Das raízes ao prato e à consciência

Projeto de extensão amplia contato de crianças com a natureza e, em especial, com os alimentos
Eduarda e Guilherme foram bolsistas do projeto ao longo de 2022 | Foto: Fernanda Garcia
Eduarda e Guilherme foram bolsistas do projeto ao longo de 2022 | Foto: Fernanda Garcia

Ao passo que as cidades se desenvolvem em um ritmo que não cessa, a experiência de crescer no ambiente urbano afasta cada vez mais a consciência acerca dos processos naturais que propiciam a vida. Para as novas gerações, são raros os momentos em que os pés descalços encostam na terra de onde nasce o alimento que comemos. Já não estamos acostumados a cultivá-lo com as próprias mãos.

Proporcionar a pequenos estudantes do Ensino Fundamental I vivências que os aproximem da natureza e os insiram em debates ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade é o objetivo do projeto de extensão Nosso Espaço: Mãe Terra, do Curso de Engenharia Civil da PUC Minas Poços de Caldas. Ele é fruto de uma série de ações desenvolvidas desde 2019, mas ganhou força em 2022 após a superação da fase mais crítica da pandemia, que permitiu a retomada de atividades presenciais.
O projeto foi criado pelo Professor Daniel Fernandes Novaes Pimenta, cuja formação acadêmica tem se desenvolvido na área de Engenharia Ambiental desde a graduação. O docente contou com dois bolsistas de extensão ao longo do ano, com quem fazia visitas semanais à Escola Municipal João Pinheiro, onde realizavam atividades com um grupo de cerca de 40 alunos com idade entre 8 e 10 anos.

Uma das principais ações desenvolvidas foi a criação de uma horta na escola, em que os alunos passaram a ter contato direto com a terra e puderam acompanhar todas as etapas de produção do alimento. Na merenda, os estudantes chegaram a comer vegetais que eles próprios cultivaram, uma experiência que, segundo o relato das próprias crianças, trouxe lembranças das casas das avós, onde a natureza costuma estar mais próxima.

Irrigar, semear, colher, adubar

Além da horta, o grupo desenvolveu na escola um sistema de coleta de água da chuva e uma composteira, para onde foram, por exemplo, os restos da merenda preparada com alimentos que os alunos plantaram. O Professor Daniel explica que todas essas ações, planejadas após a identificação das necessidades do local, estão fundamentadas em conceitos como a interdisciplinaridade e a ecoalfabetização.

Compreender os processos envolvidos na cadeia produtiva, no controle de pragas e na preparação das refeições contribui, na visão do docente, para o desenvolvimento do olhar científico. “As ciências sempre partiram da observação da natureza, que é fundamental, pois o ensino deve ser integrativo”, defende.

Cada visita à escola durava cerca de duas horas, distribuídas entre atividades práticas e teóricas, ora em ambientes internos, ora na área externa. Manter a atenção de alunos tão novos era um desafio para quem estava acostumado às salas de aula da Universidade. Por isso, Daniel adotava estratégias de sensibilização por meio da arte. Muitos dos encontros começavam com o professor ao violão, tocando músicas na companhia dos pequenos.

Um ciclo de afeto

“As ciências sempre partiram da observação da natureza, que é fundamental, pois o ensino deve ser integrativo” Prof. Daniel Fernandes Novaes | Foto: Fernanda Garcia

O clima leve e acolhedor das atividades levou à construção de um vínculo entre as crianças e os responsáveis pelo projeto de extensão. O Prof. Daniel estava sempre acompanhado pelos alunos Eduarda Brasiliano dos Santos, do 6º período de Engenharia Civil, e Guilherme de Souza Mendes, do 7º período do Curso, que atuaram como bolsistas do Nosso Espaço: Mãe Terra ao longo de 2022.

A interatividade é um dos aspectos que Eduarda destaca ao falar sobre as aulas práticas. As crianças tinham abertura para conversar, tirar dúvidas e brincar, em meio à natureza, com os bolsistas e com o professor. “Acredito que o projeto teve uma grande contribuição e impacto, tanto para as crianças quanto para nós. Superou minhas expectativas”, avalia.

Guilherme ressalta o aprendizado como uma das conquistas desse período. A instalação de equipamentos para coleta de água de chuva contribuiu, por exemplo, para entender a complexidade da construção de um sistema de irrigação automático, uma das ambições do projeto. “O contato com as crianças e a natureza foi incrível. Assim como eu, creio que todos que participaram gostaram muito”, conclui.

O Nosso Espaço: Mãe Terra passa agora por um momento de renovação. Ao passo que reúne em produções acadêmicas o aprendizado acumulado até o momento, o Prof. Daniel planeja dar sequência ao projeto por meio de novos editais. O contato direto com a natureza e a preocupação com a sustentabilidade continuarão nutrindo o docente no desenvolvimento das ações.

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