O câncer de boca é um problema de saúde pública preocupante. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em 2023, a estimativa é que aproximadamente 15 mil brasileiros sejam afetados por ano pela doença, sendo 11 mil homens e 4 mil mulheres. Entretanto, apesar dos números alarmantes, o conhecimento sobre o câncer de boca não é tão difundido na população.
“O câncer de boca é o quinto mais comum entre os homens, mas não observamos tantas campanhas alertando sobre a doença, fatores de risco, e quanto a outros tipos”, reflete a professora do Departamento de Odontologia Giovanna Souto.
Os sintomas mais comuns da doença são manchas brancas, vermelhas ou feridas nos lábios ou na boca que não desaparecem com mais de 15 dias. “Muitas vezes a pessoa não percebe a lesão. Mas, quando vai ao dentista, é possível detectá-la numa fase inicial”, diz a professora Giovanna.
Para compreender a incidência de casos de câncer de boca, o artigo Increased incidence of oral squamous cell carcinoma in Minas Gerais (Brazil): A study of 46 years (Câncer bucal de células escamosas: aumento da incidência em Minas Gerais (Brasil): Um estudo de 46 anos, em tradução livre), publicado como carta ao editor no periódico Oral Diseases, analisou o histórico de diagnósticos do Laboratório de Anatomia Patológica da PUC Minas, referência na área. Para fazer a pesquisa, foram estudados mais de 23 mil laudos, feitos ao longo dos 46 anos de existência do laboratório.
A publicação é derivada do Trabalho de Conclusão de Curso de Laura Lopes, do Curso de Odontologia, orientado pela Diretora do Instituto de Ciências Biológicas e Saúde (ICBS) e docente do Departamento de Odontologia, Profa. Dra. Soraya de Mattos Camargo Grossmann. A carta ao editor foi assinada por Laura em conjunto com os professores doutores Soraya Grossmann, Giovanna Souto, Mariela Dutra, Martinho Campolina, Paulo Eduardo Alencar e Rodrigo Villamarim, todos do Departamento de Odontologia da PUC Minas.
O estudo descreveu os fatores de risco relacionados ao câncer de boca, incluindo idade, sexo e hábitos de vida. De acordo com os relatórios analisados, a neoplasia é mais comum em homens, a partir de 58 anos, tabagistas e que consomem álcool.
Também foi percebido o crescimento do número de casos em Minas Gerais. “Os dados mostraram um aumento progressivo da doença na população em geral ou uma maior eficácia no diagnóstico de novos casos em nosso serviço de patologia oral e maxilofacial. Considerando que este serviço é referência no Estado de Minas Gerais, também pode ser hipotetizado que haja aumento do número de encaminhamentos por clínicos a serviços especializados, resultando em maior número de casos diagnosticados”, afirma. “O laboratório é reconhecido por sua excelência e agilidade nas análises anatomopatológicas, resultando em um maior número de diagnósticos precisos. Isso, por sua vez, permite oferecer aos profissionais responsáveis uma conduta adequada ao paciente, influenciando positivamente no prognóstico”, conclui Laura.
Traçar o perfil dos mais afetados pela doença é uma maneira de aumentar o diagnóstico precoce e, consequentemente, ter mais sucesso no tratamento. A pesquisa endossa que os programas de rastreamento devem incluir os mais acometidos seguindo o critério de sexo, idade e hábitos. A exposição solar, má alimentação e contato com o vírus HPV (Papiloma Vírus Humano) também podem estar relacionados com o desenvolvimento de câncer de boca.
Além do Laboratório de Anatomia Patológica, o Departamento de Odontologia da PUC Minas dispõe da Clínica de Estomatologia e Patologia Oral e Maxilofacial, que atende indivíduos com quaisquer alterações de boca, incluindo o câncer. “Nesse serviço, os pacientes são atendidos, biopsiados, diagnosticados e encaminhados ou tratados, dependendo da doença diagnosticada. Associado a ele, temos o serviço de anatomia patológica onde se faz o diagnóstico histopatológico das lesões biopsiadas”, conta a professora Soraya. O departamento também tem clínicas de suporte que prestam assistência odontológica aos pacientes oncológicos, preparando-os para o tratamento contra o câncer.
Esses serviços são um dos diferenciais do currículo da Universidade. “Poucas são as graduações em Odontologia que oportunizam a competência de formação voltada para a área de Estomatologia e Patologia Oral e Maxilofacial, especialmente com experiência prática e aplicada. Essa formação é humanista e transformadora”, diz a diretora do ICBS.
Serviço à população
Foi por meio da Unidade Básica de Saúde (UBS) da sua região, que Solange Jesus Souza chegou à Clínica de Estomatologia. “Tive câncer na laringe”, diz. O posto de saúde fez os trâmites para encaminhá-la à PUC Minas.
Os pacientes das clínicas são direcionados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por outros consultórios. O Departamento de Odontologia tem um convênio com o SUS de Belo Horizonte, sendo um importante ponto na rede de atendimentos da população, especialmente nessas áreas.
As consultas são realizadas pelos alunos, sob a supervisão de professores. A clínica realiza, em média, 100 atendimentos por semana.
Solange acabou de começar seu tratamento e elogia o atendimento da clínica. “Estou achando tudo ótimo. Os profissionais são muito bons”, diz, destacando a gentileza da equipe.
Incentivo à pesquisa
Além da oportunidade de ter aulas práticas, os alunos da PUC Minas também têm incentivo de ingressar na área de pesquisa, como foi o caso de Laura. Antes do TCC, já estudava o câncer de boca na iniciação científica. Atualmente, segue como aluna do Departamento de Odontologia, mas no Programa de Pós-graduação.
“É importante ressaltar o incentivo à pesquisa na Universidade, pois é um campo fundamental sobre o qual muitas vezes não possuímos tanto conhecimento ao ingressar. O contato com a pesquisa e a oportunidade de ser bolsista de iniciação científica me abriram muitas portas, tanto profissionais quanto pessoais. Essa experiência me permitiu conhecer pessoas de diferentes lugares, estudar e compreender que a Odontologia vai muito além do que imaginamos”, afirma Laura.
Confira o artigo Increased incidence of oral squamous cell carcinoma in Minas Gerais (Brazil): A study of 46 years https://weylerjorge.github.io/nowasted-main/