No sul de Minas Gerais, aos pés da Serra de São Domingos, está Poços de Caldas, município conhecido pelas belezas naturais e pelo potencial turístico. Desde a fundação, as águas quentes que brotam do interior da terra fazem com que a cidade seja conhecida, entre outras características, pelas águas sulfurosas que chegam a 42° C e que atraem milhares de pessoas todos os anos. Trata-se de um tipo de água encontrada em reservatórios subterrâneos que é enriquecida por vários minerais, conforme percorre as camadas terrestres. Em Poços de Caldas, que está localizada em uma caldeira vulcânica, esse processo é potencializado pelas características geográficas e faz parte da história do município.
Com base neste contexto, a estudante do sétimo período do Curso de Biomedicina do Campus Poços de Caldas, Sarah Rodrigues, desenvolveu um biocurativo reabsorvível a partir dos microrganismos benéficos presentes nas águas termais. A pesquisa de iniciação científica é desenvolvida por meio do Fundo de Incentivo à Pesquisa da PUC Minas (FIP/PUC Minas), desde 2022.
O biocurativo é composto por óleos essenciais como alecrim e capim-limão e pode ser usado para auxiliar na cicatrização de cortes, queimaduras e hematomas. É completamente reabsorvível pela própria pele, o que evita o lançamento de resíduos deixados na natureza. Além disso, contém as vitaminas A, C e E que mantêm a superfície tecidual hidratada.
O diferencial do biocurativo, em relação aos tradicionais, está no uso da água termal como base bioquímica, do emprego de nanoemulsões (processo que impede a evaporação de substâncias presentes nos óleos essenciais utilizados no produto) e da capacidade de evitar a entrada de microrganismos indesejáveis, que podem causar contaminações e atraso no processo de cicatrização. “Sabemos da origem histórica da água termal em Poços. Mas por que ela cura? É a água? São os microrganismos presentes nela? Nossa hipótese é que sejam os dois. Ambos têm potencial de cicatrização. No caso do nosso biocurativo, ele ainda agrega compostos vitamínicos para impulsionar este processo”, explica a estudante.
Atualmente, o biocurativo está nas fases finais in vitro e, em breve, começará a ser testado in vivo. Assim que terminada a realização de todas as etapas, a pesquisa será adaptada em um projeto de extensão, com o objetivo de oferecer o biocurativo à rede pública de saúde municipal e estadual. Além do mais, existe a expectativa de direcionar o produto ao âmbito cirúrgico, em procedimentos invasivos e não invasivos. O projeto também teve o pedido de registro de patente depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e aguarda os trâmites necessários.
Tecnologia acessível
Embora biocurativos sejam extremamente eficazes, a tecnologia cara dificulta o acesso à boa parte da população. O produto desenvolvido por Sarah foge à regra. Estima-se que, quando disponibilizado à comunidade, ele deverá custar R$0,25, preço bem abaixo, inclusive, de curativos tradicionais já presentes no mercado. “A ideia sempre foi criar um produto que pudesse atingir muitas pessoas. Algo que fosse barato, acessível, mas que causasse impacto. Se eu tiver a possibilidade de mudar pelo menos a condição de uma pessoa levando um curativo acessível, minha vida já valeu a pena. Mas se eu puder mudar mais realidades com esse curativo ou com outros projetos que ainda virão, será o cenário ideal”, ressalta a estudante.
O orientador da pesquisa, Prof. Dr. Jorge Pamplona, entrou no projeto assim que chegou à Universidade. “O orientador não deve apenas oferecer o suporte teórico, mas deve participar efetivamente da pesquisa e incentivar o aluno a traçar planos para o futuro. Fico honrado em poder orientar a Sarah em um projeto tão promissor e inédito como este”, ressalta.
De acordo com os testes realizados até o atual estágio da pesquisa, o biocurativo é capaz de realizar cicatrizações extremamente rápidas, por exemplo, em até 20 minutos. Mas este tempo varia de acordo com o grau e tipo do ferimento. “Com o biocurativo, pretendemos acelerar ainda mais este processo e garantir a acessibilidade à toda população local e regional”, afirma o professor.
Um início promissor
O Curso de Biomedicina está presente na PUC Minas Poços de Caldas há três anos e, desde o início, a coordenação tem dado uma atenção especial à produção científica por meio da realização de pesquisas que são publicadas em importantes periódicos da área. Sarah, por exemplo, possui 11 publicações indexadas em banco de dados como na Elsevier e em renomadas revistas como a Vaccines, além de outros seis artigos em fase de publicação. “Nós temos uma área na pesquisa em ascensão na Universidade. A partir do momento em que o Curso foi implantado, temos trabalhado com a tríade ensino, pesquisa e extensão”, afirma a coordenadora do Curso de Biomedicina, professora Isabela Bacelar.
Para incentivar a participação dos alunos no desenvolvimento de pesquisas, semanalmente, a coordenação organiza uma reunião com estudantes interessados em ingressar na iniciação científica. O objetivo é apresentar aos discentes as linhas de pesquisa que existem na Universidade e tirar dúvidas que são recorrentes acerca do tema. Uma disciplina de mentoria também é ofertada pelo Curso para os alunos do primeiro período, para já terem o contato com a pesquisa desde o início da graduação.
SAIBA MAIS
Os óleos essenciais são substâncias vegetais voláteis e extremamente concentradas. Eles são extraídos a partir de partes das plantas, como flor, frutos, raízes, por diferentes métodos de extração. Ao serem utilizados por meio de inalação ou ingestão, são absorvidos pela corrente sanguínea e metabolizados pelo corpo. Entenda mais sobre essas substâncias no link, https://revista.pucminas.br/revista/materia/oleos-essenciais-como-alternativa-terapeutica/