“A fome não é apenas uma tragédia, mas também uma vergonha”

O título deste editorial é uma citação da mensagem em vídeo do Papa Francisco para o Dia Mundial da Alimentação, publicado em 16 de outubro de 2020. Com essa citação, queremos trazer à baila, nesta edição da Revista PUC Minas em sua reportagem de capa, um assunto tão urgente quanto antigo: a fome, sofrimento que aflige particularmente os mais pobres de todo o mundo.

“É preciso uma nova mentalidade a ser alcançada com programas de educação por meio de políticas públicas, de encaminhamentos de ONGs não governamentais, de iniciativas de instituições religiosas em que haja a oportunidade de formação para a sustentabilidade e para a superação das formas de desperdício instauradas (…)”
Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva
Reitor da PUC Minas

Desde 2015, o Brasil voltou a figurar no Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas. Essa situação agravou-se durante o período da atual pandemia. No ano de 2022, o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no País indicou que 33,1 milhões de pessoas não têm conseguido garantir o que comer. O estudo ainda aponta que cerca de 125,2 milhões de brasileiros (58,5% da população) convivem, em algum grau, com a insegurança alimentar. Diante desse quadro alarmante, causa estupor o levantamento da ONU por meio do qual revela-se que o Brasil desperdiça cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos por ano.

Esse paradoxo torna-se indicativo do que o Papa Francisco já havia percebido, com lucidez, quando participou no ano passado da Pré-Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU e afirmou que “se queremos garantir o direito fundamental a um nível adequado de vida e nos empenharmos a alcançar o objetivo Fome Zero, não basta produzir alimentos. Necessitamos de uma nova mentalidade, de um novo enfoque integral”. A produção de alimentos de per se não é segurança da diminuição da fome. É preciso uma nova mentalidade a ser alcançada com programas de educação por meio de políticas públicas, de encaminhamentos de ONGs não governamentais, de iniciativas de instituições religiosas em que haja a oportunidade de formação para a sustentabilidade e para a superação das formas de desperdício instauradas, inclusive com gasto desnecessário de energia e água e com descarte de comida, no dia a dia de nossas famílias.

A propósito da necessidade de se criar uma cultura familiar em que haja educação para o uso adequado de alimentos, não somente em função de sua economia, mas da educação para o seu correto aproveitamento, é significativa a imagem recordada pelo Papa Francisco em sua mensagem por ocasião do Fórum Mundial da Alimentação, publicada em 17 de outubro passado: “Os alimentos são sinais concretos da bondade do Criador e frutos da terra. Vêm-me à mente os nossos avós e o respeito que tinham pelo pão; beijavam-no quando o colocavam na mesa e não permitiam que nem sequer uma migalha fosse desperdiçada.”