O aumento da expectativa de vida no Brasil representa um grande desafio social e econômico. Junto com a longevidade, surgem também duas questões alarmantes: a gerontofobia (medo ou repulsa ao envelhecimento) e o etarismo (preconceito baseado no fator idade). Essas duas maneiras de discriminar o envelhecimento são o objeto da pesquisa Gerontofobia e Etarismo: bloqueios à consecução de um direito personalíssimo ao envelhecimento em um mundo acelerado, desenvolvida pela Dra. Maíla Mello Campolina Pontes no Programa de Pós-graduação em Direito.
A tese analisa como a marginalização dos idosos contribui para o receio de envelhecer e influencia no exercício do direito a uma velhice digna, conforme previsto pelo Estatuto do Idoso. Segundo a autora, a sociedade contemporânea desvaloriza os mais velhos, perpetuando estereótipos negativos e promovendo práticas discriminatórias em diversos âmbitos, como legislação, saúde e mídia. “Se a velhice é algo que repudio e que desejo manter distante, automaticamente, não me preparo para ser velho um dia e nem sou capaz de ter um olhar sensível às necessidades e cuidados que os velhos ao meu redor inspiram”, explica.
Outro ponto abordado por ela é o “presentismo”, conceito que define um regime de historicidade no qual o presente está desconectado tanto do espaço de experiência, como do horizonte de expectativa. Esse modo pelo qual as pessoas são atravessadas pelo tempo favorece o desrespeito à velhice, pois o passado deixa de produzir sentido para o presente e o futuro não se apresenta como um panorama para perspectivas positivas. “Se o passado não tem valor e o futuro não representa esperança, a velhice se torna um destino temido e desprovido de dignidade”, observa Maíla.
A partir de uma abordagem transdisciplinar, a pesquisadora percebeu como a mídia reforça padrões estéticos que associam beleza à juventude e como a Medicina, por meio dos procedimentos rejuvenescedores, tornou-se um recurso para atenuar os efeitos do tempo sobre a aparência.
Além disso, analisando dados governamentais e relatórios de entidades privadas, a pesquisa constatou um aumento da violência contra os idosos, das cirurgias plásticas nessa faixa etária e dos problemas de saúde mental desse público. Nesse contexto, o estudo destaca a imprescindibilidade de se fomentar políticas públicas, a fim de tornar os direitos já previstos na legislação uma realidade na vida das pessoas idosas. Somente haverá uma ressignificação da velhice se a dignidade for experimentada no dia a dia.

Qualidade de vida em foco
Atenta ao valor social, cultural e à promoção da saúde das pessoas idosas, a Universidade realiza em seus campi uma série de atividades e projetos de extensão voltados a este público. O Pedalando com a PUC, do Curso de Medicina da PUC Minas Betim, já beneficiou residentes de 14 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) de Belo Horizonte, Betim e Contagem.
O projeto promove passeios semanais de triciclo pela orla da Lagoa da Pampulha, encontros e práticas intergeracionais com pessoas idosas da comunidade, equipes e residentes de ILPIs, além de discentes e docentes.
Milton Rafael de Freitas, 73 anos, residente do Lar Cristo Rei, em Belo Horizonte, é um dos participantes mais ativos e destaca como a experiência é valiosa em vários aspectos. “É joia quando me exercito fazendo os passeios de triciclo na orla. Lá, já encontrei conhecidos, fiz novos amigos, conheci a Igreja da Pampulha (São Francisco de Assis) e a Toca da Raposa. Por mim, pedalaria os 18 km de extensão da orla”, ressalta.
Além da saúde física dos participantes, o projeto atua na promoção do envelhecimento ativo, na integração intergeracional e na qualidade de vida das pessoas idosas, explica a Profa. Dra. Natália de Cássia Horta, uma das coordenadoras do Pedalando com a PUC, que se inspirou em uma pesquisa autoral sobre práticas intergeracionais nacionais para a realização da iniciativa.
O projeto é fruto do envolvimento de aproximadamente 50 alunos e professores extensionistas dos Cursos de Comunicação Social, Direito, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Publicidade e Propaganda; da Diretoria de Políticas para a Pessoa Idosa da Prefeitura de Belo Horizonte; de três Organizações da Sociedade Civil: Cuidadosa, Providens e Vides, empresas de aluguel de bicicleta, além da colaboração de voluntários de diferentes áreas de conhecimento que atuam no âmbito da Gerontologia.
Para Fagner Ferreira Pinto, discente do 7º período do Curso de Medicina do Campus Betim, a vivência com as pessoas idosas é um aprendizado. “São pessoas que precisam ser ouvidas e sempre têm alguma história para contar. Essa escuta nos coloca cada vez mais próximos deles e nos habilita a sermos capazes de resolver suas demandas com mais efetividade. Assim, aprendemos mais sobre suas necessidades, angústias e perspectivas futuras”, enfatiza.

Qualificação profissional para o cuidado dos idosos
Diante dos desafios relacionados ao envelhecimento populacional e em sintonia com as necessidades do mercado, a PUC Minas oferta Curso de Especialização em Gerontologia, também coordenado pela Profa. Natália Horta.
O curso, disponível nas modalidades EAD com videoaulas, on-line ao vivo e híbrida, possui uma abordagem interdisciplinar e capacita profissionais das mais diversas áreas de conhecimento que atuam ou desejam atuar na saúde do idoso. “A especialização visa construir e aprimorar uma visão global e integrada do envelhecimento com uma avaliação que vai além da clínica”, afirma a coordenadora.
Um estudo da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), de 2024, revela que mais de 80% dos idosos têm ao menos uma doença crônica, e 60% enfrentam duas ou mais condições simultâneas. Esses dados reforçam a necessidade de priorizar o envelhecimento saudável. Segundo Paula Ferreira Chacon, professora da disciplina Políticas Públicas e mentora do Curso de Gerontologia, existem quatro pilares fundamentais para um envelhecimento ativo: saúde integral, participação social, segurança e aprendizagem contínua ao longo da vida. “Envelhecer de forma saudável depende de escolaridade, acesso a serviços, trabalho, renda, moradia e diversos outros fatores”, explica.
A professora ressalta que o envelhecimento se manifesta de diferentes maneiras entre os grupos populacionais e destaca como a desigualdade social, invisibilidade e gerontofobia podem dificultar a possibilidade de um envelhecimento saudável e respeitoso. “As pessoas idosas ainda são invisíveis e, quando são vistas, é com muito preconceito”, pontua.
A saúde mental dos idosos também exige atenção. A depressão atinge 13% da população entre 60 e 64 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fatores como a solidão, limitações físicas e perdas afetivas agravam esse quadro. “É preciso promover espaços de educação em longevidade, oportunizando a presença dos idosos nas comunidades e valorizando seu saber e história de vida”, conclui Paula.
A capacitação de profissionais da saúde com ênfase no apoio aos familiares e cuidadores de idosos é reconhecida como uma tendência global na pesquisa FDC: Longevidade, realizada pela Fundação Dom Cabral e Hype 50+. Nesse cenário, a formação contínua de profissionais da saúde, como a oferecida pela Pós PUC Minas, representa não apenas um diferencial no atendimento qualificado e humanizado à pessoa idosa, mas também uma alternativa para enfrentar os preconceitos e barreiras ligadas ao envelhecimento.
SAIBA MAIS
Assista à entrevista com a professora Natália Horta no Youtube