A fumaça branca saindo da Capela Sistina indicava que o novo Papa havia sido escolhido. Na noite de 13 de março de 2013, o portenho Jorge Mario Bergoglio foi anunciado como Santo Padre e se apresentou na varanda da Basílica de São Pedro.
Após aceitar o cargo, Bergoglio definiu qual nome assumiria: Francisco, em referência a São Francisco de Assis. A escolha foi influenciada por uma frase dita por Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo: “não se esqueça dos pobres”.
A humildade e simplicidade foram aspectos marcantes do seu pontificado. Em vez de residir no tradicional apartamento papal, Bergoglio optou por ficar em um quarto modesto na Casa Santa Marta, também localizada no Vaticano. Era comum que ele fosse visto com trajes simples, usando apenas uma batina branca lisa. O coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião e chefe do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, Prof. Dr. Rodrigo Coppe, aponta o simbolismo da veste. “Ele escolheu ser mais simples, o que corresponde à escolha do nome Francisco”.
Origem e missão
Bergoglio, agora Papa Francisco, foi o primeiro pontífice nascido na América Latina bem como o primeiro jesuíta a assumir a função, o que marcaria seu papado. Como ordem religiosa, a Companhia de Jesus foi estabelecida pela ideia da universalização da missão e tentativa de diálogo com a cultura local, adaptando o Evangelho a cada realidade.
A valorização da cultura popular como lugar teológico também foi marcante durante seu pontificado. Conforme explica o professor Coppe, Francisco era influenciado pela Teologia do Povo. “A formação teóloga de Francisco tinha uma perspectiva mais pastoral e do encontro, de estar junto e de escutar”.
A misericórdia era notável em suas reflexões e, por isso, era comparado ao Papa João XXIII, cujo pontificado transcorreu entre 28 de outubro de 1958 e 3 de junho de 1963. “Francisco falava sobre aproximação com o povo. Podemos dizer que ele foi um herdeiro do Vaticano II”, sinalizou Coppe.
Na ocasião do conclave de 2013, segundo o professor, “os cardeais entendiam que era um momento de fazer reformas na Igreja, refletindo algo do legado do Concílio Vaticano II, que foi convocado por João XXIII”. Ocorrido entre 1962 e 1965, Vaticano II foi um encontro de bispos em Roma com o objetivo de aproximar os fiéis à Igreja.
Legado e reflexões
Durante seus 12 anos de pontificado, Francisco publicou quatro encíclicas. A primeira, Lumen Fidei (Luz de Fé), foi iniciada por Bento XVI, seu predecessor. A carta discorre sobre a fé como guia que ilumina a vida dos cristãos. O texto também enfatiza que a fé não deve ser um obstáculo à razão ou à ciência e, sim, uma luz que amplia a visão humana sobre as realidades da modernidade.
A segunda encíclica, Laudato Si’ (Louvado Sejas), lançada em 2015, foi inspirada no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. O documento magistral chama o planeta de Casa Comum e aborda o conceito de Ecologia Integral, que une dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas e espirituais. “Isso é importante porque se refere também à humanidade. A ecologia é pensada de maneira ampla: uma ecologia integral, em que o ser humano está inserido e em relação”, explica Coppe.
No mesmo ano, Francisco discursou na Cúpula Global sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Nova York, ocasião em que foi adotada a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). “É um sinal importante de esperança. Estou confiante também que a Conferência de Paris [que aconteceria em dezembro do mesmo ano] sobre as alterações climáticas alcance acordos fundamentais e eficazes”, disse o Papa na ocasião.
Em Fratelli tutti (Todos irmãos), Francisco faz uma reflexão a respeito da importância do amor fraterno. “Fala sobre a fraternidade e amizade social em nível global, principalmente em relação às divisões, polarizações e exclusões”, explica Coppe.
A quarta e última, Dilexit nos (Ele nos amou), aborda o amor divino e humano do Coração de Jesus. No texto, o Pontífice recorda Laudato Si’ e Fratelli tutti, apontando que é bebendo do amor de Cristo que nos tornamos “capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa Casa Comum”.
Uma Igreja misericordiosa e uma vida simples foram características do pontificado de Francisco. Como legado, reforçou para a sociedade a importância das discussões sobre o meio ambiente e que os desafios globais são responsabilidade de todos e não somente dos cristãos.
LINHA DO TEMPO PAPA FRANCISCO
17 de dezembro de 1936
Jorge Mario Bergoglio nasce em Buenos Aires
13 de dezembro de 1969
É ordenado Padre
20 de maio de 1992
Torna-se Bispo Auxiliar de Buenos Aires
3 de junho de 1997
Torna-se Arcebispo Coadjutor de Buenos Aires
28 de fevereiro de 1998
Torna-se Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires
21 de fevereiro de 2001
É ordenado Cardeal pelo Papa João Paulo II
13 de março de 2013
Bergoglio é eleito como Papa no segundo dia do conclave e adota o nome Francisco
29 de junho de 2013
Francisco assina a encíclica Lumen fidei (Luz da Fé), que foi iniciada pelo seu predecessor, Bento XVI
24 de maio de 2015
Francisco assina a encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas), a primeira inteiramente de sua autoria
4 de outubro de 2020
Francisco assina a encíclica Fratelli tutti (Todos irmãos – sobre a fraternidade e a amizade social)
24 de outubro de 2024
Francisco assina a encíclica Dilexit nos (Ele nos amou)
21 de abril de 2025
Papa Francisco morre aos 88 anos