“Somos seres plenos de saber, graduados na escola da vida e no tempo, o tempo que nos pós-graduou”, diz o trecho do poema Terceira Idade, de Mario Benedetti, poeta, escritor e ensaísta uruguaio, falecido em 2009 aos 88 anos. Nesse mesmo texto, em que aborda a passagem do tempo, ele deixa um recado aos jovens: “Se em teu caminhar encontras seres de andar pausado, de olhar sereno e carinhoso, de pele enrugada, de mãos trêmulas, não os ignores, ajuda-os, protege-os, ampara-os, dá-lhes tua mão amiga, teu carinho”.
É com esse sentimento que, desde 2023, o Laboratório de Extensão, Práticas, Pesquisa, Publicações Acadêmicas e Internacionalização (Lepppai) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) vem realizando o projeto Ateliê Poesia e Vida, com a participação de alunos dos Cursos de Direito, Filosofia, Psicologia e Teologia. Em sintonia com quatro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), a ação tem como objetivo levar a leitura de poemas para residentes em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e casas de religiosos nas proximidades do Campus Coração Eucarístico.
Além de Benedetti, durante as visitas também são declamados poemas de Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Madre Teresa de Calcutá, Jorge Sousa Braga e outros autores. “O Ateliê Poesia e Vida concretiza a missão da Proex, na promoção da ética do cuidado, na facilitação do diálogo inclusivo e, essencialmente, no enriquecimento da formação integral dos estudantes, como cidadãos e como profissionais”, explica o Prof. Dr. Robson Figueiredo Brito, coordenador do Lepppai. Para desenvolver o Ateliê, que está sob coordenação da Profa. Dra. Maria Madalena Loredo Neta, o Lepppai buscou apoio no Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa (IFTDJ). Por meio da Pastoral Universitária, foram estabelecidas as parcerias necessárias para o projeto. Além disso, a ação de extensão também foi incluída nas atividades da disciplina de Ética I, ministrada pelo Prof. Dr. Pe. Márcio Antônio de Paiva, no Curso de Filosofia.
De acordo com o Diretor do IFTDJ, Prof. Pe. Evandro Campos Maria, esse intercâmbio geracional faz muito bem ao jovem pela oportunidade de aprender com a história e a experiência, sobretudo daqueles que já fizeram um percurso histórico maior. “É uma iniciativa muito bonita dos nossos alunos e professores”, afirma. Para os idosos, ele ressalta que é uma oportunidade de reconhecimento da vida, dos sonhos, da esperança, de valorização das pequenas coisas do cotidiano e de possibilitar uma visão positiva da vida.
O seminarista David Rodrigues Camargos, aluno do 2º período do Curso de Filosofia, é extensionista do Lepppai e um dos participantes. Ele afirma que o projeto tem contribuído para o seu crescimento pessoal. “Essa experiência tem me acrescentado bastante, tornando-me mais sensível e capaz de escutar o que as pessoas têm de melhor para oferecer, seja uma história de vida ou um simples desabafo”, conta David, para quem a sensibilidade despertada pela poesia é transformadora.
Apaixonada por poesia e literatura, a estudante Bruna Cássia Carvalho, do 5º período do mesmo curso, se mostrou à vontade com o projeto durante as aulas de Ética. O projeto tem ensinado a ela como lidar melhor com o público idoso e como levá-lo a se envolver com as atividades. “No começo eles ficam tímidos, com receio de se expressar. Eu os incentivei fazendo perguntas e explicando algumas partes dos poemas que não estavam tão claras; logo eles se soltam, riem, rememoram e se divertem”, conta.

Escuta de vozes
O Ateliê Poesia e Vida, explica a professora Madalena Loredo, faz cumprir um preceito fundamental da extensão universitária: unir o conhecimento acadêmico à experiência de vida. “Os estudantes extensionistas, ao interagirem com os mais velhos, aprendem lições valiosas sobre a vida, obtendo sabedoria e perspectiva que não podem ser encontradas apenas nos livros”, observa. De acordo com ela, o projeto enriquece não apenas o aprendizado dos alunos, mas também valoriza os idosos, a partir da escuta de vozes “pouco audíveis”.
Residentes na Inspetoria Madre Mazzarello, localizada no bairro Dom Cabral, as irmãs Déa Martins Lima, de 84 anos, Eurides Bitarelli, de 89, e Josefina de Magalhães Martins, de 88, participaram do projeto. Elas comentam que a presença dos alunos da Universidade trouxe alegria e descontração. “Gosto de poesia porque a gente sai um pouco da realidade ou a embelezamos, e passamos a ver essa terceira idade de forma diferente”, conta a irmã Josefina.