Mulheres na Tecnologia

Projeto de extensão aproxima meninas do universo digital, computacional e tecnológico
Amanda Freitas, aluna do 3º ano do ensino médio, participa do projeto Elas ++ | Foto: Nathália Farnetti
Amanda Freitas, aluna do 3º ano do ensino médio, participa do projeto Elas ++ | Foto: Nathália Farnetti

O que você se vê fazendo no futuro próximo? Para Amanda Freitas, a resposta é rápida: participar do desenvolvimento de um jogo. Ela está no 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública em Belo Horizonte e participa, desde o início do ano, do Projeto Elas++ (elas mais mais), atividade de extensão do Curso de Ciência da Computação da Unidade Praça da Liberdade. “Resolvi participar do projeto porque faz muito tempo que penso em entrar na área de Ciência da Computação. Queria saber mais sobre a carreira, se realmente é o que quero”, conta Amanda.

O principal objetivo do Elas++ é atrair e aproximar as pessoas do sexo feminino – jovens, adolescentes e mulheres – para o universo digital, computacional e tecnológico. “A gente quer mostrar para as meninas que a área de TI tem muita coisa para fazer, tem muito espaço no mercado de trabalho, inclusive no exterior – por isso, fui para essa área –, um espaço gigantesco para crescimento e que é uma área muito divertida”, explica a extensionista do projeto, Gabriela Muniz, aluna do 2º período de Ciência da Computação na Unidade Praça da Liberdade.

Ela conta que um dos grandes desafios é as mulheres não se enxergarem nessa área. Quebrar esse paradigma é justamente a proposta do projeto: mostrar para as meninas que a área de tecnologia é algo muito maior e com muitas possibilidades para todos e todas. “O projeto visa promover ações constantes, por meio de oficinas regulares sobre fundamentos da Computação direcionadas a alunas do ensino médio, e também ações voltadas para estudantes de cursos superiores, como palestras e workshops com temas voltados para a tecnologia”, explica a professora Luciana Mara Freitas Diniz, coordenadora do Projeto Elas ++, iniciativa parceira do programa Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).

A história da Amanda não é tão comum. “Muitas meninas gostam de jogos, mas nunca pensaram que poderiam desenvolver um”, conta a Profa. Dra. Mirella Moro, uma das coordenadoras do programa Meninas Digitais da SBC. Assim como o Elas++, o Meninas Digitais conta, atualmente, com quase 90 projetos parceiros ativos em todas as regiões do Brasil. “Levamos as informações para as meninas sobre a área de computação, sobre as possibilidades do mercado de trabalho, sobre os valores dos salários, que existe um mercado de jogos no Brasil e não é preciso ir para o exterior se não quiser”, explica. “Praticamente em todos os projetos do Meninas Digitais temos exemplos de meninas que vieram para a área de Tecnologia porque tiveram acesso às informações”, conta.

Amanda acredita que as meninas precisam perder o medo da área de computação. “É algo muito legal e pode mudar a vida delas. É muito interessante de se aprender. Programação é a base de tudo. Você pode fazer muitas coisas com isso”, fala. A motivação para se criar o Projeto Elas++ foi a baixa expressividade do público feminino nas áreas de Exatas e, mais especificamente, na área de Tecnologia da Informação, a exemplo do número restrito de jovens mulheres ingressantes em cursos superiores de Computação. “O cenário se mantém praticamente o mesmo desde quando ingressei na faculdade e em 12 anos de docência em diferentes instituições de ensino superior, onde pude perceber tal constância”, conta a professora Luciana.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de mulheres trabalhando com tecnologia aumentou 60% nos últimos cinco anos. No entanto, quando se analisa os números gerais, as mulheres ocupam apenas 12,3% dos cargos de tecnologia. “A indústria está vendo a importância de ter mais mulheres, porque o perfil da mulher em Computação é diferente do homem: têm mais atenção aos detalhes, querem fazer funcionar com uma interface bacana, querem que tenha uma contribuição social. As empresas estão percebendo essa diferença. Por isso, estão buscando mulheres que fazem Computação”, explica a professora Mirella, que conta que recorrentemente recebe ofertas de vagas voltadas para as mulheres nas empresas.

De acordo com a professora Luciana, outro objetivo do projeto Elas++ é colaborar para evitar, ou pelo menos mitigar, a evasão de alunas recém-chegadas ao Curso de Ciência da Computação. Para o Prof. Dr. Felipe Domingos da Cunha, Chefe do Departamento de Ciência da Computação da PUC Minas, por ser uma área predominantemente masculina, há muitos preconceitos e o Projeto Elas++ é importante para fomentar essa discussão de gênero na área, conscientizando também os homens.

“Essas discussões são pontos importantes no curso porque temos mulheres muito importantes na área de Computação ao longo da história, seja no Brasil ou no exterior. Reconhecer a importância das mulheres já é um primeiro passo. É preciso criar um ambiente heterogêneo e diverso para que elas possam contribuir com suas habilidades femininas para o curso, para o departamento, para o mercado”, explica.

A professora Mirella destaca a importância de projetos como o Elas++, pois despertam no corpo docente um olhar especial para as questões de gênero na tecnologia. “Com esses projetos, acabamos afetando todo o corpo docente. Professoras e professores começam a perceber a necessidade de fomentar a participação de mulheres e de apoiar as alunas. Elas saem do Ensino Médio, geralmente com turmas equilibradas, para ingressarem em salas onde são a minoria”, conta. “Esse meio pode ser muito opressor e aí está a importância do acolhimento a essas estudantes”. De acordo com a professora, muitos meninos fazem o Ensino Médio técnico e iniciam a graduação com bons conhecimentos em programação, o que não é muito comum entre as meninas. E isso também contribui para a desigualdade em sala de aula. “É muito importante que as meninas tenham esse acolhimento durante a graduação, e muito apoio depois, para fazerem especialização, mestrado, doutorado”.

O professor Felipe ressalta a importância do projeto Elas++, pois é uma forma de proporcionar às meninas do Ensino Médio contato com a área da Computação, mesmo não estando em um curso superior. “Muitos não sabem o que é ser um cientista da computação e quais são as áreas de atuação. As meninas passam a ter um entendimento do que é estudar tecnologia e quais são as perspectivas dessa profissão. O Elas++ foca nessas minorias tentando clarear um pouco mais essas perspectivas e mostrar o quanto o cenário é carente da presença de mulheres e quanto pode ser valoroso”, explica. “Esperamos que as ações do Projeto Elas++ possam colaborar com a representatividade das mulheres na Computação, buscar a equidade de gênero, tanto na academia quanto no mercado de trabalho, e obter maior reconhecimento de todos”, conta a professora Luciana. Gabriela espera “ajudar ainda mais meninas a verem que a área de Tecnologia é incrível. Não é fácil, mas a gente é muito resiliente e criativa. Todas nós que participamos do Programa, em todas as regiões e projetos, temos o mesmo grau de resiliência, de força, de criatividade, de vontade, de saber que é importante dedicar horas do seu trabalho para essa causa, porque acreditamos nisso”, conclui a professora Mirella.

Os professores Felipe Domingos e Luciana Freitas afirmam que é importante fomentar a discussão de gênero na área de TI | Foto: Guilherme Simões
SAIBA MAIS

Meninas que optam por cursos na área de Tecnologia enfrentam preconceitos e a luta contra a baixa autoestima. O Elas++ tem a missão de fomentar debates e empoderar as estudantes, reduzindo a evasão e proporcionando um ambiente inclusivo e acolhedor para as futuras profissionais. Escolas interessadas em participar das atividades podem fazer contato pelo elasmaismais@pucminas.br ou @elasmaismais.

Ouça o podcast sobre o tema.

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