidades e abertura para a partilha de experiências. Todos fazendo-se eternamente aprendizes com muita humildade”, reforça o Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte.

O Papa Francisco lançou um convite no dia 12 de setembro de 2019, por meio da Carta Encíclica Laudato si, um compromisso em prol e com as gerações jovens, para que todos se unissem em defesa do Pacto Educativo Global, que prevê uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de formar pessoas mais maduras, habilitadas a superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna.

Convidada para coordenar um grupo de estudo, trabalho e reflexão sobre formas de implementar os princípios do Pacto Educativo Global na PUC Minas, a Profª Carla Ferretti, do Instituto de Ciências Humanas (ICH), destaca a importância do projeto. “Nós precisamos difundir alguns princípios entre os que compõem a comunidade acadêmica da PUC Minas, alunos, professores e funcionários, que levem em consideração a prática de humanismo integral, de valorizar o ser humano em sua integralidade, com práticas de solidariedade”, explica a coordenadora, que convida a comunidade da PUC Minas a se envolver nos projetos do grupo que terão ampla divulgação nos próximos meses.

Informações complementares

ANIMA PUC MINAS

O Anima PUC Minas: Sistema Avançado de Formação, Identidade e Missão está ligado diretamente ao gabinete da Reitoria e possui vínculo especial com o Instituto de Filosofia e Teologia – Dom João Resende Costa. É composto de núcleos que tenham finalidades para cumprir a missão da Universidade. Tem como importantes objetivos: proporcionar o aprimoramento e a articulação dos núcleos de formação, identidade e missão da PUC Minas; favorecer o intercâmbio de informação e a reflexão coletiva sobre os temas pertinentes ao Anima, entre outros.

NESP

Fundado em 2005, o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) integra o Anima e constitui-se em um núcleo de reflexão, debate e formação em conteúdos orientadores para uma atuação social engajada na construção do bem comum e na promoção da justiça e da paz, à luz da Doutrina Social da Igreja. O Nesp busca promover a conexão entre saberes acadêmicos e populares, com o objetivo central de auxiliar os participantes de grupos pastorais, movimentos eclesiais e outros coletivos leigos e religiosos no desenvolvimento de sua capacidade de leitura e compreensão pluridimensional da realidade brasileira para que, compreendendo seus problemas, causas e consequências, possam promover e ampliar sua atuação social e política.

PASTORAL UNIVERSITÁRIA

Busca contribuir diretamente com a formação humanista e de excelência, proposta pela PUC Minas. A Pastoral Universitária, vinculada ao Anima, por meio da espiritualidade e do diálogo, visa à promoção do bem comum a serviço de uma sociedade mais fraterna e humana, integrando fé e vida. As atividades promovem a interação com o meio universitário a partir da espiritualidade e do encontro, buscando acolher com alegria e leveza aqueles que se colocam dispostos a desenvolver uma Universidade em Pastoral, isto é, uma universidade em diálogo para sermos do presente e do futuro, profissionais a serviço de um mundo mais humano.

DAER PUC MINAS

O Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso (DAER) é um dos órgãos de extrema importância na formação qualificada de docentes de Ensino Religioso e foi criado em 1932.

PROJETO APACS

A PUC Minas mantém uma parceria relevante com as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados, que são entidades da sociedade civil dedicadas à recuperação e à reintegração social de condenados a penas privativas de liberdade, em Belo Horizonte e em Santa Luzia. O objetivo visa à humanização das prisões sem perder a finalidade punitiva da pena. A taxa média de reincidência em crimes de condenados da APAC é de apenas 15%, enquanto no sistema prisional comum esta taxa é de 80%.

Fontes: Site Anima PUC Minas, site no Nesp, site da Arquidiocese de Belo Horizonte e Revista PUC Minas.

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