Dezenas de milhões de cães e gatos habitam lares das famílias brasileiras, segundo reiterados levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizados em anos recentes. Muitos recebem de seus tutores o carinho digno de um filho de sangue, mas nem todos têm a mesma sorte. O crescimento da população de animais abandonados nas ruas, por exemplo, é considerado um problema de saúde pública, tendo em vista questões como a propagação de zoonoses – que afeta também os seres humanos – e a reprodução desordenada.
O controle populacional é um dos fatores de ordem coletiva pelos quais os especialistas da área recomendam a castração de cães e gatos, mas há ainda outros benefícios. Os animais que passam pelos procedimentos de orquiectomia (castração em machos) e ovariohisterectomia (fêmeas) são menos propensos a desenvolver determinadas doenças, como o câncer de mama, e apresentam diversas melhorias comportamentais. Em geral, tornam-se menos agitados e aderem mais facilmente aos hábitos de higiene ensinados pelos tutores.
Com o objetivo de conscientizar e ampliar o acesso da população ao serviço de castração, o Prof. Dr. Victor José Vieira Rossetto, do Curso de Medicina Veterinária do Campus Poços de Caldas, elaborou um projeto de extensão voltado ao controle de natalidade em cães e gatos. As atividades, que incluem a realização do procedimento cirúrgico em animais cadastrados e a produção de materiais informativos, tiveram início em fevereiro de 2023 e devem se estender até o fim do ano.
Cresce a demanda, cresce a oferta
Ao elaborar o projeto, o docente previa a realização de 50 cirurgias ao longo do ano. Essa expectativa já foi superada: apenas no primeiro semestre, ocorreram 62 procedimentos. Isso foi possível graças à ampla disponibilidade de alunos interessados em participar e aprender a realizar o processo, inclusive de maneira voluntária, e à vasta demanda de tutores e organizações que cuidam de animais abandonados nas ruas.
A lista de espera cresce a cada dia. Um dos atrativos é que as cirurgias realizadas por meio do projeto são gratuitas, ao passo que, na rede particular, o custo do procedimento não é acessível à boa parte da população. Outros diferenciais do projeto envolvem a realização de uma criteriosa avaliação clínica de cada paciente, a ministração de medicamentos no pré e pós-operatório, o uso de fios absorvíveis e a aplicação de anestesia inalatória, que é considerada mais segura.
O professor Victor relata que a iniciativa partiu de experiências desenvolvidas nas disciplinas que abordam reprodução e obstetrícia. “O projeto integra muito bem o ensino e a extensão. Contribui para a formação humanística e técnica e permite aos estudantes a consolidação do conhecimento adquirido em sala de aula”, explica.
O aprendizado de estar a serviço
Mais de 20 alunos atuam no projeto atualmente. Divididos em grupos, eles têm a oportunidade de ocupar diferentes funções no procedimento cirúrgico, de modo a compreendê-lo em toda a sua complexidade. Todas as atividades são supervisionadas pelo docente responsável e contam com o auxílio de uma bolsista do projeto, a aluna Carolina Gaspar Vasque, que cursa o 9º período de Medicina Veterinária no Campus. Como monitora, Carolina auxilia em etapas como organização dos grupos, identificação dos pacientes, divisão de tarefas, acompanhamento dos procedimentos e planejamento das atividades. Uma das experiências que ela destaca foi a confecção de modelos anatômicos para treinamento da manobra cirúrgica. As peças foram desenvolvidas pelos próprios alunos, uma estratégia adotada por Victor para que os estudantes fixassem o conteúdo. “Participar do projeto de controle de natalidade tem sido uma experiência essencial na minha formação profissional porque está me auxiliando a ganhar a confiança necessária para que eu saia da faculdade sabendo e podendo realizar uma castração”, ressalta Carolina.
Orientação profissional faz diferença
Gustavo Maran entrou na fila ainda na fase inicial do projeto e relata que recebeu um atendimento excelente, inclusive na fase anterior à cirurgia, quando são feitos exames para avaliar o quadro clínico do animal. “Tudo ocorreu de forma tranquila, até mesmo no pós-operatório. Fui muito bem-orientado e segui todas as indicações para a recuperação da Marie”, conta.
A cirurgia de castração é, geralmente, um procedimento de baixo risco e tende a ser mais simples em machos, uma vez que apresentam órgão reprodutor externo. Na maior parte dos casos, sua realização é eletiva, mas pode se tornar uma recomendação terapêutica nos casos que envolvem determinadas doenças ou condições anatômicas. O acompanhamento profissional de um médico veterinário é fundamental para determinar a necessidade e o momento mais adequado para realização da cirurgia, buscando promover a saúde e o bem-estar do animal.