Inclusão e cultura do cuidado

Estudo recentemente publicado mostra que as mulheres dedicam o dobro do tempo dos homens nas chamadas tarefas de cuidado. São tarefas que contemplam dedicação aos filhos, aos familiares idosos e enfermos, à gestão do lar. Elas conciliam, assim, seus desafios profissionais com a imprescindível “cultura do cuidado”, tornando-as mais sobrecarregadas e, não raramente, descartadas pelo mercado de trabalho. Trata-se de mais um sintoma perverso do atual modelo econômico, onde há uma obsessão pela produtividade, criticada pelo Papa Francisco. “Uma pessoa não é um número”, lembra o Pontífice, ao defender mais inclusão das mulheres no mercado de trabalho..

“As sociedades alcançarão patamares de desenvolvimento e qualificação maiores na medida em que mulheres assumirem, sempre mais, protagonismo no mercado de trabalho, como na política e noutros âmbitos”
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Grão-chanceler da PUC Minas,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte.

Naturalmente, não está em questão a eficiência das mulheres, tão ou mais capacitadas que os homens. O desafio é desenvolver uma nova mentalidade, com o auxílio de campanhas educativas e de legislações específicas, capazes de garantir mais inclusão das mulheres nos postos de trabalho, e protagonismo dos homens na cultura do cuidado.

As mulheres já são a principal fonte de renda em mais da metade dos lares brasileiros. E, no universo masculino, ainda é frequente a ideia de que cuidar dos filhos e da casa é responsabilidade da mulher, sobrecarregando-a. Aqueles aprisionados nessa mentalidade não exercem a cultura do cuidado. Perdem precioso tempo que deveria ser ocupado pela oportunidade de expressar afeto, dedicar amoroso zelo e atenção aos seus familiares. E a inclusão das mulheres no mercado de trabalho pede dos homens mais atenção à cultura do cuidado.

No contexto do Dia Internacional da Mulher de 2023, o Papa Francisco agradeceu as mulheres por “fazerem uma sociedade mais humana”. O Pontífice é enfático: “Não se consegue um mundo melhor se não for com a participação das mulheres”. Elas são, conforme o Papa Francisco, capazes de captar a realidade com um olhar criativo e um coração terno. Essas virtudes – criatividade e ternura – precisam ser cada vez mais aprendidas e exercidas pelos homens, para que não sejam engrenagem de um sistema excludente, predatório. Todos, cedo ou tarde, perderão a serventia onde prevalece a obsessão pela produtividade, mas continuarão únicos, valorizados e amados em um contexto emoldurado pela cultura do cuidado.

A inclusão plena das mulheres no mercado de trabalho é de alta relevância em se considerando o desenvolvimento sustentável e humanizado das sociedades. Considere-se a singularidade da contribuição da mulher, com riquezas peculiares, uma mundividência com força de transformação e desenvolvimento integral. As sociedades alcançarão patamares de crescimento e qualificação maiores na medida em que mulheres assumirem, sempre mais, protagonismo no mercado de trabalho, como na política e noutros âmbitos. Nessa direção, pede-se e se deve fomentar muito a corresponsabilidade dos homens com a cultura do cuidado. Somente assim, cada um, na sua singularidade, poderá ajudar a tecer harmonia e paz neste tempo de tantos conflitos, discriminações e adoecimentos.