PUC Inclusiva

Programa promove capacitação de pessoas com deficiência e de empresas interessadas em fortalecer a cultura de inclusão
Gabriela Lages, do 7º período do Curso de Letras, é a responsável pelas aulas de inglês | Fotos: Raphael Calixto
Gabriela Lages, do 7º período do Curso de Letras, é a responsável pelas aulas de inglês | Fotos: Raphael Calixto

Considerada uma das instituições de vanguarda no ensino superior brasileiro ao criar em 2004 o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), a PUC Minas, a partir de 2021, passou a assumir um protagonismo maior ao criar o PUC Inclusiva, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (Proex). O programa, coordenado pela professora Carolina Resende, faz parte das ações da Universidade voltadas para a promoção da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, com foco na oferta de cursos profissionalizantes. “Desde 2000 desenvolvemos trabalhos dentro da Proex voltados para a inclusão da pessoa com deficiência na educação e no mercado de trabalho. Estamos numa linha de fortalecer o caráter inclusivo da PUC Minas”, afirma.

De acordo com ela, o PUC Inclusiva tem buscado atuar de forma mais proativa nas parcerias internas, como é o caso do Icei (Instituto de Ciências Exatas e Informática) e Ipuc (Instituto Politécnico), e com cursos e áreas afins, como é o caso do aprofundamento em Educação Inclusiva do Curso de Pedagogia e do Grupo de Estudos em Gestão, Diversidade e Inclusão do Programa de Pós-Graduação em Administração. Além disso, o PUC Inclusiva faz parte de grupos de estudos vinculados ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). E por se tratar de um programa, há projetos em sintonia, como o Alegria – Aprendizagem de Leitura e Escrita gerando Respeito, Inclusão e Autonomia, do Curso de Letras; e Casa do Aprender – Oficinas de Aprendizagem Funcional, Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa, do Curso de Pedagogia.

Dentre os cursos oferecidos neste ano, um que se destacou foi o de inglês, por ter sido uma demanda do próprio público. “Tanto empresas contratantes quanto pessoas com deficiência tinham essa demanda, de estudar e aprender inglês, então nós oferecemos essa modalidade em parceria com o Curso de Letras”, explica. Também foram oferecidos cursos de informática básica, cidadania e artesanato, este último em parceria com o Curso de Administração da Unidade Praça da Liberdade, que introduziu um viés empreendedor à iniciativa.

A extensionista do Curso de Letras Gabriela Lages, do 7º período, 26 anos, é a responsável pelas aulas de inglês, que acontecem sob supervisão da professora Priscila Campello. A estudante afirma que a experiência tem sido positiva e que algumas adaptações são necessárias em função das características de alunos, como trabalhar com fontes de texto maiores e/ou descrição de imagens. “Acredito que essa experiência me ensinou a ser mais atenta ao planejamento de aula e que todos os participantes são importantes e podem contribuir para uma boa aula”, conta.

Funcionária da Pró-Reitoria de Recursos Humanos, Maria do Carmo Vilas Boas é uma das alunas. Ela conta que decidiu fazer as aulas de inglês por ser próximo à sua casa. “Tenho participado e adquirido conhecimentos para entender o idioma e quem sabe futuramente me comunicar”, relata Maria do Carmo, que possui deficiência no membro inferior direito, sequela da poliomielite que contraiu na infância. As aulas acontecem às terças e quintas, no turno da manhã.

Coordenadora do PUC Inclusiva, a professora Carolina Resende lembra que desde 2000 a Proex desenvolve trabalhos voltados para a inclusão da pessoa com deficiência

Baixa qualificação ainda é entrave

Essas e outras ações têm sido desenvolvidas pelo PUC Inclusiva com o intuito de promover a capacitação da pessoa com deficiência e fortalecer a cultura da inclusão no ambiente corporativo, uma vez que a baixa qualificação ainda é considerada entrave para ingresso no mercado de trabalho. Um levantamento do IBGE divulgado em 2021 aponta que apenas 28,3% das pessoas com deficiência em idade de trabalhar (14 anos ou mais de idade) se posicionam na força de trabalho brasileira e quase 68% da população com deficiência não têm instrução ou possui o ensino fundamental incompleto.

Apesar de a lei 8.213/91 ser considerada um marco na inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, muitos desafios ainda são enfrentados, mesmo já passados mais de 30 anos de sua promulgação. “Considero que a lei é importante. O modelo da lei foi muito bem pensado, mas precisamos de incrementar por meio de políticas e de ações afirmativas. E políticas públicas que sejam mais inteligentes no sentido de fomentar, realmente induzir a ação assertiva das organizações”, observa a professora Carolina Resende. Ela destaca o emprego apoiado como uma das metodologias eficazes de inclusão, por contribuir para permanência das pessoas no mercado de trabalho. “O PUC Inclusiva tem trabalhado também nesse sentido, de incentivar e fortalecer a metodologia do emprego apoiado na rede da qual a gente faz parte”, afirma, citando parceiros que são referência no assunto como a Associação Nacional do Emprego Apoiado (Anea) e o Instituto Universitário de Integração na Comunidade (Inico), da Universidade de Salamanca, na Espanha.

Uma das empresas parceiras do PUC Inclusiva é a Avulta. A startup de contratação profissional inclusiva foi vencedora do edital do PUCTec – hub de tecnologia e inovação da PUC Minas – em 2019 e contou com o suporte da Universidade. Com o auxílio de professores, desenvolveu e aprimorou suas tecnologias, bem como sua base científica e metodológica, conforme explica Patrícia Cardoso, cofundadora e COO (diretora de operações, da sigla em inglês) da companhia. “Qualificar essas pessoas para que elas consigam trabalhar em empresas e ter uma boa oportunidade no mercado faz muito sentido. E para as empresas com certeza minimiza boa parte do trabalho”. Para ela, é “muito positivo” PUC Minas ter criado o PUC Inclusiva, por possuir professores de “extrema qualificação” e conseguir alcançar esse público.

Instrutora do PUC Inclusiva, Rosana Bastos está há mais de 40 anos envolvida com a causa das pessoas com deficiência

Eventos abordam diversidade

A realização de eventos também têm sido parte da estratégia de atuação do PUC Inclusiva. Em agosto deste ano, juntamente com o Programa de Pós-graduação em Administração (PPGA) e o Curso de Pedagogia, promoveu a IV Jornada Internacional da Diversidade e Inclusão, que teve como tema Dialogando com as Diferenças no Contexto do Trabalho. Além disso, também vem realizado um ciclo de formação intitulado Conversas Inclusivas, com o objetivo de disseminar informações sobre a inclusão da pessoa com deficiência, além de fortalecer a formação acadêmica dos estudantes. E no Setembro Verde, mês da pessoa com deficiência, o PUC Inclusiva se juntou à Prefeitura de Belo Horizonte na promoção de um evento no Complexo Esportivo da Universidade, em parceria com o Curso de Educação Física, voltado para o fortalecimento do paradesporto.

Instrutora do PUC Inclusiva, Rosana Bastos está há mais de 40 anos envolvida com a causa das pessoas com deficiência e já trabalhou na implantação e desenvolvimento de políticas públicas em órgãos governamentais. Atualmente, coordena diversas atividades no projeto, entre elas o Conversas Inclusivas. “As extensionistas que vêm de diferentes cursos estão animadas e envolvidas com os temas abordados, que são todos voltados para a inclusão social da pessoa com deficiência”, explica. No seu cotidiano, um dos desafios é o enfrentamento e combate ao capacitismo, termo relativamente novo na área e que ainda não se encontra nos dicionários, segundo ela. O capacitismo, explica, é um conjunto de atitudes preconceituosas que discriminam e subestimam a capacidade das pessoas com deficiências apenas pela sua aparência. “É preciso que todos entendam que a pessoa tem que ser vista e conhecida antes da sua deficiência e sempre pelas suas potencialidades e nunca pelos seus limites”, ensina.

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