Os planos de Deus para o ser humano reservaram-lhe, certamente, uma centralidade inequívoca. Por essa razão, ele foi dotado de inteligência, de afeto e discernimento, mas também recebeu, desde o início, a instrução de que deveria ser capaz de tomar decisões, delas assumindo as consequências.
Infelizmente, como já sabemos, o imenso crescimento tecnológico não tem sido igualmente acompanhado pelo desenvolvimento consciente do ser humano quanto ao seu imprescindível papel no uso responsável das tecnologias. Quanto mais as tecnologias se ampliam, diversificam e se tornam mais complexas, maiores se tornam os desafios éticos no que diz respeito ao desenvolvimento do ser humano e da sociedade em que ele vive.
No último discurso do Papa Francisco aos membros da Pontifícia Academia para a vida, de 20 de fevereiro de 2023, ele recordou que a relação entre pessoa, tecnologias emergentes e bem comum “é uma fronteira delicada na qual se encontram progresso, ética e sociedade, e onde a fé, na sua perene atualidade, pode oferecer um valioso contributo”.
O Papa propôs, em seu discurso, a reflexão sobre três desafios: a mudança das condições de vida do ser humano no mundo tecnológico; o impacto das novas tecnologias na própria definição do que significa ser humano e, consequentemente, de relação, com particular referência à condição dos sujeitos mais vulneráveis; e, por fim, o conceito de conhecimento com as consequências que dele derivam.
Entre os pontos destacados pelo Pontífice, encontra-se o dado de que “a tecnologia não pode suplantar o contato humano, o virtual não pode substituir o real, nem as redes sociais o âmbito social”.
Diante da lúcida reflexão do Papa Francisco, sejamos também nós, em nossa amada PUC Minas, propagadores do humanismo cristão, em que a atenção à tecnologia e a seus benefícios esteja a serviço da pessoa humana, do bem social e da preservação do meio ambiente. Da pessoa humana, a fim de que ela possa crescer em “seu estilo peculiar, desenvolvendo as suas capacidades de inovar a partir dos valores da sua própria cultura” (Fratelli Tutti, 51); do bem social, a fim de que “a distribuição dos recursos e o acesso aos tratamentos beneficiem todos, para que sejam reduzidas as desigualdades e seja garantido o apoio necessário especialmente para os sujeitos mais frágeis, como as pessoas deficientes, doentes e pobres”; do meio ambiente, a fim de que sejamos capazes de alcançar “o desenvolvimento sustentável e integral” (Laudato si, 13).
Por termos nossa identidade e missão baseadas na fé em Jesus Cristo, empenhemo-nos, por meio de nossa competente reflexão e de nosso comprometido testemunho, na construção de um novo horizonte de sentido.