Não é de hoje que pequenos e médios produtores são protagonistas da produção nacional do leite. Eles geram empregos, estimulam a produção local, contribuem para a preservação do meio ambiente e fortalecem o comércio.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil ocupa a terceira posição na produção mundial de leite, com mais de 34 bilhões de litros por ano. Os dados ainda apontam que a produção, predominantemente de pequenas e médias propriedades, acontece em 98% do território brasileiro e gera emprego para, aproximadamente, 4 milhões de pessoas. E, dos 26 estados brasileiros, Minas Gerais detém cerca de 27% da produção nacional, conforme dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).
Nesse contexto, com o intuito de fortalecer a produção de pequenos produtores rurais, promover o aumento da lucratividade, elevar a qualidade do produto e garantir melhores condições de vida aos trabalhadores, o Curso de Medicina Veterinária da PUC Minas Betim tem realizado visitas a diversas comunidades, por meio do projeto de extensão Gestão Pecuária. O projeto oferece auxílio às fazendas afetadas pela tragédia de Brumadinho, em parceria com o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab).
Segundo o coordenador, Prof. Dr. Rogério Carvalho Souza, as visitas mensais tiveram início no primeiro semestre deste ano nas comunidades de Peixe Bravo, Córrego de Areia e Casa Nova, no município de Fortuna de Minas, região Central do Estado.
Para o início das atividades, é feito um diagnóstico das condições clínicas e físicas dos animais, da produção e das dificuldades enfrentadas pelos produtores. Após a análise, os extensionistas orientam cada um, de forma individual, e operacionalizam os processos do local, visando o aumento do rendimento e da qualidade do leite.
Em Córrego de Areia, um dos produtores atendidos é Marcelo Henrique Cunha. O projeto, que no início não era de seu conhecimento, ganhou sua confiança e, hoje, ele o conceitua como um processo que leva às famílias de pequenas propriedades rurais conhecimento e tecnologia. “Quando fiquei sabendo da possibilidade de ter o acompanhamento em minha propriedade, achei o máximo. Para nós, tudo é novidade, então esse projeto caiu igual a uma luva, pois ter uma assistência técnica em nossa propriedade não é fácil. Sou privilegiado por fazer parte disto”, enaltece Marcelo.
Durante o projeto, já foram realizados treinamentos para o alinhamento da equipe quanto às necessidades dos produtores e diversas ações rurais, além dos diagnósticos, como vacinação e vermifugação dos animais que necessitaram desses cuidados, coletas para exames, intervenção cirúrgica, entre outras.
Além do professor Rogério Carvalho, o Gestão Pecuária conta com a participação do médico veterinário da Fazenda Experimental da PUC Minas, Michael Douglas Sandes, que também atua na condução do projeto, e de trinta alunos do Curso de Medicina Veterinária dos campi Betim e Lourdes que, em campo, colocam os ensinamentos teóricos em prática.
Para a aluna do 5º período da PUC Minas Betim, Maíra de Castro Oliveira Gomes, a experiência de contribuir para o desenvolvimento de propriedades rurais tem sido enriquecedora. “Conhecer a realidade dos pequenos produtores, saber a dor deles e aprender a resolver diferentes questões é uma excelente preparação para o mercado de trabalho. Fico realizada em fazer parte deste projeto, pois, além da assistência que oferecemos, ou seja, da parte prática, o relacionamento que desenvolvemos com os produtores e a gratidão que vemos por parte deles nos dão a certeza de que estamos no caminho certo”, ressalta.
Até o fim do ano, a expectativa do projeto Gestão Pecuária é atender dez produtores, de forma direta, e 25, indiretamente.
Agente de transformação no campo
O aprimoramento da produção de leite e aumento da renda de produtores rurais locais são também alguns dos principais objetivos do programa Mais Genética, uma iniciativa do Governo de Minas, por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em Poços de Caldas, no Sul de Minas, o projeto é executado pela prefeitura por meio da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), em parceria com a PUC Minas Poços de Caldas.
O município aderiu ao projeto em 2021 e conta com a participação de alunos e professores do Curso de Medicina Veterinária da Universidade desde o primeiro semestre deste ano. “A parceria se deu justamente para melhorar ainda mais o programa. Selecionamos pequenas propriedades rurais mediante o interesse de cada produtor que viu uma oportunidade de melhorar o rebanho”, explica Franco Martins, secretário de Desenvolvimento Econômico de Poços de Caldas.
Semestralmente, alunos e professores da Universidade realizam visitas técnicas às propriedades e fazem sugestões, por meio de relatórios, de melhorias na produção leiteira e, em alguns casos, para o gado de corte. “Fazemos o levantamento, diagnóstico e, então, sugerimos mudanças no manejo nutricional e sanitário dos animais. Isso vai ao encontro do que os alunos do Estágio Pré-Profissional em Animais de Produção e Equinos e dos discentes da disciplina de Clínica de Ruminantes aprendem em aula. Propiciamos também a oportunidade de praticarem o conhecimento adquirido”, ressalta o professor Domingos Marcelo Cenachi Pesce.
No total, participam do projeto cerca de 35 alunos. Cinco professores integram a iniciativa e orientam os estudantes na elaboração das sugestões. Para a aluna do 8º período do curso e bolsista do projeto, Kerolayne Arielle da Silva, a experiência de fazer parte do programa tem sido enriquecedora. “É o melhor projeto que já participei. Consigo pegar a bagagem que trago durante os anos de faculdade e monto um planejamento que vai melhorar a propriedade de acordo com a realidade do proprietário. Infelizmente, a maior parte da atenção dada à produção leiteira é em grandes fazendas; com este projeto é diferente. Para mim está sendo muito enriquecedor saber abordar o produtor, fazê-lo sentir confiança em mim, no meu trabalho, fazer com que eles se sintam seguros com a gente”, afirma.
O projeto também prevê a disponibilização de sêmen, por parte da prefeitura, para melhorar a produção de leite e carne. Até hoje, o Programa Mais Genética atendeu oito propriedades rurais, com seis aderências. Um dos proprietários participantes do Mais Genética é o veterinário formado pela PUC Poços, Pablo Passos. “Todas as orientações são muito pertinentes e necessárias. Seguir à risca todas as sugestões tem trazido resultados. No caso da inseminação artificial, as diferenças devem ser notadas em até dois anos, mas já temos uma bezerra fruto da iniciativa”, declarou.
O mesmo ocorre com o produtor Maurício Junio Bittencourt Ferreira. “Decidi participar do projeto porque acho sempre importante buscar conhecimento. As sugestões que me foram passadas me ajudam muito e eu sigo todas para alcançar os resultados que já estão aparecendo”.
Cada propriedade foi visitada duas vezes no primeiro semestre deste ano; uma para o diagnóstico e outra para entrega dos relatórios e realização das orientações. Outras duas visitas serão feitas em cada uma até o final de 2024 para o acompanhamento e, se necessário, realizar novas sugestões. A prefeitura também trabalha para conseguir aumentar o número de participantes nesse período, com a expectativa de conseguir dobrar o quantitativo já presente.
SAIBA MAIS
A coorientadora da pesquisa, Profa. Dra. Isabela Cristina Rocha, especialista macroinvertebrados aquáticos já atuou no monitoramento da biodiversidade em resposta ao rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. A pesquisadora também passou pelo Laboratório de Invertebrados e desenvolveu projetos financiados pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Probic) e pelo Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP) da PUC Minas.