Viver no Donut

Proposta de modelo econômico ganha espaço em universidades e nas sociedades ao redor do mundo
Para a Profa. Carolina Resende, pró-reitora de Extensão, o Donut Day tem o propósito de ser um dia de reflexão sobre os valores universais | Foto: Nathália Farnetti

Qual a relação entre um modelo econômico alternativo de desenvolvimento sustentável e a rosquinha que é mania nacional nos Estados Unidos? Para a economista inglesa Kate Raworth, da Universidade de Oxford, tem tudo a ver. Afinal, foi ela quem desenvolveu o diagrama em formato de Donut – sim, a famosa sobremesa norte-americana – para indicar que as necessidades humanas devem ser atendidas sem ultrapassar os limites ecológicos da Terra. A esse conceito ela deu o nome de Economia Donut, explicitado em seu livro Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo, de 2017. As discussões sobre o tema vêm ganhando espaço em universidades – como a PUC Minas – e ao redor do mundo, inclusive com a realização de festivais locais reunindo comunidades em torno da temática.

Esse foi o chamado para que pontifícias universidades católicas do país aderissem ao movimento e realizassem atividades em torno da Economia Donut, no chamado Dia Donut Global, que ocorre anualmente nos formatos on-line e presencial. “A PUC Minas foi convidada em função de ter representantes em diversos fóruns relacionados ao desenvolvimento sustentável e novos modelos de Economia, como a Economia de Francisco e Clara. Assumimos, com carinho, a tarefa de preparar os eventos locais, bem como os nacionais”, explica a Profa. Dra. Ester Eliane Jeunon, responsável pela organização pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex). “Todas as atividades puderam exemplificar o compromisso da PUC Minas com as questões sociais e ambientais, além de ser exemplo de diversas ações, tanto no Ensino como na Pesquisa e na Extensão”, disse.

Para a Pró-reitora de Extensão, Profa. Dra. Carolina Resende, o Donut Day tem o propósito de ser um dia festivo, de conscientização, para aprender a refletir e reciclar os argumentos, os conhecimentos acerca dos problemas socioambientais que estamos enfrentando. “É o dia internacional da economia circular, que não prioriza somente o lucro e está atenta à necessidade de cuidar e de regenerar o meio ambiente, as pessoas, a cultura, além de valores universais, como a paz e a cidadania”, pontuou a pró-reitora.

No Brasil, as ações são coordenadas pela comunidade Donut Brasil, criada em 2021. “Somos um dos principais países do Sul Global a fazer parte da comunidade internacional. Queremos contribuir para a cocriação da Economia Donut no Brasil, pois acreditamos que é possível ‘viver no Donut’, ou seja, dentro do espaço ambientalmente seguro e socialmente justo”, explica Mari Regina Anastacio, professora e líder da área de Sustentabilidade da Escola de Negócios da PUC-PR, membro do Movimento Donut Brasil e articuladora do Donut Day e da Economia de Francisco e Clara. “A PUC Minas foi uma das universidades mais engajadas, trazendo e demonstrando na prática alto nível de envolvimento com ações extensionistas atreladas aos princípios da Economia de Francisco e Clara, sendo uma das universidades brasileiras que vem liderando o tema em nosso país. Orgulho termos a adesão da PUC Minas ao Donut Day”, avaliou.

Mestre em Ciências Sociais e integrante do Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara da PUC Minas, Eduardo Brasileiro comenta sobre a ligação entre a Economia Donut, a Economia de Francisco e Clara e a Economia Popular Solidária, entre outras iniciativas. “Essas experiências de novas formas de viver e produzir a economia contribuem diretamente com um olhar sobre como a nossa vida coletiva é organizada. Por isso, a importância do estudo sobre elas, porque geram um novo letramento econômico, em que se organiza a economia para além das relações de mercado. Podemos chamá-las de economias de transição”, explica o sociólogo, em um vídeo gravado especialmente para a divulgação do Dia Donut na PUC Minas. Em entrevista, ele contextualizou as temáticas: “Temos que partir da perspectiva de que elas nascem historicamente da necessidade de fazer a transformação da realidade. Elas nascem de uma insatisfação com o modelo econômico que nos governa há alguns séculos, que é o capitalismo.”

Embora a Economia Donut não seja referida diretamente nas ementas das disciplinas do curso de graduação em Ciências Econômicas, explica o Prof. Dr. Édil Guedes, coordenador do curso na Unidade Praça da Liberdade, ela pode ser abordada em diferentes disciplinas. “Kate Raworth é uma autora contemporânea que tem oferecido importantes contribuições a esse debate, sempre muito atual, sobre a questão da sustentabilidade e sobre os sentidos do desenvolvimento, além de ensejar uma reflexão muito oportuna sobre a natureza da própria Economia como ciência. Ela o faz em constante diálogo com os grandes autores de seu tempo, sempre também revisitando os clássicos do pensamento econômico”, pontua.

Idealizadora da Economia Donut, Kate Raworth cofundou em 2019 o Doughnut Economics Action Lab (Deal), uma organização criada para apoiar agentes de mudança em todo o mundo. A cidade de Amsterdam, na Holanda, por exemplo, foi a primeira no mundo a adotar o Donut como estratégia de desenvolvimento econômico. O Deal, portanto, trata-se de uma plataforma colaborativa e “guardiã” dos princípios da Economia Donut no mundo, sendo a Donut Brasil a principal conexão local com a entidade.

Para Eduardo Brasileiro, novas experiências como a Economia Donut contribuem diretamente com um olhar sobre como a nossa vida coletiva é organizada | Foto: Guilherme Simões

Saiba mais sobre a Economia Donut

A Economia Donut é uma abordagem econômica e social que busca criar um equilíbrio entre as necessidades humanas básicas e os limites ambientais do planeta. É representada como um “donut”, no formato de uma rosquinha, porque a imagem lembra um círculo dentro do outro.

No círculo interno, chamado de base ou “alicerce social”, estão os elementos essenciais para uma vida digna, como acesso a água potável, educação, saúde, alimentos e moradia. O objetivo é garantir que todas as pessoas tenham acesso a essas necessidades básicas. Eles estão alinhados e foram inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), da ONU.

No círculo externo, chamado de “teto ecológico”, estão os limites ambientais do planeta, que incluem a capacidade de absorver emissões de carbono, a biodiversidade, a quantidade de recursos naturais utilizados e outros indicadores ecológicos. O objetivo é garantir que a humanidade não exceda esses limites, evitando danos irreversíveis ao meio ambiente.

Fonte: Instagram Donut Brasil

SAIBA MAIS

Os eventos do Donut Day, na PUC Minas, integraram as comemorações dos 40 anos da Proex e resultaram no plantio de uma muda de Ipê Amarelo, palestras, desafio de rimas, além do lançamento do e-book Construções para a Sustentabilidade II: movimentos e agendas, organizado pela professora Virginia Simão Abuhid, a partir do projeto de extensão Universidade Sustentável