Clubes de leitura

Iniciativas se reinventam durante a pandemia, com propostas inovadoras e ampliando o seu alcance
Letícia Pimenta, uma das organizadoras do Clube do Livro BH: “Ler não é chato ou solitário, ler é fazer amigos, conhecer novas culturas, desenvolver senso crítico, consciência social e empatia” | Foto: Bruno Timóteo

Há um consenso na sociedade de que as modernas tecnologias de informação criaram inúmeras possibilidades. Uma delas está relacionada à expansão dos clubes de leitura e grupos de estudos por meio de encontros on-line. Os amantes da literatura consideram atraentes as reuniões para discutir sobre um livro e sempre fortaleceram os clubes de leitura, nos quais compartilham impressões, críticas e trocam experiências. No entanto, em função das restrições impostas pela pandemia, muitos tiveram que migrar dos encontros presenciais para o formato on-line, o que gerou novos desafios.

Segundo a professora Luciana Carvalho, do Departamento de Letras Modernas da Universidade de São Paulo (USP), a leitura é uma das fontes de acesso ao conhecimento, à reflexão sobre as experiências e valores pessoais e de se entender a realidade social: “Em momentos de crise, como o cenário pandêmico em que vivemos, ela tem um caráter ainda mais importante, já que é, sobretudo, em épocas como esta que o ser humano tende a se reexaminar e refletir”. Luciana, que coordena dois grupos de estudos e participa de outros dois, destaca que os encontros virtuais ampliaram o alcance dos grupos e clubes, porém o modelo presencial possibilita ir além da leitura, pois as pessoas fazem parte de movimentos sociais e trocam afetos pessoais.

Desafios

Ingrid Silva, livreira responsável pela curadoria e organização do Clube de Leitura do Belas, conta que os encontros virtuais permitiram acesso de pessoas fora da capital mineira | Foto: Bruno Timóteo

A blogueira literária Letícia Pimenta e sua irmã Laila são organizadoras do Clube do Livro BH, criado em 2013. O grupo objetiva, principalmente, estimular a adolescência e a juventude em bairros periféricos a ler e a criar o hábito da leitura. “Ler não é chato ou solitário, ler é fazer amigos, conhecer novas culturas, desenvolver senso crítico, consciência social e empatia”, diz Letícia.

Durante a pandemia, o clube teve que buscar alternativas para manter os encontros e se deparou com algumas dificuldades. Uma delas é a questão da desigualdade social, pois o público-alvo tem pouco ou nenhum acesso à internet. Além disso, no início, a recepção ao novo formato foi lenta. As organizadoras promoveram o contato com os participantes por meio do WhatsApp, por ser uma rede social de fácil acesso, organizando leituras coletivas e bate-papo sobre as experiências com o livro escolhido.

Com o retorno positivo e o limite de pessoas na plataforma, elas optaram também pelo Instagram, incluindo conversas ao vivo, desafios e a inclusão de pessoas de outras cidades. Os leitores da região metropolitana de Belo Horizonte lideram o número de integrantes, mas tem sido comum a presença de pessoas do interior de Minas Gerais, de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Quem precisou se acostumar com o novo formato foram leitores assíduos como Michel Batista, frequentador do clube há mais de seis anos. “Acredito que o modelo virtual veio em sua maioria para facilitar, fico contente de estar com pessoas que não consigo ver no dia a dia por conta da rotina”. Ele prefere ainda o presencial, por causa do contato com as pessoas, a troca de afetos, mas acha possível conciliar os dois: “Os que por algum motivo não podem estar no presencial, poderão sentir um pouco do que nós sentimos naquele espaço”.

Outras experiências

A livreira Ingrid Silva, responsável pela curadoria e organização dos encontros do Clube de Leitura do Belas, ligado à Livraria do Belas, acredita que os grupos contribuem ao aprofundamento de temas importantes e permitem o compartilhamento de sentimentos e sensações entre as pessoas: “Eu percebo que [após os encontros] sai todo mundo um pouco aliviado, feliz, criamos relações e laços”. A proposta do clube é de se ler um livro de não ficção por mês, de preferência de novos autores e de nacionalidades diferentes.

O Clube de Leitura do Belas fez algumas mudanças. Os encontros passaram a ser na plataforma Zoom, com a divulgação de tutoriais que ensinam o acesso e resolvem dúvidas. Criado dentro da livraria, o clube está enviando os livros para qualquer lugar do Brasil, permitindo o acesso de outras pessoas fora da capital. Além disso, com as reuniões virtuais, são convidados autores para os encontros.

A psicóloga de linha cognitivo-comportamental Verônica Xavier acredita que os encontros são uma forma de as pessoas manterem o convívio social, e ter distração e lazer em um momento em que a população está mais tempo dentro de casa, cercada dos problemas e afazeres. “As pessoas têm se sentido mais solitárias, deprimidas e ansiosas. Os clubes de leitura são um meio no qual elas também criam vínculos”.

Ingrid Silva avalia o retorno do clube às atividades presenciais, pois muitas pessoas sentem saudades dos encontros, enquanto outras acham cômodo esse processo no virtual e não querem perder o contato com participantes e autores de outras cidades: “Possivelmente esse clube vai se transformar em mais de um, para ter a possibilidade do presencial e do virtual. Já existia uma vontade de expandir, porque temos uma experiência muito boa com ele”. Pretende-se enviar um formulário aos integrantes com perguntas sobre qual formato eles preferem para depois definir o caminho a seguir.

Na mesma direção, Letícia Pimenta e a irmã preveem mudanças no período do retorno presencial do Clube do Livro BH. “Pretendemos voltar aos encontros presenciais e manter as atividades on-line, investindo no crescimento de nossas redes sociais e nas videoconferências”.

PARA SEGUIR

INSTAGRAM: @LIVRARIA_DO_BELAS


*Alunos do Curso de Jornalismo.
**Reportagem orientada pela professora Ana Maria Rodrigues de Oliveira, da Faculdade de Comunicação e Artes